Crítica: Aparências (2022, de Marc Fitoussi)

Dirigido pelo cineasta francês Marc Fitoussi (Dix pour Cent – Netflix), o longa Aparências se vende como um thriller psicológico e é baseado no livro Traição (Tradução Brasileira: Editora Record), da autora sueca Karin Alvtegen, conhecida por romances de ficção criminal. Sua estreia no Brasil está prevista para o dia 15 de Julho de 2022 nas plataformas digitais Claro TV+, Apple TV, Vivo Play, Google Play e YouTube. Mas o que esperar do filme?

DESCONEXÕES EXPLÍCITAS

De antemão é preciso frisar que a sinopse por si só é contraditória ao produto cinematográfico apresentado. Diz: Èvi (Karin Viard) e Henri (Benjamin Biolay) parecem ser o casal perfeito da alta sociedade até que ela descobre uma traição do marido (…) Parecem ser o casal perfeito? Pois bem, é desanimador concluir em poucos minutos de filme que, ao contrário do que se divulga, não são nem de longe um casal perfeito – perfeito para quem? Eles sequer disfarçam na frente dos outros, nas sequências iniciais (PRIMORDIAIS) que são personagens deslocados das conversas fúteis de um jantar social. Sentam-se distantes, sem conexão, não interagem; o homem foge os olhos da mulher enquanto os sorridentes colegas cultos dialogam sobre trivialidades de queijo. Eles são incapazes de perceber a tensão entre o casal perfeito? Isso torna a sinopse questionável. Não ficou claro. Ou eles são vistos assim ou não são! Se o roteiro não os apresenta assim, os dez primeiros minutos cruciais sugerem uma sinopse diferente e, portanto, um filme diferente.

Continuando na sinopse: “(…) em um impulso vingativo, ela passa a noite com um jovem que começa a persegui-la. Agora ela fará de tudo para manter o controle e manter as aparências.

Ótimo, temos uma excelente premissa, e a desconexão contínua. Essa tal zona de conforto que a protagonista irá se “esforçar insanamente” (só que não) para continuar é conduzida por enquadramentos que acompanham o ponto de vista das personagens ditas perfeitas, e não pela “alta sociedade” que assim os julga. Isso é fraco, porque o filme tenta nos contar uma história ao invés de mostrá-la, nos persuadindo a crer lá no fundo de nossas mentes espectadoras a impressão da perfeição que eles teoricamente causam em seus universos. Não é porque as pessoas sorriem para eles que eles são vistos como perfeitos, não é porque eles dizem que estão felizes que nós somos bobos de acreditar. Fica muito expositivo.

Ève está apaixonada pelo marido, mas ele não a ama. Isso é claro desde o início. Depois de 15 minutos de filme ele finalmente a trata com um esporádico carinho na sua festa de aniversário e eles assumem então o papel de fachada, mas aí já não é mais tempo disso. A justificativa que ela deu para a mãe sobre a tensão do marido na sequência inicial é devido a tão esperada apresentação do concerto que lhe deixa aos nervos, pois Henri trabalha como maestro. De todo modo, mesmo que a personagem tente demonstrar que acredita nisso, nós do outro lado da tela somos apenas observadores frios, que julgam a cronologia dos fatos; isto é, sendo essa uma obra que se propõe a ser linear.

QUANDO ELA DESCOBRE A TRAIÇÃO – O “SUSPENSE”.

A descoberta da traição acontece sem esforço nenhum, de modo previsível, como se o marido quisesse muito que ela descobrisse e não tomasse nenhum cuidado com suas redes sociais.

Ela conhece o rapaz no bar e eles vão para um motel deitar de conchinha.

Começam os devaneios do rapaz stalker. Os planos-sequência acompanhando ele indo atrás dela não causam nenhuma espécie de impacto. A trilha de fundo torna toda a composição ainda mais incoerente, sem suspense, sem carisma. Super poético e sem nenhum resquício de ansiedade. Seria interessante se pudéssemos chamar ao menos de suspense dramático, com o elemento principal desse dilema stalker, com vicarious suspense alertando um perigo que a protagonista não consegue ver, apenas a gente; mas é puramente drama numa montagem de takes inocentes, recheados de diálogos sem alma narrativa.

O filme ameaça ficar interessante na exata cena em que ela percebe a presença do seu perseguidor (até aí não temos spoiler, é simplesmente algo que a própria sinopse diz), no entanto tudo se perde rapidamente, sem progressão nenhuma do ponto de vista da personagem que demonstra ações pouco significativas para quem supostamente está sendo seguida; até o momento em que chega num clímax muito abrupto, feito uma recompensa de um tesouro que não foi calculado primorosamente nas sequências anteriores, isto é: injustificável.

Por mais absurdo que possa parecer, os atores fazem um bom papel. Não os culpemos pelo fiasco. Dentro das limitações cumprem os papéis de inverossímeis personagens dentro de um arco. Mas nada além que isso, infelizmente.

Título Original: Les Apparences

Direção: Marc Fitoussi

Duração: 150 minutos

Elenco: Lucas Englander, Karin Viard, Pascale Arbillot, Benjamin Iolay, Laetitia Dosch, Michael Edlinger

Sinopse: Èvi e Henri parecem ser o casal perfeito da alta sociedade até que ela descobre uma traição do marido. Em um impulso vingativo, ela passa a noite com um jovem que começa a persegui-la. Agora ela fará de tudo para manter o controle e manter as aparências.

Trailer:

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