Argentina, 1985: um lembrete do horror da ditadura militar

Argentina, 1985 é facilmente um dos melhores filmes do ano, com um roteiro brilhante e forte candidato ao Oscar na categoria de Melhor Filme Internacional, representando a Argentina, obviamente. Disponível na Amazon Prime Video, este filmaço merece ser conferido pelos brasileiros já, “para ontem”, pois reata automaticamente as ligações que nosso país vem passando recentemente, politicamente falando.

Em tempos onde ignorantes (por falta de adjetivo melhor), pessoas sem conhecimento de mundo e vida real, pedem por intervenção militar ou federal, Argentina, 1985 é um belo lembrete do que os militares corruptos e assassinos fizeram na américa latina poucas décadas atrás.

Aqui na obra, pouco tempo após o término da ditadura argentina, os militares de tal regime caem em um histórico julgamento civil, em vez de um julgamento militar padrão (e mais brando). Então, um grupo de promotores civis passam meses juntando relatos e provas das piores barbáries cometidas pelas autoridades durante o regime, para assim montarem seu caso e apresentarem à corte.

Com um fiel recorte dos fatos históricos, aliados à uma criação de época palpável e realista, somos imediatamente imersos no país no auge dos anos 80, com características bem especificas e identificáveis da época, mas sem enfeitar demais aquele lado POP que geralmente o cinema faz com a década oitentista. De forma calma, o exímio roteiro vai costurando os acontecimentos na ordem certa. Primeiro, o receio dos promotores em baterem de frente com os poderosos militares e as ameaças que os mesmos recebem ao começarem os trabalhos. Na sequência, os tristes relatos de vítimas e/ou familiares que foram agredidos, sequestrados, estuprados, torturados ou mortos covardemente. Por fim, o processo judicial, o desfecho e como isso impacta a sociedade argentina.

O trabalho de escrita do roteiro acerta tudo no ponto, sem melodramatizar em excesso, mas com uma direção que na metade final, mantém a mão firme ao dar a voz às vítimas e seus chocantes relatos, de partir o coração. Com isso, o filme outrora brando no seu terço inicial, potencializa-se no segundo e terceiro atos, trazendo a angústia dos promotores de acusação, que claramente estão em risco e sendo perseguidos, e a dor daqueles marcados cruelmente pela ditadura.

As atuações são magníficas, sem exceções. Juan Pedro Lanzani entrega um jovem promotor inexperiente, mas determinado. Já o magnífico Ricardo Darín, o maior ator da história da Argentina, entrega mais um grandioso e difícil trabalho, um de seus melhores arrisco dizer (o que é um elogio gigantesco, já que ele possui dezenas de grandes personas). Seu personagem é o icônico Julio César Strassera, um veterano promotor que carrega a sede de justiça, mas também a experiência, cansaço e sensatez de saber que as coisas são difíceis e que tudo joga contra eles. Há muitas camadas no seu personagem, muita coisa não dita, visível em sutis posturas de Strassera.

Com uma bela trilha sonora, com canções da época e visual realista e sofisticado, o acerto do longa é justamente dar a voz àqueles que sofreram na ditadura, e trazer a coragem daqueles que lutaram para punir os culpados dos hediondos crimes políticos desse sombrio momento histórico de nosso país vizinho. Momento que temos em comum.

O Brasil vive uma insurreição do fascismo militar e conservador, onde na internet deu-se voz àqueles que não deveriam ter voz, utilizando de fake news e crimes (sim, preconceitos são crimes) para inflar uma tentativa de trazer alguns horrores à tona. Tal situação está escancarando o quanto a luta contra o fascismo é constante e que aqui, lembrar a história através da educação, dos fatos históricos, dos livros e da arte são peças fundamentais nessa guerra.

Em tempos em que pede-se intervenção militar (deveria ser psiquiátrica), um dos grandes filmes do ano vai no âmago do assunto. Parafraseando uma fala do monólogo (discurso) final, é dito um alto e claro lembrete de que:

ditadura, nunca mais!

Título Original: Argentina, 1985

Direção: Santiago Mitre

Duração: 140 minutos

Elenco: Ricardo Darín, Peter Lanzani, Claudio Dá Passano, Brian Sichel, Norman Briski.

Sinopse: Um grupo de advogados desafia a ditadura militar na Argentina dos anos 80.

Trailer:

Já assistiu esse filmão? Está esperando o quê? Olhe agora na Amazon Prime Video!

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