Crítica: Elvis (2022, de Baz Luhrmann)

Chega aos cinemas uma das biografias mais aguardadas e interessantes, trata-se de Elvis (interpretado por Austin Butler), o astro que é considerado o Rei do Rock, conhecido por uma voz marcante e um ritmo frenético. Agora ele ganha às telonas, mas pelo ponto de vista de seu empresário Tom Parker, interpretado por Tom Hanks.

No longa-metragem seremos apresentados a um Elvis ainda menino, mas que já enfrenta turbulências ao ter seu pai preso por fraude. Eles se mudam para o Memphis no Tennessee, aparentemente um lugar mais simples, porém rico em ritmos e influências da cultura afro, o que brilhantemente destaca-se como a verdadeira raiz e influência na vida e na carreira do cantor.

A RESPONSABILIDADE SOCIAL ATRAVÉS DA OBRA AUDIOVISUAL

Foi inteligente a decisão de Baz Luhrmann (O Grande Gatsby, 2013) diretor e roteirista, junto de Sam Bromell e Craig Pearce (também colaboradores em O Grande Gatsby) no roteiro, ao mostrar esse Elvis pouco conhecido pelo público, pois o cantor teve sua ascensão em um país completamente racista e segregador, mas sendo ele um homem branco e se apresentando com um ritmo novo, dançante e marcante, acabou levando os créditos quando na verdade trata-se de Rythm and Blues e o Gospel, ritmos originariamente negros.

Recentemente, inclusive, com a morte de Chuck Berry em março de 2017, foi levantada novamente essa discussão sobre quem seria o verdadeiro “Pai” ou “Rei do Rock”, pois o cantor negro que se destacou, mais ou menos, no mesmo período que Elvis, não teve o mesmo reconhecimento, ao menos na época, por sua originalidade e novidade ao apresentar um novo estilo musical que revolucionaria a música com o que conhecemos hoje em dia por Rock and Roll

Portanto, quando chega às telonas um filme que quebra esse paradigma de um homem branco que levou créditos por um estilo musical originariamente negro, é obrigação esclarecer que Elvis não foi o precursor do estilo musical.

O filme destaca ainda que mesmo a música sendo apresentada por Elvis, ela ainda não era bem aceita por ser considerada vulgar e rebelde, com letras afrontosas, dancinhas sensuais e o seu famoso gingado pélvico, o que deixava principalmente as mulheres enlouquecidas, em um país que além de tudo era ultraconservador.   

Os roteiristas dividem a vida de Elvis numa linha do tempo bem clara, depois de sua infância e suas influências, dão um salto no tempo começando pela década de 50, quando o cantor começa a se apresentar pelo país e tem uma rápida progressão artística. Mas devido ao seu estilo de cantar e dançar, em pouco tempo ele acaba sendo censurado, precisando decidir entre ser preso ou servir ao exército na Alemanha. 

No período em que esteve no exército, já adentrando a década de 60, Elvis conhece Priscila (Olivia DeJonge), em resumo o grande amor de sua vida. Ainda na década de 60, quando retorna para os Estados Unidos, Presley retoma sua carreira artística agora como astro de Hollywood, sendo um dos artistas mais bem pagos na época.  

Porém não adianta, a música era sua grande paixão e devoção, com o apoio ou talvez ilusão de seu empresário Tom Parker (Hanks), Elvis retorna aos palcos, agora com um suporte e visibilidade ainda maior adquirido pela TV, tornando-se um cantor mundialmente famoso. Com toda a fama, é quando surgem os maiores conflitos e dramas de sua vida; como o golpe aplicado pelo seu empresário, que certamente foi a motivação da sua decadência, até culminar no fim de sua vida.  

AS INTERPRETAÇÕES QUE SÃO UM ESPETÁCULO À PARTE

Parece que sempre falamos a mesma coisa quando o assunto é uma boa interpretação de determinado ator, mas nesse caso, a atuação de Austin Butler realmente é um espetáculo, pois ele coloca em cheque a nossa dúvida de: “é um ator fazendo o Elvis ou estou vendo o próprio Elvis em cena?”

