Crítica: Paloma (2022) | Uma narrativa afetiva sobre uma mulher trans que sonha em se casar na igreja

O longa-metragem nacional dirigido por Marcelo Gomes (Cinema, Aspirinas e Urubus, 2005), traz Kika Sena no papel de Paloma, uma mulher trans que vive da agricultura no interior de Pernambuco e o seu maior sonho é casar na igreja, de véu e grinalda com o namorado Zé (Ridson Reis). Eles já vivem juntos e até tem uma filha, Jenifer (Anita de Souza Macedo).

Apesar da resistência de Zé, o casal segue adiante com a ideia do casamento, porém na igreja da cidade em que vivem eles não conseguem autorização para realizarem o casamento e após muita espera e busca, Paloma conhece um ex-padre que tem sua própria paróquia e resolve realizar o casamento dos dois.

O que se perceberá em Paloma, inspirada em uma história real que o diretor Marcelo Gomes leu em um jornal, é que ele escolheu uma abordagem leve e afetiva. Demonstrando que apesar de uma sociedade preconceituosa, ela pode e deve viver uma vida normal. Ela tem um relacionamento estável, uma família, emprego fixo e sonhos como qualquer mulher.

Pois, o que costumamos ver reproduzido nas telonas acerca da vida de uma mulher trans é justamente o que é reforçado pelos estereótipos e preconceitos, o que já está mais do que na hora de mudar. Um outro exemplo interessante de filmes do gênero é Alice Júnior (2019), disponível na Netflix, trata-se de uma adolescente trans que é influencer digital, mas vê sua vida virar de cabeça para baixo quando precisa mudar de cidade, escola e começar a sua vida do zero. Por estar inserida no universo adolescente, as questões preconceituosas, dúvidas e questionamentos são abordados com mais profundidade, diria até que chega a ser um filme didático no assunto, diferente de Paloma que no momento em que trata do assunto preconceito é de forma dura, direta e até violenta, sem ser explícito.

Na verdade, Paloma é pura poesia, seja na fotografia, na trilha sonora, nos enquadramentos dignos de competir com qualquer filme europeu de tão belo e sensível. Tem um ritmo lento, quase linear no desenvolvimento da trama de Paloma na expectativa de realizar o seu tão sonhado casamento. Mas, é algo que vai passar quase despercebido, afinal depois do casamento vem o felizes para sempre? Esse então, passará a ser o grande dilema da vida de Paloma!

Em resumo, Paloma é um belo filme, o tipo de filme para ser lembrado e premiado, mas que apesar de expor uma história tão atual e real, acaba sendo pouco divulgado, talvez porque a sociedade ainda não esteja pronta para um filme tão brilhante como este, de uma sensibilidade e profundidade  como a de qualquer outra pessoa.

Título Original: Paloma

Direção: Marcelo Gomes

Duração: 104 minutos

Elenco: Kika Sena, Ridson Reis, Anita de Souza Macedo, Samya de Lavor, Suzy Lopes, Nash Laila, Buda Lira, Patricia Dawson, Ana Machado, Wescla Vasconcelos

Sinopse:  Paloma é uma mulher trans que está decidida a realizar seu maior sonho: um casamento tradicional, na igreja, com seu namorado Zé. Ela trabalha duro como agricultora em uma plantação de mamão e está economizando para pagar a festa. A recusa do padre em aceitar seu pedido obriga Paloma a enfrentar a sociedade rural. Ela sofre violência, traição, preconceito e injustiça, mas nada abala sua fé.    

Trailer :

Você já assistiu Paloma? Se sim, nos conte o que achou ou se pretende assistir!

Deixe uma resposta