CRÍTICA: X – A Marca da Morte (2022, de TI West)

Chegou aos cinemas brasileiros o filme de terror X- A Marca da Morte, o longa-metragem promove o retorno do cineasta Ti West a direção cinematográfica, após um aparte de cinco anos em sua carreira se dedicando a episódios televisivos. Ele desenvolveu o roteiro em segredo, e mostrou à A24 para ver no que ia dar e eles viram potencial na ideia. Produção melhor não poderia casar com o projeto, já que a produtora é conhecida por dar total liberdade criativa na execução de seus projetos. Seria um risco, mas muito bem apostado já que a premissa além de criativa se desenrola com referências às locações de O Massacre da Serra Elétrica (1974), até mesmo a alguns enquadramentos e convenções já esperadas do gênero.

Porém, o que se vê aqui é a subversão da abordagem típica de um Slasher. O ano é 1979 e um grupo de teatro desembarca numa fazenda do Texas para a produção de um filme pornográfico. Como conflito central temos os velhos donos da fazenda que são antiquados e prezam pela ordem ao seu ambiente como lar.

Certo, parece tudo muito óbvio. Mas do início ao fim o filme te prende seja pela fotografia (digital) cuidadosamente projetada afim de se assemelhar a uma filmagem de 16mm (que era a intenção inicial do diretor filmar), ou pelo modo que as coisas são apresentadas.

Segundo entrevistas concedidas pelo próprio diretor, a pretensão com X era executar um projeto com significado e sem mortes aleatórias, onde na década de setenta o espirito empreendedor gerasse o ímpeto de jovens aspirantes a entrar em indústrias cinematográficas; equiparando o horror à pornografia de modo que os clichês provenientes dessas semelhanças pudessem ser quebrados. E de fato, não temos personagens que transam e morrem enquanto transam, que já está mais que ultrapassado. Não temos personagens burros que chegam no desconhecido, nem que tropeçam aleatoriamente só pelo susto. As coisas são construídas minuciosamente no primeiro ato.

Pistas são deixadas na tela, com prelúdios sangrentos de uma vaca dilacerada após um atropelamento, placas nas proximidades da fazenda indicando para não entrar. Vaca essa que pertence ao lugar onde eles estão indo, e que de lá escapou, mas que teve um fim trágico e visceral como aquele que os espera. São eles as próximas crias do rebanho, mas são coisas que as personagens não veem, enquanto somos sorrateiramente ambientados, nos prendendo na apresentação de seus sonhos joviais, dos objetivos claros de cada um.

O cineasta do grupo não quer fazer apenas um pornô. Ele quer fazer storytelling sendo auxiliado pela sua namorada “puritana” que produz o som direto. O incidente incitante do filme que ocasiona a primeira morte parte de uma reação dele a uma quebra de expectativa no comportamento da namorada.

As meninas quando fazem pornô, querem de alguma forma viver os seus sonhos Hollywoodianos. Há frustrações mescladas às expectativas em seus olhares jovens. A protagonista não sonha em ser atriz de filmes adultos, ela só não quer se olhar no espelho e se aceitar como uma viciada em cocaína; e cheira para sentir-se livre e encarar o turbilhão de emoções prestes a surgir.

Inspirada e seduzida pela jovialidade perdida da protagonista de Mia Goth, a idosa fazendeira (interpretada por ela mesma) começa a se ver na moça, num misto de querê-la para si – em si enquanto redescobre a sexualidade. Começa a se maquiar tentando se amar novamente e ser amada pelo marido que sofre de problemas do coração. Algumas risadas ouvidas no cinema talvez sugerissem uma piada disso, mas a beleza com a qual isso é tratado consegue provar o contrário, comovendo com significância. As personagens ali existem, e suas ações possuem motivos nascidos de sentimentos que são impressos na tela.

É como diz no filme a personagem de Martin Henderson, o diretor do pornô: “nós excitamos as pessoas.” Por mais óbvio que isso seja, não é uma fala jogada. É o fundamento de todas as mortes que acontecem. A energia sexual é o que motiva os assassinatos de X.

A montagem intercala bem as escolhas da direção sobre o que mostrar a cada momento. Tudo está exatamente no lugar onde deveria estar, na hora certa. E que não deixemos passar despercebido o programa na televisão assistido pelo casal fazendeiro, onde são cultuadas as normas esperadas por uma família cristã e de bem. Mas que de bem não tem nada; nos fazendo concluir que os demônios são os preconceitos e a inveja à liberdade sexual alheia.

Para Ti West, o processo do filme foi tão intenso que ele aproveitou a locação e disponibilidade dos equipamentos e já rodou uma sequência do filme chamada Pearl, protagonizada por Mia Goth e escrita pela mesma em parceria com o diretor durante o processo de X. Enquanto nada do enredo nos é revelado, fiquemos com o que já temos, e que possamos digerir a obra recente com a atenção que ela merece.

Título Original: X

Direção: Ti West

Duração: 87 minutos

Elenco: Mia Goth, Jenna Ortega, Kid Cudi, Brittany Snow, Martin Henderson, Stephen Ure

Sinopse: Um grupo de atores se propõe a fazer um filme adulto na zona rural do Texas, sob o nariz de seus anfitriões reclusos. Quando os donos do local pegam seus jovens convidados no ato, o elenco se vê em uma luta desesperada por suas vidas.

Trailer:

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