O Telefone Preto (2022, de Scott Derrickson)

O novo terror de Scott Derrickson pode decepcionar um ou outro fã que espera um filme sobre espíritos vingativos ou entidades demoníacas, mas O Telefone Preto trata de outro tipo de medo, ainda mais assustador por se tratar de algo com o qual lidamos diariamente, o medo de sair na rua e nunca mais voltar para casa.

Utilizando de uma estética setentista e oitentista, que lembra sucessos recentes como Stranger Things por exemplo, o filme narra a história de Finney, um garoto comum, com quem a vida não costuma ser muito simpática. Ele vive com seu pai, alcoólatra e abusivo; e sua irmã, que pode se dizer que se não é a única pessoa que gosta dele é sem dúvida a que mais gosta.

Esse é alias ao meu ver o tema central da trama, o amor fraternal e como ele é importante para que aqueles personagens possam tentar superar as adversidades e perrengues da vida. E quando Finney se torna a mais nova vítima de um sequestrador que está há tempos aterrorizando a comunidade, ao se ver preso em um porão com nada além de um colchão velho e um telefone desligado na parede, ele logo se resigna e imagina ser seu fim, mas é o amor que sente pela irmã que o faz ter forças para inicialmente deixar de lado as dúvidas sobre sua própria capacidade de sair daquela situação.

E é também esse amor que faz com que em casa, Gwen interpretada por uma fenomenal Madeleine McGraw, sinta-se culpada pelo desaparecimento do irmão. Sensitiva, capacidade que herdou da mãe, Gwendoline costuma sonhar com as crianças sequestradas e se empenha de todas as formas para descobrir o paradeiro de seu irmão, isto porque de certa forma, ela também está presa naquele porão mofado, parte dela também está prestes a ser morta se o irmão não voltar.

O filme baseou seu roteiro num conto de Joe Hill e não se priva em fazer referências a lenda Stephen King, pai de Joe, mas o faz de forma sutil, com um detalhe na chuva ou uma frase solta. O que poderia se tornar um clichê na mão de Derrickson resulta em um trabalho elegante e satisfatório. É preciso destacar também o trabalho do maquiador Tom Savini, responsável por criar as máscaras que ditam a personalidade do sequestrador, ora horripilante, ora ameaçador, ora até mesmo confuso, quase que triste, mas de nada serviria todas essas máscaras se por trás delas não estivesse um ator com a capacidade de Ethan Hawke, que entrega aqui mais uma atuação de alto calibre, sem mostrar o rosto totalmente sem maquiagem ou mascara, nenhuma única vez durante toda a projeção.

Por todo o desenvolvimento e beleza do trabalho, não me surpreenderia se a obra em alguns anos se tornar uma referência para os cinéfilos, por demonstrar como é possível com simplicidade e talento, fazer um filme de terror pautado no sobrenatural sem que seja esse realmente o fator crucial para o medo intrínseco que se espera estar contido num trabalho desse gênero. Aqui o sobrenatural é na verdade o mecanismo de escape e alívio das personagens, como quando notamos que o poder da mãe se dividiu entre os filhos e se na mãe era uma maldição que a arruinou, dividido entre Finney e Gwen pode ser a única arma da qual eles dispõem para tentar se salvar do mal que caiu sobre eles. É neste ponto que notamos que mesmo na presença do sobrenatural, o mundo real é muito mais assustador.

Título Original: The Black Phone

Direção: Scott Derrickson

Duração: 103 minutos

Elenco: Mason Thames, Madeleine McGraw, Ethan Hawke.

Sinopse: Após ter sido raptado por um assassino de crianças e trancado num porão à prova de som, um menino de 13 anos começa a receber chamadas num telefone desligado das vítimas anteriores do assassino.

Trailer:

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