Crítica: Trem-Bala (2022, de David Leitch)

Não é novidade que David Leitch sabe misturar bem os gêneros ação e comédia. Trem-Bala (2022) surge exatamente como uma mistura dos precedentes sucessos do diretor: Deadpool 2 (2018) com sua comédia irônica, e John Wick (2014), como um neo noir de ação. Porém, há neste filme uma escalada excepcional em sua amostra do que é capaz, levando-o certamente a um patamar acima.

Zak Olkewicz, roteirista em Rua do Medo: 1978 – Parte 2 teve a função de adaptar o romance best-seller japonês escrito por Kōtarō Isaka de 2010. A estrutura do roteiro é impecável. Os diálogos são divertidos, irônicos, e o suspense é trabalhado sempre apresentando o problema se aproximando das personagens sem que eles percebam, tornando o espectador um privilegiado que almeja saber onde todo aquele conflito vai resultar. Mesmo com mais de duas horas de filme, o roteiro consegue te prender do início ao fim, sem se arrastar. A quantidade de reviravoltas e situações absurdas que jamais aconteceriam na vida real não nos afasta daquilo que já sabemos: a comédia e a ação nascem do absurdo.

Brad Pitt (Era uma Vez em… Hollywood), um ator que na altura do campeonato nos entrega sua melhor forma, como artista maduro que carrega nos olhos a simplicidade da expressão. O famoso “joga fácil”. Domínio absurdo das cenas. Carrega nas costas a responsabilidade de interpretar o fio condutor da história, o assassino de aluguel apelidado de Joaninha – o que muito tem a ver com o significado do inseto ante a cultura oriental -. Após um retiro espiritual, tão logo apresentado na sequência inicial ao som de Stayin’ Alive do Bee Gees, ele aceita fazer um último serviço que aparentemente é bem simples: recuperar uma mala. O empecilho disso é que outros assassinos de aluguel também têm a mesma missão.

Só reforçando que a tradução do refrão de Stayin’ Alive é “Você continua vivo”! Por que será que foi a escolha perfeita para introduzir uma caminhada de um assassino de aluguel com fama de azarado andando por Tóquio?

Todo esse conflito resulta em bombas, reviravoltas e participações especiais inesperadas e com piadas precisas, condizentes aos atores que as interpretam. Sem erros. Quem conhece e gosta da pegada de Tarantino vai curtir a influência de sangue, assassinatos e diálogos corriqueiros se misturando na mesma linha.

Para isso funcionar, além da agilidade na direção, a boa escolha de trilha sonora, a montagem e fotografia excelentes, não podemos deixar de citar a escalação dos atores secundários, como Aaron Johnson (O Garoto de Liverpool) e Brian Tyree (Eternos) interpretando respectivamente os assassinos Tangerina e Limão, sempre com diálogos engraçados e imprevisíveis, discutindo sobre metáforas da vida presentes na conhecida animação do trem Thomas e seus Amigos. E o melhor: com função na história, não simplesmente jogado. Mas claro, essa parte é mérito do autor Kōtarō Isaka.

Joey King (A Barraca do Beijo) dá um show de interpretação, indo de um extremo de perversidade à inocência numa simples fração de segundo, carregada de objetivos no inconsciente. Andrew Koji (G.I. Joe Origens: Snake Eyes) surpreende ao manter o subtexto de pai preocupado, ao mesmo tempo que outras emoções familiares relacionadas surgem diretamente no desfecho.

O elenco ainda conta com Sandra Bullock (Cidade Perdida), Bad Bunny (Velozes e Furiosos 9), Michael Shannon (A Forma da Água), Hiroyuki Sanada (Mortal Kombat), todos se enquadrando na definição de extrema competência.

Por fim, a resolução do filme soa um pouco aleatória, mas isso dura pouco tempo, porque uma cena pós-crédito explica em tom muito bem-humorado o que aconteceu para aquilo ocorrer daquela forma.

Título Original: Bullet Train

Direção: David Leitch

Duração: 126 min

Elenco: Brad Pitt, Joey King, Aaron Taylor-Johnson, Hiroyuki Sanada, Brian Tyree Henry, Andrew Koji, Michael Shannon

Sinopse: Em um trem-bala indo rapidamente de Tóquio a Morioka, cinco assassinos profissionais descobrem que possuem o mesmo objetivo.

Trailer:

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