Crítica de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder – A tentativa de representar a Segunda Era


Preciso começar dizendo que não vou me apegar a detalhes de Silmarillion, vou analisar somente o que foi entregue pela série de um modo geral. Dito isso, vamos ao que interessa e, cuidado! O texto contém spoilers!

Evidentemente, quando falamos das obras de Tolkien, tudo que vem à cabeça são os detalhes que o autor proporciona para quem lê, inclusive nos mínimos detalhes. Logo, a série não poderia ser nada menos do que visualmente deslumbrante, e nisso, eles acertaram em cheio.

De certa forma, as paisagens, os cenários e uso de GCI, por vezes, chama mais a atenção do que o que está sendo discutido pelos personagens, não diria que chega a ser um ponto negativo, apenas fica claro, mais uma vez, porque essa série está sendo considerada a mais cara já feita até agora.

De fato o figurino é impecável e remete aquilo que lembramos nos filmes, a trilha sonora por vezes nos leva à natureza e por outras, a momentos obscuros e tensos. A direção tenta nos passar uma luta constante entre o que é honrado e o que é maligno, modernizando, por assim dizer, o pré-conceito que tínhamos em relação a alguns personagens históricos. Mas ao mesmo tempo que eles tentam inovar com um conceito “assista com a mente aberta”, já que os acontecimentos não tem ligação direta com os filmes, a gama de personagens sem carisma e desnecessários acaba atrapalhando o telespectador na tentativa de criar um laço com essas novas caras. A intensa necessidade de mistério, que tratarei logo à frente, também acaba deixando, por vezes, os episódios mornos e cansativos.

Em todo caso, vamos ao roteiro.

Diria que o roteiro é por diversas vezes confuso e se perde um pouco em meio às suas narrativas. A elaboração dos personagens de fato se mostra difícil, já que estamos lidando com a Segunda Era, onde Morgoth já foi derrotado e seu pupilo, Sauron, ainda está por aí, esperando o momento certo para retornar. Muito diferente daquilo que conhecemos em O Senhor dos Anéis, que conta a história da Terceira Era. Justamente por isso, acredito que houve muita dificuldade em aceitar alguns personagens e a forma que eles se comportam por aqui, e sim, estou falando de Galadriel (Morfydd Clark).

O fato da personagem ser uma guerreira não é o pior dos problemas, afinal ela tem milhares de anos e poderia muito bem ser o que a série mostra, o que incomoda em partes é sua obsessão e teimosia. Porém, sua personagem mesmo buscando fazer o que precisa para o bem, o faz por motivos pessoais, e isso torna sua busca obtusa, ficando o questionamento se ela está atrás de Sauron para salvar a Terra-Média ou para vingar a morte de seu irmão.

Toda a construção dos elfos em si deixa um pouco a desejar, claro que é somente a primeira temporada, onde geralmente a construção do roteiro e ambientação são mais importantes, mas acredito que faltou dar mais importância a determinados personagens e assuntos que vou discutir mais à frente.

O núcleo dos anões foi um pouco raso e vago, sabemos deles apenas pelas interações de Elrond (Robert Aramago) e Durin (Owain Arthur), que trás por vezes o alívio cômico da série na sua relação de amizade, que ao longo dos episódios, vemos que é quase como de irmãos e como isso influencia em algumas sequências de fatos durante a trama.

Outro ponto é a cidade de Númenor, a Cidade dos Homens, é lá que grande parte da série de fato se desenvolve, mas como todo o contexto que vinha sendo apresentado, também fica em partes confuso, com personagens que não acrescentam de fato nada à história e por outro lado, com personagens que acabam sendo essenciais para o final da série.

O ponto alto da série foi o mistério em volta de Sauron, e quem seria ele. Com o núcleo da floresta e os pés peludos, suspeitamos de um ser que caiu das estrelas e aos poucos descobrimos que, por fim, não era ele, mas outra peça essencial, ele era um Ainur ou como conhecemos nos filmes, um dos grandes magos.

Mas algo que realmente deixou a desejar foi o desenrolar de Sauron, que se deixou ser “confundido” por um humano e logo após salvar Galadriel, acaba indo com ela numa jornada para derrotar ele próprio. Em grande parte esse foi o momento que mais me incomoda em toda a obra, Sauron é um ser muito poderoso e por mais fraco que estivesse, jamais aceitaria “ajuda” daqueles que ele vê como inferior a ele: humanos, elfos e anões. Aqui acabam sendo necessários todos eles para finalmente ele conseguir seu anel. E ainda por cima, o clima de romance entre ele e Galadriel… Bom, diria que foi uma jogada ousada do roteiro para tirar as suspeitas dele, já que Galadriel jamais se apaixonaria por aquele que ela obcecadamente procurava, ao passo que sua procura a torna cega e a faz confiar em quem não deve.

Por fim, diria que toda série foi mal roteirizada, um pouco confusa e com carência de personagens cativantes. Talvez por isso, mesmo após 20 anos do lançamento dos filmes, ninguém até então havia ousado fazer uma adaptação para a TV. Talvez a minha tentativa de focar apenas nos personagens da série tenha sido prejudicada pelas minhas leituras de Tolkien, ou simplesmente a série deixou mesmo a desejar. Em todo caso, imagino que muitos terão uma opinião diferente da minha; ou não.

Título Original: The Lord of the Rings: The Rings of Power

Direção: Charlotte Branstrom, J. A. Bayona, Wayne Yip

Episódios: 8

Duração: 60 minutos aprox.

Elenco: Charlie Vickers, Cyntia Addai-Robinson, Daniel Weyman, Ismael Cruz Córdova, Joseph Mawle, Markella Kavenagh, Maxim Baldry, Morfydd Clark, Owain Arthur, Robert Aramayo

Sinopse: Começando em uma época de relativa paz, a série segue um importante grupo de personagens, com figuras novas e familiares, enquanto confrontam o ressurgimento do mal na Terra-Média. Das profundezas das Montanhas da Névoa, até as fabulosas florestas da capital élfica Lindon, até a ilha de Númenor, e os cantos mais profundos do mapa, esses reinos e personagens vão cravar seu legado, algo que irá ficar marcado até muito além na história.

Trailer:

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