Os filmes essenciais de Ingmar Bergman

Nascido no dia 15 de julho de 1918, o sueco Ingmar Bergman é considerado um dos maiores diretores da história do cinema. Conhecido por seus close-ups que parecem ler a alma dos personagens, filmes reflexivos e, muitas vezes, depressivos, o cineasta influenciou praticamente todos os diretores que vieram depois dele.

Segundo Martin Scorsese, “toda vez que um filme de Bergman era lançado, você sabia que ele te levaria a um outro nível. Você pode até não alcançá-lo, mas sabe que vai ver algo especial e que vai te provocar criativamente”.

O dinamarquês Lars Von Trier foi outro grande influenciado pelo cinema de Bergman. “Ele foi de fazer filmes mais comerciais até filmes que carregavam um estilo cada vez mais pessoal. Ele sabia como fazer e realmente fazia. Outros não eram capazes disso, e tinham que voltar a fazer filmes comerciais. Ele controlava totalmente o visual de um filme, e isso me impressionou muito”, declarou o diretor de obras como Anticristo e Melancolia.

Além deles, cineastas como Woody Allen, Francis Ford Coppola e Stanley Kubrick declararam ter uma profunda admiração por Bergman. Na lista de 100 melhores filmes de todos os tempos da revista Sight & Sound – que compila a opinião de inúmeros cineastas ao redor do mundo – apareceram quatro filmes do diretor. Ainda, na lista de dez melhores diretores da publicação, o sueco ocupa o oitavo lugar.

Além disso, Bergman é o segundo maior vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, com três vitórias. Também foi indicado ao prêmio de Melhor Direção três vezes e ao de Melhor Roteiro cinco vezes. Veja cinco filmes para começar a conhecer o mestre sueco:

1 – O Sétimo Selo, de 1957

Os dois filmes lançados por Ingmar Bergman em 1957 foram os primeiros a lhe dar uma grande reputação internacional. O primeiro deles foi O Sétimo Selo, adaptado de uma peça de teatro do próprio diretor.

Ambientado na Suécia medieval devastada pela peste negra, o filme conta a história de Antonius Block (Max Von Sydow), cavaleiro que retorna das Cruzadas e, ao se deparar com a Morte (Bengt Ekerot), a desafia para um jogo de xadrez valendo a sua vida. Em uma jornada que questiona o sentido da vida, o sentido da morte e questões existenciais atemporais e universais, Bergman criou um dos grandes clássicos da história do cinema, que influenciou praticamente todos os diretores que surgiram nos últimos cinquenta anos.

No ano de seu lançamento, o filme conquistou o Prêmio do Júri no Festival de Cannes. Na lista mais recente da Sight & Sound, divulgada em 2012, o longa ocupa o 93º lugar no ranking de melhores filmes de todos os tempos.

2 – Morangos Silvestres, de 1957

Seu outro lançamento de 1957 foi o road-movie Morangos Silvestres. O filme teve seu roteiro escrito após o lançamento de O Sétimo Selo, enquanto Bergman esteve internado em um hospital universitário para tratar de estresse e problemas gástricos.

O longa mostra a viagem do professor aposentado Isak (Victor Söjström), acompanhado de sua nora Marianne (Ingrid Thulin), em direção à universidade em que lecionou ao longo da vida para receber um prêmio honorário. Na estrada, a dupla passa por lugares que despertam uma forte nostalgia no professor e o fazem refletir sobre a passagem do tempo.

Quase sempre citado entre seus melhores trabalhos, foi o segundo mais bem colocado do diretor na lista da Sight & Sound, ocupando o 63º lugar. Também foi citado por Stanley Kubrick como seu segundo filme favorito – atrás apenas de Os Boas Vidas, de Federico Fellini – e citado por Ken Loach, Lars Von Trier e Woody Allen, entre outros, como um de seus filmes favoritos. Venceu o Urso de Ouro no Festival de Berlim de 1958 e é outro clássico imortal da filmografia de Bergman.

