Crítica: Os Fabelmans (2022, de Steven Spielberg)

Steven Allan Spielberg vai muito além de um diretor de cinema, é uma lenda na história cinematográfica e da cultura pop. Não é exagero dizer que seu trabalho é o grande motivo de inúmeras pessoas se apaixonarem por cinema, nem é exagero pensar que ele é o “culpado” por fazer milhares de pessoas irem a uma sala de cinema ou até mesmo ser o grande inventor do tão famigerado gênero blockbuster. Além de atuar como realizador, Spielberg também tem sua mão no roteiro, produção e produção executiva de diversos longas de sucesso. Poltergeist (1982), Os Goonies (1985), Gremlins (1984), Memórias de uma Gueixa (2006), Bumblebee (2018) e tantos outros filmes que marcaram nossa vida, tem o toque de Steven como produtor. Dessa forma, também não é exagero dizer que seus filmes marcam gerações desde os anos 70.

Tubarão, 1974

Tubarão (1974) deu início ao reconhecimento de Spielberg em Hollywood, o longa que é baseado no livro homônimo de Peter Benchley, foi indicado a 4 categorias no Oscar de 1975, tendo levado 3, mas foi em 1977 com Contatos Imediatos do Terceiro Grau que o diretor recebeu sua primeira indicação a Melhor Diretor, tendo a película mais 7 indicações. Seus trabalhos seguem com longas reconhecidos pela Academia e com sucesso de bilheteria: Os Caçadores da Arca Perdida (1981), E.T. – O Extraterrestre (1982), A Cor Púrpura (1985), A Lista de Schindler (1993), Jurassic Park (1993), O Resgate do Soldado Ryan (1998) e o remake do musical Amor, Sublime Amor (2021). Pode-se, inclusive trazer em pauta que o ano de 93 foi um super momento para Spielberg, que iniciou seus trabalhos com Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros, usando técnicas de efeitos especiais extremamente avançadas para a época, como um animatronic em tamanho real e abusando das reações realistas humanas das personagens ao se deparar com dinossauros. Mudando o clima no mesmo ano, Spielberg levou para o cinema a vida de Oskar Schindler em A Lista de Schindler, tendo cenas filmadas com câmera em mãos e em preto e branco, tendo a fotografia como a do expressionismo alemão. A obra recebeu 12 indicações ao Oscar, saindo com 7 troféus, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor.

A Lista de Schindler, 1993

Nos últimos 5 anos, alguns diretores consagrados, têm investindo seu tempo e dedicação para realizar trabalhos que são influenciados por suas vidas pessoais: Roma (2018) de Alfonso Cuarón, Belfast (2021) de Kenneth Branagh e Dor e Glória (2019) de Pedro Almodóvar. Agora em 2023, chegou nos cinemas Os Fabelmans de Steven Spielberg, e essa introdução não é muito quando o assunto são seus filmes. Os Fabelmans é uma obra-prima em sua mais pura e única forma de cinema, é uma homenagem ao cinema e aos pais do diretor, que leva o público às lágrimas.

Os Fabelmans, 2023

Este não é um filme que exige salas com tecnologia IMAX, 3D ou algo parecido, mas é um projeto que visto no cinema, nos faz transcender em conjunto dos outros espectadores, passeando numa montanha-russa de emoções que só Spielberg sabe nos conduzir, e neste caso, com um filme extremamente pessoal, e que é uma homenagem aos seus pais e ao cinema. A premissa é simples: Sammy Fabelman (Gabriel LaBelle) tem o sonho de se tornar um cineasta após sua primeira experiência no cinema, assistindo ao filme O Maior Espetáculo da Terra. Enquanto sua mãe, Mitzi (Michelle Williams), uma artista de espírito livre o encoraja em suas atividades, seu pai, Burt (Paul Dano), um homem amoroso, mas emocionalmente distante, vê isso como um objetivo irreal.

Ao longo de sua adolescência, a paixão de Sammy pela arte e pelo cinema cresce, mas também aumenta a distância entre seus pais, tanto dele quanto um pelo outro. Por outro lado, seus pais vivem uma relação complexa, Burt vive imerso em números matemáticos e fatos de engenharia, já Mitzi é uma artista frustrada que não consegue se livrar do arrependimento por ter perdido uma carreira promissora como pianista clássica para se tornar dona de casa e mãe. A família se muda para Phoenix, onde Burt, que é funcionário da General Electric, está trabalhando na criação da memória de um computador junto de seu melhor amigo, Bennie Loewy (Seth Rogen).

Sammy se torna conhecido localmente por seus colegas como cineasta ao fazer um filme faroeste, deixando todos surpreendidos, até  mesmo seu pai, ao usar suas engenhosidade  para criar efeitos visuais, e em seguida um drama de ação da Segunda Guerra Mundial. Mas o filme que impactou a vida do rapaz acabou sendo um documentário de sua família. Os momentos transcendentais são quando Sammy edita os filmes em sequências sem diálogos, principalmente o momento em que monta os frames feitos no documentário do acampamento em família e se depara com uma verdade chocante. Spielberg faz disso um momento mágico no filme sobre como a câmera pode mostrar as duras verdades sobre a vida que precisamos ver, mesmo que não seja da nossa vontade.

Uma presença que traz uma energia a mais na relação da casa, é o tio-avô Boris (Judd Hirsch), ex-artista de espetáculos de vaudeville e ator de cinema mudo, engajando com Sammy um diálogo com frases clichês (que acalentam nosso coração), como: “A culpa é uma emoção desperdiçada”; “Família, arte: vai te partir em dois”; “É difícil ser casada com um gênio”; “Você não deve sua vida a ninguém”; “Sempre nos conheceremos.” Sammy percebe que seus pais são indivíduos independentes com vida própria e aprende a admirá-los, principalmente a mãe, e ainda que também reconheça de forma bastante ostensiva a herança técnica do pai.

 Em mais uma mudança da família, desta vez para o norte da Califórnia, Sammy e sua mãe se mostram extremamente infelizes. Mitzi se vê numa relação que não é mais de seu desejo e Sammy, agora adolescente, sofre bullying e antissemitismo em sua nova escola, o que os levam a tomar decisões e escolhas que afetam não só a eles, mas todos à sua volta. Ah, e a participação especial de David Lynch como o icônico diretor John Ford é um ponto alto e divertido no filme.

Em Os Fabelmans, Spielberg expõe suas memórias explorando novamente o filme familiar do jeito que só ele sabe fazer, com muita empatia, ternura e força. Os personagens secundários não fazem apenas uma ponta no filme, eles trazem nuances e puxam a obra (e também o espectador) para momentos descontraídos e refinados. Em mais um trabalho, o grande mito Spielberg, se mostra como o próprio cinema e como colocar emoções em um filme clássico com sua narrativa matizada e brilhante, nos levando das gargalhadas ao choro de maneira magistral e única, nos fazendo levantar da poltrona ao final, extremamente leves e com sorriso no rosto.

Título Original: The Fabelmans

Direção: Steven Spielberg

Duração: 151 minutos

Elenco: Michelle Williams, Paul Dano, Seth Rogen, Gabriel LaBelle, Judd Hirsch

Sinopse: O jovem Sammy Fabelman se apaixona por filmes depois que seus pais o levam para ver “The Greatest Show on Earth”. Armado com uma câmera, Sammy começa a fazer seus próprios filmes em casa, para o deleite de sua mãe solidária.

Trailer:

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