Crítica: Esperando Bojangles (2022, de Régis Roinsard)

O CHARME DO IMAGINÁRIO, A AVIDEZ DE UM PONTO SEM RETORNO (A INSANIDADE)

Baseado no livro de mesmo nome, do escritor francês Olivier Bourdeaut, Esperando Bojangles apresenta dois espetaculares atores, Romain Dures (Eiffel, 2021) e Virginie Efira (Benedetta, 2021), interpretando o casal George e Camille. Se apaixonam de forma intensa, sendo dois lunáticos que não sabem distinguir vida real e fantasia. Suas loucuras sintonizam perfeitamente e eles fazem um filho, criando ele com essa mesma capacidade imaginativa.

Se a fantasia saudável ajuda o ser humano a enfrentar melhor a vida, quando há somente a fantasia a vida em si pode acabar nunca tendo graça. E isso pode ser fatal. O garoto enfrenta problemas de seguir estudando na escola, sem amigos, pois sua imaginação (isto é, a normalidade de acordo com a perspectiva da vida pessoal dele, cercado por loucura) faz com que seja visto como um atraso na escola. Seus pais tomam atitudes absurdas para lidar com os conflitos do pequeno, muito por conta de não haver escrúpulos na hora de educar. Sua única referência é o mundo mágico de respostas grandiosas e histórias que tal como em um Forrest Gump – O Contador de Histórias, nunca aconteceram.

O diretor do longa, Régis Roinsard não menospreza a capacidade do espectador de fantasiar sem precisar assistir uma obra conduzida pela muleta de uma cor ou brilho que indique o lúdico. Com maestria e sensibilidade a temática da alucinação é tratada com franqueza, de forma real, sem obviedades. Primeiro nos apegamos pelo absurdo, pela ideia da realeza, dos nomes inventados e no cerne do “ser aquilo que se deseja, custe o que custar”, mesmo sabendo que não passa de uma utopia. E mesmo com a certeza do absurdo nos prendemos no carisma, na trilha sonora e na condução elegante da câmera no estilo de comédia dramática francesa mais lindo e sensíveis possível. O problema vem depois.

O PROBLEMA DA VIDA

Há uma frase que se destaca dentre os diversos diálogos geniais do filme. A mãe pede ajuda ao filho para escolher qual roupa vestir para uma festa e ele a compara com uma rainha. Ela, na honrosa honestidade daquele que oscila entre o pico de um transtorno mental e a sanidade, diz: “O espelho é um juiz mais objetivo e menos sentimental. Às vezes até cruel.”

Isso resume o filme. Posso dizer que de tão lindo o filme chega a doer da forma mais dura possível. Quando a realidade surge e as personagens precisam enfrentar o maior conflito de todos, suportar o que não for parte da loucura, o inevitável existir de um mundo onde o amor e a paixão calorosa são como um caminho sem volta, definitivamente temos como único legado capaz de ser deixado para um filho, o mesmo que todo pai, em metáfora, seria capaz de deixar após a morte: a vida e a imaginação como esperança para a necessidade de resistir dentro de si próprio.

O nome do filme remete a esperar o “Mr. Bojangles” e saber que ele e toda a alegria proposta melodicamente (sempre presente nas danças repetidas pelo casal) jamais irão aparecer. Talvez nos momentos em que se ousar dançar, mas na prática tudo ficará permeando apenas os ideais filosóficos.

Duas horas de um filme que mereceria estar na prateleira de qualquer colecionador de filmes em mídia física, apreciadores de obras atemporais. Duas horas que nem se sente passar.

Título Original: En Attendant Bojangles

Direção: Régis Roinsard

Duração: 124 minutos

Elenco: Romain Dures, Virginie Efira, Grégory Gadebois

Sinopse: Em Esperando Bojangles, na frente de seu filho, Camille e Georges dançam sua música favorita “Mr Bojangles”. Com eles, só há lugar para diversão e fantasia. Quem guia o caminho é a mãe, que os leva a um turbilhão de poesia e amor, para que a festa continue de novo e de novo, não importa o que aconteça. Até que um dia, a imprevisível Camille desce mais fundo em sua própria mente, e Georges e o pequeno Gary precisam mantê-la segura.

Trailer:

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