Crítica: Madres Paralelas (2021, de Pedro Almodóvar)

Mães Paralelas - Filme 2021 - AdoroCinema

Madres Paralelas é uma das mais recentes estreias no streaming da Netflix na última semana, tendo sido aguardado pelos grandes cinéfilos, tanto por sua direção de Pedro Almodóvar, famoso por filmes como A Pele que Habito, Dor e Glória e Tudo Sobre Minha Mãe, como pela sua aparição no Oscar de 2022, estando indicado a Melhor Atriz para Penélope Cruz e também como Melhor Trilha Sonora Original.

Para os que aguardavam a chegada do longa às telas, muitos se surpreenderam, principalmente por apenas ao se ler a sinopse, muito é ocultado sobre o filme, dando até a entender que é um filme com duas protagonistas e que se passa em grande parte no hospital, o que não acontece. Mas essa quebra de expectativa não diminui a qualidade da trama, que nos mostra se tratar de uma obra muito mais abrangente do que apenas o tema da maternidade.

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Janis, interpretada por Penélope Cruz e presente em grande parte dos filmes do diretor, e Ana, interpretada por Milena Smit, roubam a atenção do espectador, mostrando personalidades completamente distintas vivendo por um mesmo momento e com opiniões e vivências que se contrastam e complementam.

No quesito da atuação das atrizes, é fato que a protagonista principal da trama é Janis, e Penélope Cruz rouba totalmente a cena e é a ela que somos apresentados desde o primeiro momento e quem acompanhamos por todo seu amadurecimento e dificuldades emocionais. Não surpreende sua indicação ao Oscar deste ano. Ana, por outro lado, nos mostra outra face da trama, com uma personalidade distinta e que acaba por aprender muito com Janis, mas também a se descobrir profundamente, mas de modo geral, não é uma personagem que acaba por despertar nosso carisma desde o início.

Quanto aos quesitos técnicos, a direção de arte e de fotografia são o que mais surpreendem ao longo de toda a trama, trabalhando com enquadramentos abertos e um contraste de cores sutil, as transições e composições de cenário e figurino se encaixam perfeitamente com cada momento da protagonista, transmitindo ao público por si só o desespero e a perdição em meio a imensidão presente em parte da trama. São algumas das características tão presentes nos filmes de Almodóvar, como cenários muito bem trabalhados, cores vibrantes e enquadramentos brilhantes.

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Ainda no quesito técnico, porém, os olhos mais apurados para os detalhes do filme poderão notar erros nas gravações, desde objetos que somem misteriosamente, até trocas de eixo de gravação e mudanças de local em que a protagonista está sentada, mas tudo isso, rapidamente é abafado pela densidade das emoções que o filme nos faz encarar, como reagiríamos frente à situação a qual as duas personagens se encontram, ilustrando aqui a presença do alto poder de mise-en-scène do diretor, que nos transporta para dentro da cena, junto de um auxílio sutil da direção de som, com trilhas perfeitas para cada momento.

O que mais surpreende porém, é a abrangência de temas tratados ao longo da trama, gerando diversos questionamentos no público, alguns em torno do tema da maternidade, mas além disso, abordando a fragilidade humana, o homossexualismo, a bissexualidade, a maturidade, a memória pessoal e ainda mais, a memória histórica, que é onde o filme se inicia, e onde ele termina, fechando um ciclo perfeito de gerações. Trabalha profundamente os conflitos e as injustiças gerados pela Guerra Civil Espanhola, que deixou inúmeros desaparecidos sem um enterro digno e o inconformismo de seus parentes, trazendo uma reflexão de como a história, o passado e os antepassados são importantes para quem somos hoje, bem como o progresso e a força e poder de gerar uma nova vida, bem como as consequências do passado e escolhas do presente para o futuro.

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Madres Paralelas está disponível hoje na Netflix, assista e prepare-se para refletir, se emocionar e questionar vários temas da atualidade.

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Título Original: Madres Paralelas

Direção: Pedro Almodóvar

Duração: 123 minutos

Elenco:  Penélope Cruz, Milena Smit, Israel Elejalde

Sinopse: Em Mães Paralelas, duas mulheres, Janis (Penélope Cruz) e Ana (Milena Smit), dão a luz no mesmo dia e no mesmo hospital. Janis, de meia idade, teve a gravidez planejada e já se sente preparada e eufórica para ser mãe. Ana, adolescente, engravidou por acidente e sente medo do que está por vir, além de estar assustada, arrependida e traumatizada. As duas enfrentam essa jornada como mães solos, e enquanto esperam pela chegada de seus bebês, elas passeiam pelos corredores do hospital, trocando confissões e desabafos. Ao dividir não só o mesmo quarto de hospital, como também esse momento tão transformador e intenso de suas vidas, elas constroem um vínculo muito profundo e esse encontro por acaso, pode mudar a vida de ambas para sempre, como um forte laço unido pela maternidade.

Trailer:

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