Crítica: Aftersun (2022, de Charlotte Wells)

Aftersun é um filme belíssimo sobre memórias e sentimentos. O foco da história é a relação de uma filha, Sophie (Frankie Corio), com seu pai, Calum (Paul Mescal). Sophie visita as memórias de umas férias que tirou com seu pai quando tinha 11 anos. Nessas férias, seu pai estaria completando seu aniversário de 31 anos – idade que Sophie teria agora enquanto revive o passado para tentar compreender e ressignificar certos acontecimentos da vida do pai.

Durante aquelas férias, Sophie se mostra uma criança muito madura e muito provavelmente isso se deve ao fato de ter pais separados. Mas não só isso, pelo menos com o pai, ela parece ter uma relação bem amigável e diálogos bem abertos e sinceros. Calum não subestima a sua filha pela pouca idade e lhe responde tudo (ou quase tudo) abertamente, bem como, às vezes, o vemos dando muita liberdade à ela.

Já Calum, é um pai que tenta ser presente e amigo na medida do possível. Imagino que por ter tido uma filha muito novo e não fazer parte do dia a dia dela por ser separado da mãe, ele tenta compensar nos poucos momentos em que estão juntos. Uma curiosidade muito bacana, é que a própria Charlotte relevou em uma entrevista para o site Filmelier, que ela teve intenção mesmo de trazer para o cinema a figura de um pai legal, amável, divertido, para contrapor os diversos pais tóxicos e ausentes que já existem no cinema.

Desde o início do filme podemos ver uma película super melancólica, que ao mesmo tempo em que nos deixa com uma sensação de nostalgia, nos causa também muita angústia e uma impressão de que algo muito ruim vai acontecer a qualquer momento. Durante o longa, podemos perceber nitidamente que enquanto o Calum está se esforçando para entregar os melhores momentos com a sua pequena Sophie, ele também está passando por algum conflito interno muito grande que o faz sofrer muito e ele tenta, desesperadamente, não transpassar isso pra filha, embora falhe em alguns momentos. E mesmo nesses momentos em que ele falha, Sophie é apenas uma criança para entender.

Pra mim, a mensagem mais linda que o filme deixa, é esse ato de se permitir revisitar às memórias e reviver os sentimentos em busca de entender melhor o nosso passado para seguirmos em frente.

Paul Mescal e Frankie Corio estão impecáveis em seus papéis de pai e filha. Para quem chegou a assistir a série Normal People (2020), percebe que Paul é perfeito para esses papéis com um tom mais melancólico. Já Frankie, que menina incrível, que com essa atuação já nos manda ficar em alerta para apreciar seus próximos trabalhos! E eu não posso deixar de mencionar a química que esses dois tiveram juntos! Foi lindo vê-los contracenando juntos, você até esquece que está vendo um filme, pois eles te fazem ficar imerso em sua história o tempo todo!

E não pense que esse filme te ganha apenas pela história, tá? As jogadas de cena aqui entre memórias, passado e futuro, sendo atropeladas, indo e vindo sem muita preocupação com uma ordem cronológica bem definida, fazem com que a gente fique confabulando, criando teorias sobre o que de fato está acontecendo, sobre o que é realmente uma memória real ou uma memória que se misturou com a imaginação de uma criança. Eu diria que fazer um filme tão simples mas tão complexo e cheio de jogadas técnicas diferentes, poderia ser bem perigoso para alguém iniciante no mundo da direção, mas Charlotte não se deixou intimidar e superou as nossas expectativas com seu primeiro longa, trazendo muito da sua própria vida e infância para as telonas (e eu ainda me atreveria a dizer que esse foi o grande tempero, responsável por toda a originalidade do filme).

Por último, mas não menos importante: a trilha sonora. A trilha cumpre o seu papel e encaixa perfeitamente com cada momento e, em algumas cenas, ela é fundamental para que a gente tenha a completa experiência de viver a completa emoção do que estamos vendo, como por exemplo, na cena da última dança, em que temos no fundo a maravilhosa Under Pressure de David Bowie e Queen.

Bônus: A24 divulgou uma foto da Charlotte com seu pai, no mesmo resort do seu filme de estreia.

Título Original: Aftersun

Direção: Charlotte Wells

Duração: 1h 36m

Elenco: Paul Mescal, Frankie Corio, Celia Rowlson-Hall, Spike Fearn, Harry Perdios, Sally Messham,

Sinopse: Sophie reflete sobre a alegria e a melancolia das férias que ela tirou com seu pai 20 anos antes. Memórias reais e imaginárias preenchem as lacunas enquanto ela tenta reconciliar o pai que conheceu com o homem que desconhecia.

Trailer:

Gostou da crítica? Também se emocionou com o filme?

Deixe uma resposta