Crítica: Inside Man (2022, de Paul McGuigan)

A minissérie de quatro episódios, disponível na Netflix, nos traz uma reflexão perturbadora: todos nós somos assassinos em potencial. Leia sobre o que achamos a seguir!

Mas cuidado, contém spoilers!

A produção original da BBC foi criada por Steven Moffat, responsável por Sherlock, de 2010 e não à toa, toda a história tem essa aura de mistério e investigação. A série começa com a apresentação dos personagens, muito diferentes entre si e os ambientes que os mesmos habitam, como se, nem em um milhão de anos eles poderiam de alguma forma interagir, mas adivinhe, o mundo gira e no fim, todos acabam participando da peculiar história.

Conhecemos Grieff (Stanley Tucci), um detento que está preso por ter assassinado a esposa, e o mesmo é responsável por nos trazer esse questionamento sobre a moralidade distorcida que carregamos, onde, segundo ele, apenas um mau dia é o suficiente para que uma pessoa normal, assim como nós, se transforme em um assassino em potencial. Stanley nos apresenta um personagem resignado com sua culpa e, já estando no corredor da morte, aceita seu destino como certo, já que admite que o merece, mas por ser um conhecido criminologista, seus talentos ainda são requisitados por pessoas que vão até a prisão para pedir sua ajuda. E é em uma dessas “consultorias” que ele acaba conhecendo a jornalista Beth, mas chegaremos lá.

Em uma outra esfera, vive o Pastor Harry (David Tennant) com sua vida tranquila ao lado da esposa Mary (Lyndsey Marshal) e seu filho adolescente, quando, adivinhem só, ele passa a ter um dia ruim.

Quando assemelhamos os personagens, a principio, nenhum deles estaria na mesma dinâmica, já que Grieff decapitou a própria esposa enquanto Harry acaba caindo numa cilada criada – inocentemente – por ele mesmo ao tentar ajudar um rapaz de sua igreja, que acaba se descobrindo ser um pedófilo e no meio dessa história, que por si só já estaria complicada, as suspeitas acabam caindo sobre seu filho quando a professora de matemática Janice (Dolly Wells) acha as perturbadoras imagens e acredita ser do garoto, e é aí que ela comete um erro que pode custar sua vida.

Algo que Janice também não sabia é, que ao ajudar uma desconhecida, ela acaba salvando sua própria vida, já que essa moça era a jornalista investigativa Beth Davenport, que ao descobrir a história de Grieff e como ele “ajudava” as pessoas – de certa forma – acaba indo entrevistá-lo e no meio do caminho, descobre que algo aconteceu com sua amiga, apesar de não ter provas o suficiente.

Agora que já conhecemos todos os lados da moeda, podemos falar abertamente sobre o conceito proposto pela série, que ao meu ver é extremamente interessante e sim, perturbadora porque de fato é uma verdade, e isso é o que Grieff acredita e comenta quase que em todos os episódios. Sua visão como criminologista lhe dá uma visão mais preta no branco da situação mas, no fundo, não deixa de estar certo. Como “prova” disso, a minissérie nos leva para Harry e Janice, que em um impulso, acaba mantendo a professora refém para tentar descobrir como resolver a situação, que vai se degradando mais e mais a cada minuto.

Janice é uma personagem que me surpreendeu, afinal tínhamos uma certa imagem da mulher mas quando colocada contra a parede, se porta de uma forma inteligente e manipuladora, afim de preservar sua vida. Jogando deliberadamente com as emoções de Harry e Mary.

Outra personagem que também precisa ser mencionado é Mary, interpretada de forma brilhante por Lyndsey Marshal, profunda em suas emoções e medos, sem deixar que os mesmos a ceguem. Particularmente eu esperava um outro tipo de reação de ambas, mas foi certeiro a escolha do roteiro em que vítima e algoz acabam descobrindo o jogo uma da outra, criando tensão e angústia a cada episódio.

E em outra vertente temos Harry e Grieff, que tinham vidas normais e acabam quase que na mesma situação, já que por sorte ou não, Janice não acaba morta, mas teria sido se não fosse a busca incessante de Beth? Harry teria sua consciência tão culpada a ponto de soltá-la apesar das consequências que viriam? No fundo acredito que Harry eventualmente acabaria matando-a, fosse por escolha ou por mais um acidente de escolhas, ou até mesmo sendo convencido por sua esposa à fazê-lo.

Por fim eu diria que a série nos mostra como a moralidade pode ser distorcida quando damos ênfase no amor, assim como Harry diz fazer o que fez para “salvar” o filho de suas sucessões de erros. Talvez ele fosse capaz de algo mais extremo, por outro lado, não sabemos o motivo do porque Grieff fez o que fez e acredito que isso seja irrelevante à história. Assim como o próprio nome da minissérie já nos traz, Inside Man, numa tradução livre, seria Dentro do Homem, dentro de nós mesmos, onde residem vontades e escolhas referentes a situações vividas, das quais podem nos levar a caminhos desconhecidos.

Título Original: Inside Man

Episódios: 4

Duração: 60 minutos aproximadamente

Elenco: Stanley Tucci, David Tennant, Dolly Wells, Lydia West, Lyndsey Marshal, Dylan Baker, Atkins Estimond, Kate Dickie

Sinopse: Um prisioneiro americano que está no corredor da morte e resolve mistérios para passar o tempo ajuda uma jornalista britânica a procurar uma amiga desaparecida.

Trailer:

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