Crítica: Coisas do Amor (2023, de Anika Decker)

Coisas do Amor é, sem dúvidas, uma surpresa revigorante. Dois atores, duas realidades completamente opostas. De um lado, Marvin Bosch (Elyas M’Barek), o astro de cinema que muitos apenas sonham em ser ou conhecer, participando de grandes eventos, adorado pelas câmeras e por fãs ávidos e apaixonados; de outro, Frieda (Lucie Heinze), que vê seu teatro a um passo de fechar as portas. Se essa história, em um primeiro momento, pode parecer prestes a desembocar em um grande clichê hollywoodiano, já nos primeiros minutos se mostra muito mais profunda e sensível, fugindo de qualquer lugar comum esperado.

Na tentativa de despistar a jornalista Bettina Bamberger (Alexandra Maria Lara), que não mede esforços para distorcer qualquer fato ou tocar em qualquer ferida para conseguir manchetes escandalosas, Marvin se vê refugiado no teatro de Frieda, que trabalha em busca de soluções para manter o lugar funcionando. Com um roteiro muito bem construído, uma direção que transporta o espectador para o universo particular das personagens e uma direção de fotografia extremamente convidativa, o longa entrega uma história não apenas sobre amor, mas autodescoberta, desconstrução, preço da fama e limites éticos de um jornalismo sensacionalista.

Em um mundo onde “quanto mais podre melhor”, “cada relacionamento, cada segredo, vem a conhecimento público” para entreter o público e nada mais pertence à pessoa no centro do holofote, o filme aborda discussões relevantes entrepondo momento cômicos e dramáticos de forma orgânica e sagaz. Talvez um problema que a narrativa tenha enfrentado, no entanto, é de se propor a debater mais questões do que conseguem em apenas um filme. Temas como o feminismo, a representatividade LGBTQIA+ e a infância com um pai abusivo e dependente de álcool foram apenas pinceladas e abandonadas, deixando um gostinho de “quero mais”.

As atuações são repletas de nuances por parte, não apenas dos protagonistas, mas do elenco como um todo. As personagens são pessoas reais com seus defeitos e qualidades e nenhum deles pode ser resumido a uma definição dicotômica de bem ou mal. Até mesmo no caso de Bettina a atriz consegue transmitir de modo eficaz, mesmo em poucos segundos, o suficiente para o público inferir o que moldou a personagem e a levou a agir dessa forma.

Para quem gosta de comédias românticas e filmes com reflexões interessantes, Coisas do Amor é uma boa opção para fugir um pouco das opções hollywoodianas e conhecer o cinema alemão. Só é importante ressaltar que o a cultura e linguagem cinematográfica do país de origem do filme devem ser levadas em consideração. Diferente de um longa estadunidense, o humor aqui se apresenta de forma mais ácida e discreta, o que para um espectador menos atento pode ser percebido de forma literal. A conclusão também não busca responder todas as questões levantadas ao longo do enredo, deixando para o público pensar em como elas seriam respondidas, ou se seriam respondidas de alguma forma, no mundo em que vivemos.

Título Original: Liebesdings

Direção: Anika Decker

Duração: 99 minutos

Elenco: Elyas M’Barek, Lucie Heinze, Peri Baumeister, Alexandra Maria Lara, Denis Moschitto, Linda Pöppel, Lucas Reiber e Rick Kavanian

Sinopse: Todos aguardam ansiosamente a presença do grande astro do cinema alemão, Marvin Bosch, no tapete vermelho de seu novo filme. O que seus fãs, agente e imprensa não esperam é que a estrela da noite não apareça. Fugindo dos escrutínio de todos após uma entrevista tirada completamente de contexto, Marvin acaba encontrando refúgio no teatro feminista independente “3000”, dirigido por Frieda, e à beira da falência. Com vidas completamente opostas e uma jornalista ávida por uma história promissora enterrada há anos, será que os dois serão capazes de salvar a reputação, o teatro e ainda encontrar o amor?

Trailer:

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