Crítica: Round 6 (2021, de Hwang Dong-Hyuk)

A série de origem sul-coreana ganhou o mundo esse ano, sendo a mais assistida pela Netflix em 90 países, se tornando a maior série já vista pelo streaming. Acredito que muito dessa abertura, com novos conceitos e novas formas não hollywoodianas se deve ao fato de Parasita ter ganho o Oscar de Melhor Filme em 2020, abrindo portas e derrubando barreiras de pré-conceitos. Confira o que achamos da série a seguir!

Pode parecer simples, mas não tem nada disso na história. O roteiro consegue explorar a fundo os problemas sociais e a natureza humana, extrapolando por vezes os sentimentos mundanos com muita violência ou benevolência. Temos vários personagens extremos convivendo pelo prêmio bilionário. O dinheiro se torna secundário quando descobrimos, junto com os participantes do jogo, que o verdadeiro prêmio é a própria vida.

Por vezes, podemos notar algumas semelhanças com outros filmes, ou mesmo séries, onde os participantes precisam sobreviver a todo custo. A questão da violência e a aparente incapacidade das autoridades de lidarem com o fato, já que as pessoas que morrem, não são dadas como desaparecidas ou simplesmente ninguém se importar com elas, por serem pobres, ou terem algum problema com a justiça.

A série também consegue nos mostrar vários lados de uma mesma moeda. Quem é mais podre numa sociedade falida? Aquele que vende a alma para ganhar dinheiro ou aquele que dá o dinheiro para ver as almas sendo perdidas? No fundo há uma certa equidade na balança mas nem todos se encaixam. A série consegue demonstrar com sutileza as variáveis que levaram cada participante àquele exato momento. A clareza do momento só acontece quando o primeiro participante morre. Outro momento de clareza chega, não quando todos decidem sair do jogo, mas quando eles decidem voltar, pois, antes ter uma chance no jogo, do que desperdiçar a vida no mundo real. Não sei qual é o mais sentido para o telespectador, mas no meu caso, perceber que essas pessoas não tem outra escolha a não ser essa, é o que rege todo o tom da série dali para frente e nos faz entender um pouco mais sobre quem cada um é fora do jogo.

Tirando alguns personagens, onde fica claro que nunca tiveram uma chance de ser uma pessoa “boa”, o restante é uma mistura de ambos os lados. Tendo elas que fazer escolhas impossíveis, acabamos descobrindo a personalidade de cada um. Ninguém é de fato vilão ou mocinho, apenas foram os moldes onde foram criados, ou tiveram que tiveram de aprender para poder viver no mundo.

O roteiro toca fundo na ferida social e como somos levados e moldados por uma sociedade, que no fundo, só beneficia alguns. No fim, acabamos torcendo para vários personagens, que assim como na vida real, não teriam uma chance de vitória. A direção e o roteiro fizeram um trabalho genial ao mesclar brincadeiras de crianças – tão inocentes e sem maldade – num jogo traiçoeiro, trazendo à tona, por vezes, o pior de cada um. As escolhas das cores, sempre tão alegres e coloridas, contrastam com a tristeza que cada um carrega. A direção de arte também fez um trabalho excelente, utilizando de minimalismo, como a escadaria, um labirinto, onde ninguém sabia ao certo onde começava e acabava, escadaria essa muito conhecida no mundo artístico, onde foi inspirada na “Relatividade” de Escher, que ilustra um mundo onde as leis da gravidade são diferentes do mundo real. Outros diretores também utilizaram essa ilustração e a mais significativa até então, para essa que vos escreve é do diretor Lars Von Trier em A Casa que Jack Construiu, fazendo uma analogia, a escadaria seria a descida do personagem até o inferno.

Mesmo dentro desse absurdo todo, podemos ver a hierarquia sendo seguida e o que acontece quando alguém sai da linha. E pensar que a série demorou anos para ser feita porque ninguém acreditava na história. Talvez algumas coisas nunca mudem ou talvez estamos mais dispostos a enxergar o outro lado, o fato é que a série nos faz refletir sobre quem somos e como lidamos com essas escolhas. Nos faz chorar e sofrer e ainda sim, deixar um gostinho de quero mais.

Título Original: Round 6

Direção: Hwang Dong-Hyuk

Episódios: 9

Duração: 50 minutos aprox.

Elenco: Lee Jung-Jae, Park Hae-Soo, Jung Ho-Yeon, Tripathi Anupam, Oh Young-Soo, Wi Ha-Joon, Heo Sung-Tae, Kim Joo-Ryung, Lee Yoo-mi

Sinopse: Round 6, série sul-coreana original da Netflix, acompanha um grupo de pessoas desesperadas por dinheiro que recebem um misterioso convite para participar de jogos competitivos inspirados em brincadeiras infantis.

TRAILER:

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