O mundo conheceu Austin Butler em séries adolescentes americanas como O Diário de Carrie (2013), um pouco antes em filmes como Pequenos Invasores (2009) ou A Fabulosa Aventura de Sharpay (2011), mas foi em Era uma Vez em Hollywood (2019) que Butler ganhou um real destaque interpretando Tex, um dos integrantes do bando de Manson que na vida real invadiram a casa de Sharon Tate e a mataram (essa ocorrência histórica aparece no filme de forma diferenciada), mas que no longa de Tarantino eles entram na casa de Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) e se dão muito mal.

Austin em Era uma Vez em Hollywood apresenta outras camadas de suas interpretações, foi um trabalho que o revelou para o mundo e vem abrindo diversas portas, afinal o filme recebeu algumas indicações ao Oscar e depois disso ele já foi escalado tanto para Elvis como em breve para Duna: Parte Dois, ou seja, um ator em ascensão.

Portanto, não são apenas palavras, são evidências de que estamos falando de um novo astro das telonas. Quer a prova disso? Em entrevistas, o diretor Luhrmann afirmou e mostrou os vídeos em suas redes do próprio ator cantando, o que nos comprova a entrega total na interpretação do astro do rock.

Tom Hanks está brilhante, mas esse já é um ator consagrado, sendo difícil esperar menos dele. O que nos chama a atenção é a maquiagem para dar vida ao Coronel Tom Parker, um homem velhinho e acima do peso com aparência bem marcante da década de 70. Certamente era uma daquelas caracterizações que levava horas para ficar pronta, o que dava tempo suficiente para Hanks absorver o personagem frio, calculista e manipulador em pele de cordeiro que interpretaria. 

Olivia DeJonge (A Visita, 2015) ainda um rosto pouco conhecido, mas que merece um olhar sensível, pois talvez ainda a vejamos bastante pelas telonas daqui para frente, apesar de todo o esforço na caracterização de Priscila Presley, ela é um rosto que ainda fica distante da original, que possui traços e um estilo muito marcante assim como o de Elvis. Mas, a atriz se entrega muito nas cenas de drama, o que dá a ela o mérito de uma boa interpretação e causa grande comoção.

Outras interpretações que merecem destaque, principalmente quando retornamos às influências musicais de Elvis são de Kelvin Herrison Jr. como B.B. King, Yola como Sister Rosetta Tharpe e Alton Mason como Little Richard, que vão fazer qualquer um se arrepiar com seus vocais potentes durante o longa-metragem.

ALGUNS DETALHES E AFINAL: VALE A PENA OU NÃO CONFERIR ELVIS NOS CINEMAS?

Quando se trata de uma obra biográfica, ainda mais de um grande astro da música como Elvis Presley, a pergunta que fica é: devo assistir? Afinal ele nem é da minha época! A resposta que posso dar é: sim.

Aliás, pode e deve. Além de todas as razões já mencionadas acima, para aqueles que não conhecem Elvis será uma excelente oportunidade, pois além das músicas popularmente conhecidas do astro, são apresentadas outras menos conhecidas. O cantor tem seu acervo musical muito bem explorado, além de suas influências e referências, o que por si só, já compensa e muito.

A fotografia parece fazer uma brincadeira de tela sobre tela, quando mistura imagens reais com encenadas, manchetes de jornais e exibições de Elvis na TV, o que vai confundir ainda mais a cabeça do espectador em relação aos personagens, à ficção e à realidade.

Em resumo, o filme é uma ótima alternativa para ir assistir no cinema, sendo uma forma de conhecer Elvis além dos holofotes: o Elvis garoto, homem, filho, marido e acima de qualquer coisa; ser humano. Repleto de sensibilidade, drama e muito remelexo, posso afirmar que você irá sair da sala de cinema emocionado (a).     

Título Original: Elvis

Direção: Baz Luhrmann

Duração: 159 minutos

Elenco: Austin Butler, Tom Hanks, Olivia DeJonge, Helen Thomson, Richard Roxburgh, Kelvin Harrison Jr., Yola, Alton Mason

Sinopse: Desde sua ascensão ao estrelato, o ícone do rock Elvis Presley mantém um relacionamento complicado com seu enigmático empresário, Tom Parker, por mais de 20 anos.

Trailer:

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