Crítica: Barbie (2023, de Greta Gerwig) |Uma odisseia na cultura pop com mensagem sobre autoconhecimento

Tudo vai bem em Barbielândia, até Barbie (Margot Robbie) começar a entrar em um conflito existencial atrapalhando o equilíbrio da sua vida perfeita no mundo das Barbies. Era apenas isso que os trailers do filme da Barbie nos entregavam. Além disso, somente o fato de que ela e Ken (Ryan Gosling) viajam para o mundo real com o intuito de entenderem o que está acontecendo e resolverem tudo.

Mas, o que recebemos é a viagem mais profunda possível nas características humanas e na reflexão da autodescoberta, sobre saber quem é e sentir orgulhoso disso. Greta Gerwig que assume direção e roteiro com a colaboração do marido Noah Baumbach, aproveitou muito bem o orçamento de mais de 100 milhões de dólares e não foi apenas em tinta cor-de-rosa. Uma das características marcantes de suas obras como Lady Bird: A Hora de Voar (2017) e Adoráveis Mulheres (2019) é a de colocar mulher assumindo o seu lugar de fala, lutando pelos seus direitos, assumindo posições de lideranças entre outros aspectos feministas, portanto não seria diferente com Barbie.

Ela destaca já nos primeiros minutos do longa-metragem que o surgimento da boneca foi uma quebra de paradigma, onde meninas brincavam apenas com bonecas bebês ou com joguinho de chá e de panelas. O que claramente era um ensaio para a vida adulta a qual teriam ou deveriam ter. Eis então, que surge de forma imponente, numa bela homenagem a 2001 – Uma Odisseia No Espaço (1968), a primeira Barbie lançada em 1959. Essa cena foi o primeiro teaser do filme e simplesmente viralizou. E diferente das bonecas bebês, Barbie era uma mulher adulta, bonita, lembrando um pouco as “Miss” da época e com isso trazendo outras perspectivas de sonhos e brincadeiras.

Em contraponto, a Barbie sempre teve os seus problemas, sendo os principais deles os padrões inalcançáveis e o incentivo ao consumo excessivo. Inclusive essa é uma fala de uma das personagens do filme e que gera grande impacto na cabecinha de borboleta da Barbie. Mas, o filme retrata com as variedades de Barbies que a Mattel, fabricante do brinquedo, foi se adaptando às características e necessidades da sociedade e não se mantendo presos à um padrão.

O QUE BARBIE APRESENTA NAS INTERPRETAÇÕES E PARTE TÉCNICA

De fato, Margot Robbie entrega uma verdadeira Barbie, provavelmente o grande papel da vida dela, por mais que cinematograficamente surjam ou já tenham outras personagens que ela tenha se destacado. Além da semelhança física, a caracterização e a interpretação de Robbie são excelentes. Ela entrega uns movimentos de corpo e postura que, às vezes, podem fazer o espectador pensar se não tem CGI. Acredito que em alguns detalhes, devam ter, mas nada que se perceba exagero.

Ryan Gosling é um Ken do jeito que o boneco foi construído e vendido. O boneco que foi feito a partir de Barbie, o inverso de Adão e Eva. Talvez por isso, exista uma crise de personalidade nele, por estar sempre à sombra da Barbie, mas nunca com ela de fato. Quando estão no mundo real é quando ele se sentirá em casa, com homens por toda parte, no controle de praticamente tudo, ocupando os principais cargos de liderança e isso o deixa inspirado a querer fazer o mesmo em Barbielândia. Esse é o momento de destaque de Ryan e dos demais atores interpretando as variantes do Ken. Eles, inclusive, entregam um belo e divertido número musical, no que já sabemos que Ryan é especialista.

Gostaria de destacar a interpretação de America Ferrera como Gloria, ela é a mãe de uma adolescente, Sasha (Ariana Greenblatt), que Barbie pensa ser a sua antiga dona. Mãe e filha desempenham um papel fundamental na narrativa, pois sem elas Barbie se afundaria na crise existencial na qual adentrou. America Ferrera possui um monólogo que me fez ficar boquiaberta sobre como a mulher precisa lidar com as imposições da sociedade e ainda assim ser mulher, no sentido mais feminino que a palavra possa ter. Uma crítica dura e ácida aos padrões sociais criados pela sociedade machista e patriarcal que o próprio filme demonstra existir mesmo que em tons de rosa.

O elenco de apoio traz vários nomes populares como: Dua Lipa, Emma Mackey, Michael Cera, Simu Liu, John Cena, Ncuti Gatwa, Kate McKinnon, que são rostos muito populares em diversas séries e blockbusters dos cinemas. Definitivamente o filme foi pensado e feito para ser sucesso de publico e bilheteria.

MUITAS HOMENAGENS SÃO FEITAS E MERECÍVEIS

Voltando ao feminismo ou melhor dizendo: ao papel da mulher, a homenagem feita à criadora de Barbie é simplesmente magnífica. Ruth Handler (1916 – 2002) criou a boneca inspirada em sua filha Barbara, nitidamente vislumbrando o futuro das mulheres e no qual sua filha viveria. Na expectativa de que o futuro seria mais igualitário, onde as mulheres poderiam ser o que quisessem e estar em todos os lugares. Ruth de fato foi visionária e todo o crédito lhe é dado no filme.

Na verdade, ela é como “Deus” na Barbielândia, a grande criadora que encontra sua criação. As cenas das duas juntas são extremamente emocionantes. Quebra completamente a atmosfera do filme que é majoritariamente composto por boas sacadas e piadas sob medida.

O filme é uma odisseia na cultura pop, repleto de referências e homenagens que vão de O Mágico de Oz, passando pelo O Poderoso Chefão, Orgulho e Preconceito da BBC até Meninas Malvadas, e muito mais. Tem dados momentos que citam N’Sync e outros artistas da música e do cinema. O filme faz gerações se divertirem e se sentirem completamente nostálgicos com a presença de tantos elementos que cresceram com a gente.

Barbie tem até quebra de quarta parede em determinada cena, o filme está bom em um nível para ninguém colocar defeito, até a pessoa mais ranzinza se renderia e diria no mínimo que é bom. Que ele tem alguns clichês, não tem como negar e alguns acontecimentos são previsíveis. Porém, Greta Gerwig abraçou a oportunidade de trabalhar em cima da boneca mais famosa do mundo para levar de reflexões a autoconhecimento como mensagem central. Humanos tem suas peculiaridades, mas isso é o que os torna únicos e, quanto ao autoconhecimento, é sobre de que forma você é único e saber valorizar isso.

Título Original: Barbie

Direção: Greta Gerwig

Duração: 94 minutos

Elenco: Margot Robbie, Ryan Gosling, America Ferrera, Simu Liu, Emma Mackey, Michael Cera, Kate McKinnon, Ariana Greenblat, Nicuti Gatwa, Connor Swindells, Alexandra Shipp, Issa Rae, John Cena, Dua Lipa

Sinopse: Depois de ser expulsa da Barbieland por ser uma boneca de aparência menos do que perfeita, Barbie parte para o mundo humano em busca da verdadeira felicidade.

Trailer:

Me conta, vai assistir Barbie nos cinemas? Quais são as suas expectativas?

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