Crítica: O Milagre (2022, de Sebastián Lelio)

O filme, que se passa no ano de 1862, traz em si um roteiro que parece simples e conforme o filme avança, percebemos que tem algo à mais acontecendo. Construindo a história em um ritmo lento, o longa é capaz de surpreender. Confira o que achamos do novo lançamento da Netflix!

Florence Pugh vem se destacando no cenário mundial, principalmente por seus filmes da Marvel, mas o certo é que suas atuações vão muito além de socos e GCI. Filmes memoráveis como Midsommar – O Mal Não Espera a Noite vem fazendo com que o público fique cada vez mais encantado com seu trabalho. E não seria diferente em O Milagre.

Particularmente, achei que poderia ser mais um filme despretensioso e até mesmo religioso, mas estava errada em parte. O filme nos leva à uma época onde a religião era dada como verdade e todo o resto poderia muito bem ser deixado em segundo plano. Até mesmo superstições tem muito mais espaço do que a ciência e a medicina, e é nesse cenário que a enfermeira Wright (Pugh) chega no vilarejo para observar uma criança, onde supostamente, está a meses sem se alimentar de nada, além da palavra de Deus. A partir disso, passa a ser conhecida como “o Milagre”, onde recebe pessoas e passa seus dias em oração.

Sem entender ao certo qual seria seu trabalho, a enfermeira chega à casa da família, que é afastada do vilarejo, e percebemos que são de fato muito pobres. Para ajudar na tarefa de observar essa criança, o “comitê”, assim intitulado por homens poderosos, coloca também uma freira para fazer anotações do tempo em que Wright (Pugh) esteve com a jovem.

Conforme o filme vai passando, fica difícil saber se a criança é alguma escolhida por Deus, já que sua fé e fervor em relação à religião nos fazem pensar que sim, e do outro lado do pêndulo temos a sua enfermeira. Uma mulher que não precisou dizer uma palavra sobre, mas que sabíamos não acreditar ou não levar tão as cegas a religião como o povo daquele lugar. Seu figurino diz muito, já que passa boa parte do filme usando um vestido azul, o que remete a racionalidade e misticismo. Muito pelo contrário, tomava notas e cuidava da menina com devoção, mas nunca deixou se levar pelo que os outros falavam ou criam.

Não só de religião queriam se aproveitar aqueles que a contrataram, até mesmo o médico da cidade tinha uma própria versão dos fatos, desmerecendo por vezes as investidas de Lib para interromper a observação e tomar medidas para tratar sua saúde. Parece que ela estava cercada por pessoas que, à todo custo, queriam provar que ela estava errada e que a verdade não poderia ser considerada.

Sem entrar em detalhes para não dar spoilers, a verdadeira razão por trás das atitudes de Anna (Kila Lord Cassidy) são muito mais mundanas e amargas do que uma bênção divina. Se pararmos para observar o cenário onde se passa a maior parte dos arcos, a casa afastada do vilarejo, sempre somos remetidos a momentos de escuridão e falta de cores quentes. Dentro da casa, sempre estava escuro, mesmo com a chaminé acessa ou com flashes de luzes marrons e/ou amarelos, que geralmente simbolizam humildade, aflição, penitência e sofrimento. Tudo o que a personagem estava passando.

Também é interessante notar que a única vez que a Sra. Wrigth se alimenta junto à família é no começo do filme, quando todos ainda fingem que está tudo bem. Logo após isso, com a evolução do filme e seu entendimento, todos se afastam e ela passa a ter cenas onde se alimenta sozinha. Com o olhar fixo, como se fizesse algo manual e automático, desprovido de prazer.

O filme é uma reflexão triste sobre como as pessoas enxergam o que elas querem enxergam e como somos levados a crer na mesma coisa quando não aceitamos a verdade. Todo ele é envolto após uma grande fome que aterrorizou a região e onde todos estavam famintos por um milagre, seja ele qual fosse. O filme é denso, pesado, triste e infelizmente é inspirado em uma história real, que supostamente aconteceu entre os anos de 1800 e 1900, com uma jovem chamada Sarah Jacob. Sendo verdade ou não, espero que a garota que passou por todos os acontecimentos retratados no filme, tenha tido um final tão satisfatório quanto a apresentada no filme.

Título Original: The Wonder

Direção: Sebastián Lelio

Duração: 115 min

Elenco: Florence Pugh, Tom Burke, Niamh Algar, Elaine Cassidy, Dermot Crowley, Brían F. O’Byrne, David Wilmot, Ruth Bradley, Caolán Byrne, Josie Walker, Ciarán Hinds, Toby Jones, Kíla Lord Cassidy

Sinopse: Em 1862, uma enfermeira inglesa assombrada por seu passado vai até um remoto vilarejo irlandês para investigar o jejum supostamente milagroso de uma jovem.

TRAILER:

Diz para a gente o que achou! E até a próxima!

Deixe uma resposta