Nasce um clássico POP, moderno e instantâneo. M3gan não é nenhuma obra-prima do terror. Muito pouco apavora, na verdade. Mas o novo thriller da BlumHouse, com produção de James Wan (Invocação do Mal, Jogos Mortais) e direção de Gerard Johnstone, parece ser tão esperto quanto a boa franquia do Chucky (também conhecido como Brinquedo Assassino), ambos citados acima mais sagazes que a Annabelle (também produzido por Wan).
Se o teor sobrenatural e sério de Annabelle não salva a saga de roteiros fracos (ok, o 2 é ótimo, já os demais…), Chucky, apesar do sobrenatural, mantém-se sempre atual, sagaz, irônico e esperto. E é nisso que M3gan tem mais em comum com o boneco assassino. Apesar de estar longe do sobrenatural, pois trata-se de inteligência artificial, similar ao subestimado último remake de Brinquedo Assassino de 2019, M3gan lembra mais o estilo de Chucky na série sobrenatural, rendendo momentos de puro escapismo e diversão, entre uma morte e outra.
A trama remete às ficções científicas B e de segunda linha, numa espécie de estilo Black Mirror mais descontraída, quase trash. Uma boneca com inteligência artificial que parece alguém de verdade? Claro que é uma ideia bizarra, e é claro que alguma startup, alguns cientistas e algum CEO iriam bancar esse circo, no melhor sentido. Aliás, mais um filme onde o CEO ganancioso coloca as pessoas em risco, o que não está errado no mundo real. Por ser ágil, ao mesmo tempo em que situa a necessidade da menina em precisar de companhia devido a perda dos pais, e da tia roboticista precisar de uma novidade revolucionária, o longa situa-nos de forma devagar, para na reta final entregar a maluquice da boneca desgovernada.
Apesar do baixo orçamento, o visual é eficiente, limpo esteticamente e funcional, do jeitinho que a BlumHouse gosta. O roteiro, assinado por Akela Cooper (do maravilhoso e esnobado Maligno, de 2021, dirigido por Wan) é moderno, espertinho, cheio de gags visuais e narrativas, que parece ter sido escrito por uma IA ou algum algoritmo de rede social. Não estou detonando não, o roteiro não é genial, mas é bom e competente, e faço aqui a comparação com algoritmo no sentido de que as batidas narrativas da obra seguem alguns fios específicos, que com certeza engajam com as gerações mais novas, especialmente a do Tik Tok, reels, vídeos curtos em geral. Existem cenas e passagens breves que já são memes e trends desde que o primeiro trailer surgiu, em meados de 2022. Destaco uma cena de dancinha que parece saída do Tik Tok ou Kwai, e uma cena da boneca descabelada em um parque, cheia de folhas e estressada, rende um bom meme de alguém que está tendo um péssimo dia.
Falta horror em M3gan, falta um senso maior de perigo, e falta sangue, principalmente. Creio que o filme precisaria ser mais pesado para ser incrível e verdadeiramente memorável. Mas a direção ok e o roteiro simpático, aliados à essa bizarra protagonista que é sim interessante, mesmo que habitando no vale da estranheza visual (aquela sensação de estranhamento em um efeito visual de uma obra), fazem com que a experiência seja muito divertida e valha a pena ser conferida nas telonas.
M3gan, ou “a boneca assassina do Tik Tok”, já é o primeiro grande sucesso POP de 2023, já tem continuação confirmada e os criadores não descartam crossovers entre bonecos, embora não deem detalhes disso (veremos interações com Chucky? Annabelle?). Com tiradas sagazes, momentos engraçados, alguma tensão no bom final e um interessante gancho para a continuação, o filme nunca tenta ser melhor do que é, e acerta nisso, sabendo tirar sarro de si mesmo conceitualmente, de uma forma que se comunique com os jovens expectadores. Cuidado Chucky e Annabelle, surgiu uma concorrente atualizada e mais esperta. O conceito de boneco assassino ganhou um upgrade.
Título Original: M3gan
Direção: Gerard Johnstone
Duração: 102 minutos
Elenco: Allison Williams, Violet McGraw, Ronny Chieng e Brian Jordan Alvarez
Sinopse: Uma brilhante roboticista usa inteligência artificial para conceber uma boneca de tamanho real programada para se conectar emocionalmente com sua sobrinha, recém-orfã. Mas quando a programação da boneca funciona bem demais, ela se torna super-protetora, o que traz horríveis consequências.
Trailer:
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