Aquilo que Eu Nunca Perdi (2022, de Marina Thomé)

Longa produzido pela Descoloniza Filmes, que faz uma homenagem involuntária belíssima à cultura musical brasileira ao contar a trajetória de uma artista influente e colaborativa, e das origens de sua musicalidade por conta de sua família de músicos e grandes colaboradores com o cancioneiro nacional.

O filme Aquilo que Eu Nunca Perdi, conta a trajetória de Alzira Espíndola, irmã de Tetê Espíndola e Geraldo Espíndola, uma cantora, instrumentista, compositora e colaboradora de vários artistas com uma abrangente e longa trajetória na música brasileira por décadas. A obra produzida pela Descoloniza Filmes com o Itaú Cultural, tem uma pegada indie e autoral e metalinguisticamente reflete com muita integralidade as memórias, passagens e contemporaneidades que envolvem a vida, obra e carreira de Alzira E.

Juntando depoimentos de amigos e colegas de trabalho, relatos da própria Alzira, de parceiro de longa data e colaboradores, vídeos e fotos antigos da família, das histórias de família, de antigas entrevistas e apresentações, gravações, composições, momentos de ensaios, preparo de música, passagem de som, dedicações musicais e imagens estonteantes das paisagens das estradas do Estado do Mato Grosso do Sul, somos deleitados com histórias de grandes personalidades e artistas que, como estrelas, compõem a constelação em torno de Alzira e toda a sua impetuosa e própria criatividade. E junto com a construção de grandes episódios da música e cultura brasileira, conhecemos também a pessoa de Alzira e seus laços de amizade e fraternidade com as pessoas envolvidas na obra. As passagens que incluem as interações espontâneas e colaborativas entre Alzira e os demais Espíndola tanto nos flashbacks quanto nas filmagens da atualidade são incríveis por vermos ali grandes mentes, importantes artistas e a mais genuína fraternidade entre os irmãos e as diferenças de idade que refletem também a hierarquia da intimidade dessa relação.

A direção e a filmagem bem como a edição são bem simples, de forma a lembrar outros documentários e compilados, com participações marcantes como a de Ney Matogrosso, e com naturalidade e espontaneidade permitem com que Alzira, agora uma senhora na terceira idade, se apresente e mostre como artista e ser humano; por isso vemos sua casa, seus cabelos brancos, sua conversa com amigas, seus discos com gravações de músicas, seus ensaio com sua banda, suas conversas com os irmãos, suas performances ao vivo e sua reação ao ser comovida pelas dedicatórias e agradecimentos de quem se beneficia com suas colaborações musicais.

A qualidade da imagem é muito boa, bem como de som, e a impressão intimista como se fôssemos convidados para um café na casa de Alzira é bem transmitida, as inserções das passagens de imagens e áudios gravados há 40 ou mais anos atrás, bem como das performances ao vivo são bem equalizadas e ajustadas apesar de sabermos que há limitações para a restauração de gravações e registros antigos, foi feito um trabalho caprichoso e com a finalidade de elogiar e por em uma vitrine a carreira de um artista e toda sua história.

Muito bom para conhecer um pouco sobre a trajetória de Alzira e da família Espíndola, e toda a riqueza cultural do centro do Brasil, do Mato Grosso do Sul e dos desdobramentos que a contribuição e concatenação de microculturas com as influências que a artista uniu entre suas raízes mato-grossenses e seus anos radicada em São Paulo.

Título Original: Aquilo que Eu Nunca Perdi

Direção: Marina Thomé

Duração: 84 minutos

Elenco: Alzira E, Tetê Espindola, Ney Mato Grosso, Almir Sater, Alice Ruiz

Sinopse: Nascida no interior do Mato Grosso do Sul, Alzira E começou a carreira musical com seus irmãos, Tetê e Geraldo Espíndola, até emigrar para São Paulo na década de 1980, onde construiu uma sólida carreira como compositora e intérprete com parceiros como Itamar Assumpção e Ney Matogrosso. Em 2022, Alzira lidera uma banda de rock.

Trailer:

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