Crítica: Espero Que Você Morra (2002, Valerie McCaffrey)

Espero Que Você Morra, no original Wish You Were Dead, é uma comédia de humor negro, com elementos de thriller, estrelada por Elaine Hendrix, Cary Elwes, Christopher Lloyd e Mary Steenburgen, e dirigida por Valerie McCaffrey.



No filme os caminhos da matadora de aluguel “Jupiter Music” e do corretor de seguros Macbeth “Mac” se cruzam desde o início. Enquanto ela realiza uma série de assassinatos nos arredores da cidade de Buda, a mando das esposas de homens canalhas, ele faz seu trabalho verificando possíveis fraudes de seguro. Durante uma destas visitas de verificação ele conhece Sally, uma mulher apontada pela seguradora como potencial golpista, que o seduz e engana para se tornar a única beneficiária de sua apólice de um milhão de dólares. É então que Jupiter é contratada para matá-lo, acreditando que se trata de mais um mau-caráter, mas tudo muda quando eles se apaixonam e juntos planejam virar o jogo a seu favor.

Esse é o tipo de comédia que se vale da total falta de escrúpulos de um grupo de pessoas dispostas a tudo para pôr as mãos em uma grande quantia de dinheiro, seja trapacear, corromper, trair e até matar para conseguir uma vida de luxo e riqueza. É certo que toda comédia faz uma crítica à sociedade, buscando fazer rir daquilo que percebemos como real, ou provável de acontecer, através de personagens ou situações que passam muito dos limites do aceitável. Com certeza, o que chama muito a atenção em Espero Que Você Morra é como as pessoas se criam na sociedade em que estão, pois cansadas de viver sob sua ideologia e conjunto de regras, que entendem que não os beneficiam como deveria, resolvem de alguma forma viver à sua revelia, sempre que possível dando aqui e ali o seu “jeitinho”, e mostrando que qualquer um pode “cansar de ser bonzinho”.

Na história as relações são tão passageiras, e baseadas apenas em desejo ou interesse, que o relacionamento de Macbeth e Jupiter, bastante improvável à primeira vista, contrabalança a total descrença no amor, e no bem, vivida pelas demais personagens. Embora sejam duas pessoas aparentemente diferentes, demonstram que há muito a se ganhar com a união de opostos, uma vez que vão crescendo e mudando juntos, e em muito se assemelham ao revelarem ser dois solitários, nunca tendo se permitido criar intimidade real com outra pessoa, além de terem vivido sob códigos de ética um tanto parecidos.

Elaine Hendrix se sai muito bem sozinha e com personagens menores, mas é na companhia dos principais colegas de elenco que muitas vezes ela se sobressai com as atitudes e o temperamento forte de Jupiter. Com Cary Elwes é o contrário, nas suas poucas cenas sozinho ele brilha um pouco mais porque Mac vai passando por uma progressiva mudança de caráter e entendimento, ainda que ao longo do filme agregue bastante a seus pares no desenvolvimento cômico da trama, com a sensibilidade e inocência que beira a cegueira. Christopher Lloyd se une bem ao casal para tramar o contragolpe, sendo uma das presenças que vai ganhando mais espaço e simpatia com seu jeito controverso. Mary Steenburgen abusa na medida certa como Sally, golpista evidente e sem nenhum senso, e a sua relação mãe e filha com Tanya, vivida por Tanya Ellen, é no mínimo intrigante.

A composição é muito bem feita e detalhada, seja pelos bons enquadramentos, que permitem uma visão mais ampla dos lugares e das situações, e que trabalha com vários planos que poderiam configurar um bom efeito dramático se a proposta não fosse o humor. Há o bom uso das cores e das luzes nos diversos ambientes em que as personagens transitam, e criação de atmosferas através de quadros, com efeitos de moldura que dão tons diferentes dependendo da intenção da cena.

Apesar de por vezes se mostrar divertido, falta um pouco de timing e fluidez, não só para a comédia como para a narrativa, que tem uma boa história, mas perde muito tempo em algumas passagens, o que tornou o final um pouco atropelado. E falta uma maior noção de identidade narrativa, pois com tantas referências e uso de elementos de diferentes gêneros, em vez de conseguir fazer funcionar, deu a sensação de que era “um filme com tudo dentro”, que de certa forma não tinha o seu diferencial tão bem representado quanto a proposta sugeria, e ainda conta com alguns excessos comuns às comédias norte-americanas. Nada que o desmereça de modo geral, apenas abrindo um parênteses sobre uma certa tendência apresentada pelos filmes de comédia, tanto que ele poderia ter feito muito mais sucesso do que muitos dos filmes que vemos por aí.


Título original: Wish You Were Dead

Direção: Valeria McCaffrey

Elenco: Cary Elwes, Elaine Hendrix, Christopher Lloyd, Mary Steenburgen, Tanya Ellen, Sally Kirkland, Gene Simmons.

Sinopse: Corretor de seguros se torna alvo de uma matadora de aluguel após ser seduzido e enganado por golpista, que pretende receber o dinheiro da sua apólice de um milhão de dólares.

Trailer:


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