Crítica: Louco Não, Doido (2021, de Alex Gibney)

O excelente documentário busca a resposta para algo que, até hoje, não sabemos ao certo. Porque algumas pessoas são capazes de matar e cometer crimes hediondos, enquanto outras não? Basicamente, tudo se resume ao cérebro. Confira o que achamos!

Nem só de Mindhunter vivem os curiosos sobre o tema, assim como John Douglas, o agente do FBI que deu início ao estudo sobre os assassinos em série e, não só isso, os classificou, muitas outras personas estavam a seu modo, estudando diversos assassinos. A Dra. Dorothy Lewis dedicou sua vida e carreira a essas pessoas, mas com uma abordagem um tanto quanto diferente, a forma que essas pessoas matavam não era de seu interesse, mas sim o porque eles o faziam.

O documentário é guiado por suas memórias e seus estudos, que começaram com crianças e jovens que tinham cometido crimes sérios, como assassinado ou tentativa de assassinato, ela notou um padrão nesses jovens, quanto mais grave o crime cometido, maior o abuso – físico, emocional, sexual – que essa criança tinha sofrido. Através de pesquisas e estudos ela notou que o cérebro delas era literalmente diferente do nosso (digo nosso porque acredito que você não seja um serial killer). Com o passar do tempo, ela começou a estudar adultos que demonstravam o mesmo padrão violento e assassino.

Segundo ela as pessoas simplesmente não nascem más, algo as transforma ao longo da vida. Assim como o pensamento filosófico de Jean-Jacques Rousseau “O homem nasce bom e a sociedade o corrompe.” E é aqui que para algumas pessoas, o documentário passa a ter a necessidade de se ter uma mente aberta. Segundo Lewis a maioria desses assassinos tinha transtorno de múltiplas personalidades, hoje conhecido como Transtorno Dissociativo, o que na época não era aceito. Muitos acreditavam que era parte de uma encenação, para enganar o júri ou quem quer que fosse. Apesar de todas as suas provas, Lewis foi ridicularizada grande parte de sua vida por colegas de profissão e pela sociedade em si, mas nunca desistiu do seu estudo.

Percebo também como o documentário toca em uma ferida sensível, que é a pena de morte, liberada em alguns estados americanos e, como o sistema judiciário americano erra diversas vezes, passando por cima de tudo e todos, somente para provar algo. Agora imagine você, ser a Dra. Lewis, que geralmente estava do lado dos assassinos, não para liberá-los da condição de seus crimes, mas para atenuar e não permitir que pessoas mentalmente doentes fossem julgadas e condenadas como sãs e ainda por cima, morrendo na cadeira elétrica. Não foi fácil para ela.

Amo documentários pelo simples fato deles nos darem um outro ponto de vista, muitas vezes elaborado demais para pobres mortais que jamais leram um livro de Freud, mas aqui, sinto que a direção de Alex Gibney foi primordial, para podermos entender de fato o que a Dra. Lewis queria de fato explicar e principalmente, nos fazer entender, seja eu ou não um profissional da área.

De fato somos levados pelos pensamentos de Lewis e sua prioridade quase inocente em entender esses homens e mulheres, que cometeram crimes tão terríveis, e ao mesmo tempo, ter um certo grau de empatia por eles, pois como ela mesma diz no documentário, ninguém nasce mau. O documentário me parece complexo e ao mesmo tempo de uma simplicidade exuberante. Conseguimos absorver toda a informação, mas no fim fica uma pergunta martelando na cabeça: “Será?”.

Será que todos esses assassinos eram de alguma forma inocentes? Em algum momento de suas vidas, eles já foram indefesos e principalmente, foram vítimas. Até que ponto a tortura, o sofrimento e a falta de amor influenciou no que essas pessoas se tornaram na vida adulta, e ainda assim temos a segunda onda de pensamentos que me diz, muita gente sofre no mundo e nem todas se transformam em monstros. Então, qual seria o limite? Existe de fato um limite em quem somos e no que podemos nos tornar um dia? Eu diria que todos somos capazes das coisas mais terríveis que possamos imaginar mas nem todos tem a coragem, ou escutam essas vozes que ecoam na nossa mente. Por fim, a grande pergunta que o documentário criou em mim, como espectadora é: até onde podemos suportar sem nos tornar aquilo que mais odiamos?

Documentário disponível na HBO Max.

Título Original: Crazy, Not Insane

Direção: Alex Gibney

Duração: 118 minutos

Elenco: Dorothy Lewis, Catherine Yeager, Park Dietz, Richard Burr, Laura Dern

Sinopse: O que torna algumas pessoas assassinas e outros cidadãos pacíficos? O documentário sobre crimes reais, examina a psicologia de assassinos com base em pesquisas da psiquiatra forense, Dorothy Otnow Lewis. Ela mostra como o cérebro é afetado por traumas e dedicou sua vida a examinar a vida interior de pessoas violentas. Em seu trabalho, ela entrevistou serial killers como Ted Bundy, Arthur Shawcross e Joel Rifkin, entre outros.

TRAILER:

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