Análise: Obi-Wan Kenobi (2022, de Deborah Chow)

Acredito que eu nem precisava dizer isso, mas em todo caso, sim, você precisa assistir pelo menos três filmes antes de ver a série, porque a essência da série é baseada nessa primeira trilogia, por assim dizer, que são: Star Wars Episódio I: A Ameaça Fantasma; Star Wars Episódio II: Ataque dos Clones e por fim, Star Wars Episódio III: A Vingança dos Sith.

Os filmes são a base de toda a série, assim como para entender melhor algumas conversas e situações implicadas no roteiro. Sem mais delongas, vamos a nossa análise.

Devo dizer que todo o universo Star Wars tem todo um conceito nostálgico e único entre os fãs. Eu mesma fiquei ansiosa e receosa quando foi anunciada a série com personagens tão icônicos. Mesmo após alguns sucessos e fracassos da franquia, é inegável seu alcance e apelo emocional, mesmo após tantos anos.

A série não tem seus melhores episódios ao meu ver e, lendo algumas coisas pela internet, muita gente ficou desgostosa, o que já era de se esperar. Ewan McGregor envelhece como um vinho, e parece nunca ter saído do personagem, porém os acontecimentos de A Vingança dos Sith deixaram marcas profundas e agora, dez anos depois, ele vive escondido e com medo. Observando de longe os acontecimentos sem nunca se envolver.

A Vingança dos Sith

O roteiro peca em diversas situações, principalmente nas ambientações dos personagens. Obi-Wan permanece em Tatooine para proteger Luke, mas nunca chegou perto o suficiente, já que seu irmão não permite contato, o que não justifica sua presença ali. Ao passo que o mesmo se tornou fraco e parece não acreditar mais na Força. Outro ponto negativo é a introdução de novos personagens interagindo com os personagens “clássicos” da trilogia. Ao meu ver, a Terceira Irmã (Moses Ingram) é muito mais a antagonista da história do que o próprio Vader, mas suas aparições acabam sendo forçadas e em determinadas situações, sua astúcia contra o Jedi beiram o impossível. É quase como se ela pudesse adivinhar seus passos e estar em dois lugares ao mesmo tempo, o que acaba deixando a série morna e até previsível.

Ao tentar se recuperar aos trancos e barrancos, temos algumas lutas interessantes dentro da série, não só físicas, mas psicologicamente falando. A primeira de todas, obviamente, é a de Obi-Wan ter que sair de sua caverna e ajudar a encontrar a Princesa Leia, que foi sequestrada. Vivida impecavelmente por Vivien Lyra Blair, que acho ter sido o único ponto positivo desde o inicio. Obi-Wan precisa seguir atrás de pistas e nesse caminho, acaba trilhando sua volta a um mundo que ele havia abandonado. Revivendo lembranças e construindo novas, ele acaba restaurando sua fé e reacendendo a força Jedi à muito esquecida.

Não vou perder tempo falando sobre os outros Inquisidores porque seus personagens são tão descartáveis e superficiais, que não necessitam de grandes explicações. A única com destaque é a Terceira Irmã. Sua obsessão em encontrar Obi-Wan a princípio me pareceu uma forma dela subir na hierarquia e ser bem-quista pelo Lorde Vader. Porém, conforme nos aproximamos do fim, percebemos que suas atitudes tem todo um contexto oculto, de vingança e redenção. Sua personagem acaba se tornando muito mais interessante quando sabemos o motivo de sua luta. A mesma esteve presente no fatídico dia em que a Ordem 66 foi acionada. Sendo talvez o momento mais trágico de toda a história Star Wars e assim, conseguimos entender toda a sua fúria e o ódio que a personagem transborda.

Antes de chegar ao ponto principal da história que é a luta entre Vader e Obi-Wan, precisamos voltar lá atrás, no primeiro filme, quando Qui-Gon (Lian Neelson) encontra um garotinho chamado Anakin Skywalker e se encanta ao saber que a Força é forte nele. Porém, a criança já com seus dez anos de idade, não poderia ser treinada, o próprio Mestre Yoda é bem enfático nessa parte, mas acaba-se dando o braço a torcer com a insistência de Qui-Gon, que estava convencido que a criança era a escolhida.

“O medo leva à raiva, a raiva leva ao ódio e o ódio leva ao sofrimento.”

