Porque a beleza é tão contraditória em O Portal da Eternidade

A arte nada mais é do que a forma de expressão mais genuína do ser humano. Transcende as barreiras do tempo e nos faz refletir, sentir, sofrer e amar, sejam elas em forma de música, poemas ou pinturas. No caso vamos focar toda nossa energia na última opção. Por ser uma análise, o texto pode conter alguns spoilers! Confira o que achamos.

Não é fácil se colocar no lugar de alguém, ainda mais quando esse alguém é Vicent van Gogh, e é justamente aí que a direção brilhante de Julian Schnabel difere de todos os outros filmes biográficos sobre o pintor. Ele nos faz sentir, pensar e principalmente, ver como ele.

Van Gogh tinha uma visão única sobre a sua forma de pintura. Particularmente, sinto ela em ondas caóticas de pinceladas, como se a natureza estivesse lutando dentro do quadro, e tal forma de pintar se espelhava muito em sua vida. Muitos dizem que ele era louco, outros que era alguém fora de seu tempo, o caso é, nunca saberemos ao certo, o que se sabe, é que ele tinha algum tipo de doença psiquiátrica, que vez ou outra, o fazia ouvir coisas e fazer coisas. O roteiro traz essas questões de formas diversas, hora em pensamentos narrados, hora em cenas onde Dafoe brilhantemente constrói um homem amargurado e marginalizado por seus problemas e sua pobreza.

Em contraste o jogo de câmeras nos faz ver o que ele via, sentir o que ele sentia e aos poucos, tenta se fazer entender, assim como van Gogh tentava. Cada ato que termina, começa outro com questões ainda mais complexas, como se a vida de Vicent fosse cheia de ciclos, mas que mesmo sem perceber, se repetiam. As cores amarelas no filme, sempre presentes, já que a maior parte de suas pinturas tinham a cor sobressaindo as demais, dizem que ele gostava tanto da cor por conta de seus distúrbios psicológicos e em parte por ter sido envenenado durante toda a vida ao usar as tintas da época. Solitário e sem amigos, um homem que podia contar apenas com seu irmão, o filme nos mostra um homem fragilizado que sentia a vida como um todo, que adorava a natureza e toda a sua complexidade. Vivia entre árvores e a céu aberto, o oposto de seus colegas pintores da época, que buscavam sucesso e seguir os passos de artistas conhecidos.

O filme nos causa mal estar, tristeza e uma pitada cheia de esperança que somente a arte é capaz de nos dar. Nos traz também um outro lado da história, já que, há diversas versões sobre sua vida e morte. Não quis entrar em detalhes sobre as pessoas em sua volta, porque, simplesmente elas são secundárias no roteiro, tudo o que realmente importa é a maneira que isso afeta van Gogh e como o filme retrata sua emoções. O filme é algo para ser sentido e apreciado. É complexo e cheio de questões filosóficas, um sopro de ar fresco na mente daqueles que apreciam a arte em todas as suas formas e, sendo eu uma artista, já que a arte tem suas várias definições, me senti tocada e emocionada com a visão do diretor para com a vida do artista. O filme é sublime e melancólico, me enche os olhos lembrar de todas as suas definições – contraditórias – a respeito do que é considerado arte, ou como a vemos. Arte é tudo aquilo que nos toca e van Gogh foi um gênio fora de seu tempo.

Título Original: At Eternity’s Gate

Direção: Julian Schnabel

Duração: 110 minutos

Elenco: Emmanuelle Seigner, Mads Mikkelsen, Oscar Isaac, Rupert Friend, Willem Dafoe

Sinopse: Em 1888, Vincent Van Gogh (Willem Dafoe) vivia em Arles. Recluso e melancólico, ele tentava decifrar seus pensamentos enquanto pintava um dos quadros mais famosos na história da arte moderna: Quarto em Arles.

TRAILER:

ESPERO QUE TENHAM GOSTADO!

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