Crítica: Her (2014, de Spike Jonze)

Her é um filme belíssimo que irá te proporcionar muitas reflexões e interpretações – e é exatamente essa a graça e proposta do filme. Amor e amor cibernético é um assunto que pode gerar muitos debates calorosos. E se o amor cibernético pode ser algo polêmico, imagina um romance virtual com uma inteligência artificial? O que você acharia disso?

Mas Her não fala somente sobre o amor ou essa possibilidade de se apaixonar por algo não humano, fala também sobre a solidão e em como podemos ter dificuldades em iniciar ou manter conexões humanas à medida que a tecnologia vai se tornando cada vez mais comum e parte do dia a dia. 

Em um período mais futurista, onde as pessoas estão praticamente 24 horas por dia com seus fones de ouvido conversando com seus próprios sistemas operacionais, vemos Theodore (interpretado brilhantemente por Joaquin Phoenix) embarcando nessa jornada de ter o seu próprio sistema após uma dolorosa separação com a mulher que acreditava ser o amor de sua vida, Catherine (Rooney Mara).

Em cenas belíssimas vemos Theodore e sua ex-esposa em momentos românticos e de crise, fases comuns de qualquer relacionamento, mas o deles, infelizmente (ou não), chega ao fim. No fundo do poço e sem rumo, Theodore acredita que este pode ser o momento ideal para dar chance a companhia de um sistema operacional e se livrar um pouco do enorme vazio que estava sentindo, e é aí que ele conhece a Samantha, a sua nova inteligência artificial, narrada pela voz intimista e sedutora de Scarlett Johansson. 

À medida que Theo vai conversando com Samantha, ela vai ficando cada vez mais inteligente, aprimorada e complexa, de forma que pareça que ela está desenvolvendo sentimentos humanos. E rapidamente o fato nada inesperado acontece: ele se apaixona por ela e quer ter uma vida social incluindo ela na medida do possível.

E isso não é algo bizarro dentro do universo do filme, já que todas as outras pessoas também têm seus sistemas operacionais como seus melhores amigos, assistentes, e por aí vai. Porém, Samantha não é uma pessoa do outro lado da tela, que tem emoções verdadeiras ou que está lhe correspondendo de forma genuína e recíproca, ela é apenas um computador que está ali para servir seu usuário. Mas até que ponto vai a solidão e carência humana para entender isso? Até que ponto perdemos a mão em manter relações humanas de verdade? Ou, até que ponto se tornou tão normal tentar estabelecer pseudo relações humanas com computadores?

À medida que vamos conhecendo Theodore e entendendo porque seu casamento não deu certo e porque ele está tão envolvido com a Samantha agora (sua I.A.), vamos começar a nos perguntar: será que Theodore estaria pronto para um novo relacionamento no momento, mesmo não tendo superado o trauma do término do seu casamento? Será que um novo relacionamento, independente com quem fosse, sobreviveria ao peso de uma relação não superada? Será que Theo só estava tão envolvido com Samantha, porque ela era um reflexo dele mesmo? Afinal de contas, ela era seu sistema operacional e trabalhava a seu favor… 

A atuação de Joaquin Phoenix é simplesmente magnífica! Her é um filme muito sentimental e intimista e Joaquin consegue nos passar todas as camadas de vulnerabilidade de seu personagem. Ele consegue transmitir toda a carga sentimental necessária apenas com olhares e gestos, criando uma conexão genuína com quem está assistindo.

A direção, cinematografia e trilha sonora são outros pontos fortes do filme. A estética do filme não só é deslumbrante, como consegue refletir todas as emoções das personagens. A escolha de um cenário futurista e minimalista ao mesmo tempo, ajuda a enfatizar essa imensa solidão que um mundo tecnológico pode proporcionar, de forma que vemos Theodore parecer totalmente desconectado e perdido de sua vida “real”. A trilha sonora composta por Arcade Fire também é fantástica e ajuda a dar ainda mais peso à todas as emoções que o filme propõe que você sinta.

É muito difícil resumir Her, qualquer elogio parece pouco para enaltecer esta obra e sempre parece que estamos esquecendo de mencionar algo importante, mas, no geral, é um filme belíssimo e intimista que mergulha profundamente na mente humana e nos desafios emocionais de uma sociedade que está cada vez mais digital. 

Título Original: Her

Direção: Spike Jonze

Duração: 2 horas

Elenco: Joaquin Phoenix, Rooney Mara, Scarlett Johansson, Olivia wilde, Amy Adams, Chris Patt, outros.

Sinopse: O solitário escritor Theodore desenvolve uma relação de amor especial com o novo sistema operacional do seu computador. Surpreendentemente, ele acaba se apaixonando pela voz deste programa, uma entidade intuitiva e sensível chamada Samantha.

Trailer:

Espero que tenha gostado do filme e da crítica, ou pelo menos que ela tenha te convencido a dar uma chance para este filmão!

Deixe uma resposta