Mestre Yoda

Pode parecer cruel, mas não é à toa que as crianças sensíveis a força são treinadas longe de suas famílias, afinal o Jedi não pode ser levado por suas emoções, mas sim pela razão. As emoções nos cegam, o que é contra os ensinamentos Jedi. Logo quando Qui-Gon decide treinar Anakin, ele já é uma criança crescida, cheia de emoções de raiva, já que ele era um escravo, apegado a sua mãe, um laço que nunca foi cortado completamente. Fica nítido quando ele começa a sonhar com ela e volta a sua Tatooine, descobrindo que ela havia sido levada pelo povo da areia. Em sua loucura, cego pela raiva, e se sentindo responsável pela sua morte, ele massacra toda a aldeia, sendo o primeiro sinal de que não era o Jedi que deveria ser.

Seu personagem inclusive sempre demonstrou ser diferente dos outros, não só pela sua força mas também pelo seu descontrole em relação a determinadas situações que envolviam sentimentos contraditórios. De certa forma, acredito que Obi-Wan tenha sido conivente e até mesmo deixou certas coisas acontecerem como se não soubesse delas, como o casamento de Anakin com Padmé (Natalie Portman). Mas no meio disso tudo, sempre observador estava o Lord Sidios ou Palpatine (Ian McDiarmid) que ao meu ver, é o melhor vilão da cultura pop. Paciente, manipulador e extremamente inteligente, ele foi capaz de perceber as contradições em Anakin e trabalhar elas à favor do lado negro. Afinal o lado negro é sedutor, não há dúvidas, mas cobra um preço alto.

Darth Vader (Hayden Christensen) não está nem aí para o Império, essa é a verdade. Ele só se importa com sua vingança pessoal, tanto que, na série, quando eles tem a chance de ir atrás dos rebeldes, ele os ignora para seguir a nave em que Obi-Wan está.

O único episódio que valeu a série toda inclusive, foi esse encontro, onde finalmente eles podem confrontar seus medos e arrependimentos. Fica nítido que Darth Vader quer a todo custo mostrar o quanto é melhor que seu mestre, que, mesmo em luta, ele ainda o chama de Mestre. Obi-Wan passou dez anos achando que tinha matado seu padawan e melhor amigo, quando na verdade, ele estava vivo. Outro ponto que observamos nessa conversa é que, finalmente Obi-Wan entende que Anakin está de fato morto, mas não foi ele que o matou, mas sim o lado negro. Em A Vingança dos Sith, Anakin já havia se corrompido, sendo ele o principal responsável pela Ordem 66 ter dado tão certo. Foi ele quem entrou nas instalações Jedi e matou todos aqueles sensíveis à força, inclusive as crianças, das quais a Terceira Irmã foi a única sobrevivente.

Temos toda uma construção nessa luta, já que no terceiro filme, Anakin perde por estar em desvantagem, em solo baixo, quando Obi-Wan está em cima, aqui é o contrário. Obi-Wan está a baixo dele, e mesmo quando ele acha que finalmente venceu seu mestre, o Jedi encontra forças naqueles que precisam dele e por aqueles que ele ama. Quando o capacete de Vader quebra é o momento crucial para toda a história, ver quem ele se transformou faz finalmente Obi-Wan entender que é tarde demais. Todos os anos de luto e sofrimento acabam ali, tanto que finalmente ele consegue encontrar seu mestre, Qui-Gon, que disse sempre estar ali, mas que ele não estava pronto para vê-lo, enquanto Vader continua a remoer seu ódio por anos.

Por fim, diria que a série falha na construção de personagens, mas se salva nos 45 do segundo tempo, no fim não acho que a série tenha tanto peso quando comparada com Rogue One por exemplo, quando colocamos num ponto de vista de “explicar” as passagens de tempo entre as trilogias, mas foi mais um fandom mal elaborado.

Título Original: Obi-Wan Kenobi

Direção: Debora Chow

Episódios: 6

Duração: de 30 minutos a 60 minutos

Elenco: Ewan McGregor, Moses Ingram, Hayden Christensen, Indira Varma, Vivien Lyra Blair, Joel Edgerton, Kumail Nanjiani, O’Shea Jackson Jr, Simone Kessell, Jimmy Smits

Sinopse: O Mestre Jedi Obi-Wan Kenobi lida com as consequências de seu pior fracasso: a queda e corrupção de seu aprendiz e amigo, Anakin Skywalker, que foi para o lado sombrio como o Lord Sith Darth Vader.

TRAILER:

QUE A FORÇA ESTEJA COM VOCÊ!

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