Crítica: Amor no Espectro – Temporada 1 (2019, de Cian O’Clery)

A primeira temporada de Amor no Espectro é apresentada em 5 episódios, criada e produzida por Cian O’ Clery, e distribuída pelo serviço de streaming Netflix. Na série, jovens no espectro autista são levados a encontros amorosos afim de desmistificar os preconceitos concebidos socialmente sobre a condição.

Para construir o formato de docu-reality, a narrativa se divide de maneira simples em dois pontos primordiais: com a prévia autorização e participação das famílias, a produção emerge as personagens do espectro em forçados encontros amorosos e eles próprios comunicam na primeira pessoa suas percepções sobre si, seus objetivos de vida e as situações vividas, quebrando a quarta parede. Da perspectiva do espectador o conflito é garantido, tal a dualidade da natureza a qual os mesmos são presumivelmente já experientes.

Pessoas no espectro costumam ser dotadas de habilidades de conhecimento profundo sobre seus específicos interesses, porém as dificuldades de interação social se sobrepõe no mundo onde a inclusão não é um fator perfeitamente discutido. Isso me leva a pensar que a abordagem peca na escolha das locações dos encontros; afinal, se a inclusão é a mensagem final, por qual razão expor jovens do espectro em encontros tão tradicionais, como restaurantes e bares, sendo que tais escolhas não dialogam com seus gostos naturais, provocando um estresse desnecessário apenas visando o conflito cênico?

Uma narração com voz suave, tanto na versão em inglês quanto dublada em português reafirmam muito bem a trilha sonora alegre de acordes sintetizados, numa clara tentativa de expor as ironias atreladas ao posicionamento puro nas ações das personagens, que para o público-alvo soa como inocência, quase beirando o humor.

Por fim, o papel de desmistificar enquanto alegra é cumprido com bastante leveza, numa abordagem sutil e que não ridiculariza, dando o espaço certo e conduzindo maneirismos de fala com a imposição da primeira pessoa – o documentarista – sem receio de nos lembrar que como neurotípicos nossa principal função seria a de respeitar as diferenças.