Crítica: A Porta ao Lado (2023, de Julia Rezende)

Um filme nacional que acompanha a história de dois casais, vizinhos de porta, mas com foco nas personagens femininas. Não poderia estrear em outro momento, é a semana do Dia Internacional das Mulheres. De certo modo, é um filme feito por mulheres e com foco nas mulheres, pois é dirigido por Julia Rezende e tem a colaboração de Patricia Corso no roteiro.

L.G. Bayão (roteirista em 4×100 Correndo Por Um Sonho, 2016) e Leonardo Moreira (roteirista em 45 do Segundo Tempo, 2022) assinam o roteiro com Patricia Corso, mas quando digo que o filme é feito com o foco nas mulheres é justamente porque o roteiro evidencia isso quando destaca os dramas e dilemas enfrentados por Mari (Letícia Colin) e Isis (Bárbara Paz), enquanto seus parceiros acabam sendo ponte para relações e a amizade que os vizinhos acabam fazendo.

Mari (Colin) e Rafa (Dan Ferreira) são um casal na casa dos 30 anos e que moram juntos a pelo menos cinco. Rafa tem uma situação financeira melhor que a de Mari, pensando nisso ele resolve ajudá-la comprando um espaço para ela trabalhar e ter o seu próprio negócio. Ela abre um restaure e se torna a Chef do local. Tudo vai bem na vida dos dois, até o dia em que chegam os novos vizinhos.

Os vizinhos já chegam causando prejuízos, quebrando uma das janelas de Mari e Rafa durante a mudança. Eles são Isis (Paz) e Fred (Túlio Starling), um casal diferentão, eles tem um casamento aberto, ela é uma mulher mais velha e ele um cara mais jovem. São produtores de frutas, verduras e legumes orgânicos na fazenda que Isis herdou do pai.

O espectador, ao se deparar com esses contrastes, já percebe que aquilo não tem como dar certo. Principalmente, por causa de Mari, ela é uma pessoa que parece ter Transtorno de Ansiedade Social. Um problema que a acompanha desde garota, muito provavelmente pelos problemas enfrentados em casa, com os altos e baixos dos pais, algo que a personagem relata em alguns momentos durante o filme.

Quando passam a conviver com o casal de vizinhos, Mari e Rafa começam a se questionar sobre monogamia e outros assuntos pertinentes a relacionamento. Durante uma reunião na casa ao lado, eles se deparam com Isis beijando outra mulher, praticamente ao lado do marido Fred. O que os faz pensar se aquilo é certo, se é normal, se é ou não traição, etc.

Durante um bate-papo dos dois, eles concluem que não tem como ser normal aceitar o parceiro se relacionar com outras pessoas e ficar tudo numa boa. Em uma das falas de Mari, ela diz que “é desespero do casal”. Seria uma forma do casal tentar acender o fogo da paixão, provocando ciúmes no outro. Entretanto, fica nítido que os dois chegam a essa conclusão baseados no seu próprio relacionamento e nos que eles tiveram como referências em suas vidas.

Mari acaba se envolvendo com Fred, os dois mantém um caso escondido de seus parceiros. Até mesmo Fred que tem um relacionamento aberto, não conta para Isis sobre o seu envolvimento com a vizinha. Nessa relação extraconjugal, Mari começa a rever diversas coisas sobre o seu relacionamento, sobre si mesma e então acaba criando diversas paranoias. Muito provável que seja pela culpa que carrega, ao mesmo tempo pelo trauma herdado dos pais e que se torna um fardo, já que agora ela está fazendo exatamente o mesmo que eles.  

O filme dirigido por Julia Rezende tem um roteiro muito amarrado, bem desenvolvido e a diretora conduz muito bem a trama com os elementos e a belíssima fotografia. Um bom exemplo disso são dois elementos pontuais: o primeiro a imagem de um elefante, e segundo a guacamole.

Mari rouba a imagem do elefante da casa de Isis e Fred, e quando ele aparece de novo, Mari está tendo relações com Fred. Mari passa a suspeitar de Rafa, durante um jantar Rafa conta que o que a Mari faz de melhor na cozinha é o guacamole, ela descobre que essa é a senha do notebook dele e encontra conversas dele com outras mulheres. Para completar, após ele passar a noite fora, na manhã seguinte ela espera ele fazendo guacamole. São os elementos narrativos complementando a história, não apenas esses, mas tem outros também que enriquecem o texto.

A Porta ao Lado vem nos mostrar, através de Mari, que só quando você é tirado da sua zona de conforto que você avalia os seus conceitos de vida, o valor e importância das coisas que tem. Já com Isis verificamos que quando uma mulher é madura o suficiente, sabe quem é e o que quer, não tem homem, amor ou o que quer que seja que a faça mudar de ideia. Os casais passam a perceber os limites da traição, suas consequências e aceitações.

Título Original: A Porta ao Lado

Direção: Júlia Rezende

Duração: 113 minutos

Elenco: Letícia Colin, Bárbara Paz, Dan Ferreira, Túlio Starling, Dani Ornellas, Louise Cardoso

Sinopse: Rafa e Mari são casados e vivem um matrimônio tradicional e estável. A união segue tranquila até o dia em que o casal Fred e Isis se muda para o apartamento ao lado. Os novos vizinhos são adeptos de um relacionamento aberto, separam sexo de amor e decidiram não ter filhos. Esta forma de se relacionar desafia e provoca Mari, que começa a questionar o seu casamento.

Trailer:

O que você tem a dizer sobre os diferentes tipos de relacionamentos? Assista ao filme, prestigie nosso cinema, conte-nos o que achou!

Deixe uma resposta