3 – Persona, de 1966

Em 1966, o diretor lançou o drama Persona, considerado por muitos como a grande obra-prima de sua carreira. Partindo de uma premissa simples para desenvolver temas altamente complexos, o filme trata da relação da enfermeira Alma (Bibi Andersson) com a atriz Elizabeth (Liv Ullmann), que parou de falar de repente. Ao longo do tempo, Alma começa a ter uma relação de confidente com Elizabeth, e passa a ter dificuldades para distinguir ela mesma de sua paciente.

Também com boa parte de seu roteiro escrito em um hospital, enquanto Bergman se recuperava de uma pneumonia, o filme tem traços junguianos e conta com uma análise psicológica profunda. Além disso, conta com duas das mais brilhantes interpretações da história do cinema, de Liv Ullmann e Bibi Andersson, e é considerado um dos mais enigmáticos da sétima arte.

Em sua autobiografia, lançada em 1994, Bergman disse que Persona foi o mais longe que conseguiu chegar. “Trabalhando com total liberdade, eu toquei em segredos que apenas o cinema pode revelar. […] Persona salvou a minha vida. Se não tivesse achado a força para fazer esse filme, eu estaria acabado. Também foi a primeira vez que não me importei nem um pouco se o filme seria um sucesso comercial ou não”, escreveu.

Inspirou gerações de cineastas e inúmeros filmes – é difícil imaginar Cidades dos Sonhos, Cisne Negro, A Vida Dupla de Veronica, Fale Com Ela ou Clube da Luta, entre outros, sem Persona ter vindo antes. É o trabalho mais bem colocado do diretor no ranking da Sight & Sound, ocupando o 18º lugar. Sua riqueza metafórica o transforma em um filme que gera infinitas interpretações e é debatido até os dias de hoje.

4 – Sonata de Outono, de 1978

A década de 70 foi extremamente prolífica para o cineasta, que continuou lançando clássicos como Gritos e Sussurros e Cenas de Um Casamento. Em 1978, juntou-se pela única vez com a lenda Ingrid Bergman – com quem não tinha nenhum parentesco – e realizou Sonata de Outono, um de seus maiores clássicos.

O filme trata da conturbada relação entre Charlotte (Ingrid Bergman) – que priorizou a carreira como pianista à maternidade – e sua filha Eva (Liv Ullmann). Após sete anos sem se encontrarem, Charlotte viaja para visitar Eva e feridas abertas de ambos os lados vem à tona e revelações são feitas.

Foi o último trabalho de Ingmar Bergman que visou a exibição cinematográfica. Após isso, o diretor realizou apenas produções televisivas – mesmo que algumas delas tenham sido lançadas nos cinemas.

O filme venceu o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e foi indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Roteiro Original e Melhor Atriz – na última indicação de Ingrid Bergman, que já havia vencido duas vezes a categoria.

5 – Fanny & Alexander, de 1982

Quase todos os cineastas, em algum momento, realizam um filme sobre suas infâncias. Foi o caso de Federico Fellini em Amarcord, Spike Lee em Crooklyn, Woody Allen em A Era do Rádio, entre outros. Geralmente, como nesses três exemplos, são filmes com um tom de nostalgia e felicidade.

Com Bergman, no entanto, foi diferente – e como não poderia ser? Realizado como uma minissérie de quatro episódios e depois editado como um filme de três horas, Fanny & Alexander é baseado na infância de Ingmar Bergman e sua irmã Margareta. Após a morte súbita de seu pai, sua mãe se casa com um bispo, que submete os irmãos a uma criação controladora e violenta.

Um dos trabalhos mais bem recebidos da carreira do cineasta, o filme é seu último grande clássico – e um dos maiores. Ocupa o 84º lugar no ranking da Sight & Sound e foi indicado a seis categorias do Oscar, incluindo Melhor Direção. Saiu da premiação com quatro estatuetas, inclusive a última de Melhor Filme Estrangeiro que o diretor recebeu.

Após isso, Bergman focou mais na carreira como diretor teatral, mas continuou dirigindo filmes para a televisão – o último deles foi Saraband, de 2003, continuação de Cenas de Um Casamento. Morreu em 2007, aos 89 anos, deixando um legado infinito para o cinema, tanto por meio de seu trabalho quanto daqueles que influenciou.

Qual seu filme favorito de Ingmar Bergman? Deixe seu comentário e obrigado por ter lido!

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