Crítica: Blonde (2022, de Andrew Dominik) | Estreia mais aguardada da Netflix sobre a vida de Marilyn Monroe, chega cercado de polêmicas

O longa-metragem escrito e dirigido por Andrew Dominik (diretor em O Homem da Máfia, 2012) já era aclamado anos antes de sua estreia fatídica na Netflix, simplesmente por se tratar de mais uma biografia de Monroe, por ser uma adaptação do livro de Joyce Carol Oates com mesmo título Blonde, mas o principal: por trazer no papel de protagonista, Ana de Armas (007 – Sem Tempo Para Morrer, 2021), que em suas primeiras aparições como o grande ícone pop Marilyn Monroe já causou um frenesi nas mídias de modo geral, devido a impressionante semelhança com a atriz.

Mas, vale destacar que tanto esta obra quanto o livro, não são uma biografia oficial da vida de Marylin, trata-se de uma ficção com alguns elementos ou momentos reais. É importante frisar isso, devido aos recortes escolhidos e apresentados pelo diretor e roteirista no filme, que provavelmente foi seu maior erro e o que faz o filme ir de mal a pior.    

Antes de apontar as falhas, vamos destacar os pontos positivos que apesar de tudo, existem sim pontos altos. O maior deles é a atuação de Ana de Armas, muito além da beleza e da sensualidade da atriz tão destacadas no filme, o que se sobressai sem sombra de dúvidas é a sua entrega à personagem. Ana se apresenta realmente como Marylin, desde a caracterização, passando pelos trejeitos até chegar ao tom e o ritmo da voz e do jeito de falar da própria Marylin. Parece que a atriz incorpora a outra de tão impressionante que fica, realmente uma atuação espetacular e eu diria que no mínimo digna de indicação ao Oscar.

Outro ponto espetacular do filme e que facilmente poderia receber uma indicação ao Oscar é a fotografia que fica à cargo de Chase Irving, chama a atenção porque em seu currículo o diretor de fotografia carrega muitos clipes e curtas-metragens, mas mesmo em um longa, ele mostra que é capaz de entregar um trabalho majestosamente belo. O mais impressionante de tudo é a reprodução de momentos icônicos da vida de Marilyn, registrados em fotos ganhando movimentos nesse longa-metragem. Na minha opinião, esse é o auge do filme e também muito emocionante, pois com a junção da trilha-sonora, somos levados a uma atmosfera de nostalgia.  Esse efeito se prolonga ao longo do filme com a tela hora em formato 4:3 e hora também em preto e branco, nos transportando também para o passado, tempo esse em que viveu a própria Marilyn. 

Para abordar os defeitos do longa-metragem, vamos voltar ao início. Pois bem, ao longo de suas duas horas e quarenta e seis minutos, apenas em alguns minutos o diretor retrata a infância triste e perturbada de Marilyn, resumindo-a a incidentes traumáticos e o pior de tudo: o abandono por parte da mãe. Pois a figura do pai, se restringe a uma fotografia na parede e uma ilusão.

Logo tem um salto no tempo e ela já aparece como uma jovem modelando para revistas e publicidades. Porém, ainda como Norma Jeane, a figura de cabelos platinados e trajes ainda mais sensuais só aparece depois que ela se consolida como atriz em Hollywood. Esse inclusive é um momento em que as coisas já começam a ficar pesadas no aspecto da hiper sexualização do filme, pois afirmam a teoria da conspiração de que ela teria passado pelo famoso “teste do sofá” e que por isso teria ganhado sua vaga em Hollywood.

Depois disso é ladeira a baixo, tem cenas de sexo a três, ela fica nua em diversos momentos, mas a pior delas e a mais desnecessária é a cena quase explícita de sexo oral com o Presidente (Caspar Phillipson). O que parece é que depois do boom de Cinquenta Tons de Cinza (2015) e 365 Dias (2020), surgem filmes que tem um apelo sexual maior e uma grande recepção do público. Isso acaba por se tornar uma tendência, já que torna um produto rentável, mas é diferente quando falamos de uma obra inteiramente ficcional e uma obra que apesar de ser em uma sua maior parte ficção, está retratando a vida de uma figura que foi real e é muito marcante até os dias de hoje.  

O que prejudica ainda mais essa produção são as declarações polêmicas feitas pelo diretor e roteirista Andrew Dominik, como: “Ninguém assiste aos filmes de Marilyn”, “Ela é apenas uma coisa cultural” e que os filmes dela eram de “P**as bem vestidas” e a impressão que Blonde deixa é que Dominik reproduziu seus discursos preconceituosos no filme, deu um toque totalmente pessoal projetando uma Marilyn como: objeto sexual e ao mesmo tempo fragilizada psicologicamente que encontrava seu alicerce em homens, que no filme ela os chama de “papai” sugerindo que ela buscaria em outros homens a figura paterna que não teve, mas com conotação sexual, o que é perturbador de tão bizarro.   

O restante do elenco, apesar de tudo, é muito bem escalado como Xavier Samuel (Eclipse, 2010) como Cass Chaplin Bobby e Evan Willians (Sintonizados no Amor, 2020) como Eddy Robinson Jr. (eles são apresentados como amigos que cultivam um poliamor), Bobby Cannavale (Homem-Formiga, 2015), outro marido de Marilyn com quem aparentemente teve um relacionamento conturbado e abusivo e Adrien Brody (O Pianista, 2002) como o dramaturgo que foi o último marido de Marilyn. Entretanto, ambas as relações, são pouco aprofundadas e apresentadas de forma rasa e superficial, destacando apenas esses momentos pautados em polêmicas.

Concluindo, colocamos muita expectativa em cima desse longa-metragem, mas o mínimo que se esperava era um pouco mais de empatia e sensibilidade com uma personalidade tão icônica e que já teve uma vida tão cercada de polêmicas que no final das contas; nunca saberemos o que foi ou não de verdade. Mas, o que não dá para aceitar é: resumir uma pessoa a isso, ainda mais assim com essa vulgaridade que no final das contas coloca a intérprete Ana de Armas passando pelo mesmo desrespeito que Marilyn passou.

Título Original: Blonde

Direção: Andrew Dominik

Duração: 166 minutos

Elenco: Ana de Armas, Adrien Brody, Sara Paxton, Bobby Cannavale, Xavier Samuel, Caspar Phillipson, Evan Willians, Julianne Nicholson

Sinopse: Após uma infância traumática, Norma Jeane Mortenson (Ana de Armas) tornou-se atriz, na Hollywood dos anos 1950 e início dos anos 1960. Ela se transformou em uma figura mundialmente famosa, sob o nome artístico de Marilyn Monroe. Todavia, por trás dos holofotes da fama, a atriz vivia guerras pessoais, e suas aparições na tela contrastam fortemente com os problemas de amor, exploração, abuso de poder e dependência de drogas que ela enfrentava em sua vida privada. Blonde reimagina corajosamente a vida de um dos símbolos mais duradouros de Hollywood, de sua infância volátil como Norma Jeane, até sua ascensão ao estrelato e envolvimentos românticos, o longa se apresenta como uma especulação da vida da sex symbol, atriz e modelo. Uma história reimaginada da vida privada de Monroe, o filme é um retrato fictício da vida do ícone da década de 1950 e 60, contado através das lentes modernas da cultura das celebridades. Baseado no livro homônimo de Joyce Carol Oates.

Trailer:

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