Crítica: Heleno (2011, de José Henrique Fonseca)

Heleno de Freitas. Um jogador de futebol absolutamente brilhante, um dos maiores ídolos da história do Botafogo de Futebol e Regatas, uma das maiores estrelas do futebol brasileiro em sua época e um dos maiores personagens da história do nosso futebol. Um homem falho, mulherengo, alcóolatra e desrespeitoso. Determinado, devoto ao clube e disposto a fazer de tudo para vencer, mesmo que isso envolva humilhar um companheiro de time na frente do resto dos jogadores. É sobre essa dualidade entre o brilhante jogador de futebol e o ser-humano cheio de falhas que esta cinebiografia busca tratar.

O diretor e o diretor de fotografia Walter Carvalho fazem a escolha pela fotografia em preto e branco, que não poderia ser mais apropriada por alguns motivos: primeiro, por evocar certos filmes que se relacionam tematicamente com esse – é inevitável a comparação com Touro Indomável (1980, de Martin Scorsese) especialmente por tanto Heleno quanto Jake LaMotta serem dois esportistas, mas também dá pra relacionar com Farrapo Humano (1945, de Billy Wilder) – segundo, por ser um filme muito melancólico, especialmente quando vemos a parte final da vida de Heleno, e, por último, por se tratar fundamentalmente de um filme sobre o contraste do brilhante jogador de futebol Heleno de Freitas com o extremamente falho homem Heleno de Freitas, e nada melhor para ilustrar esse contraste do que a cinematografia em preto e branco.

A dupla também faz com que o filme pareça ter sido rodado nos anos 40 – apesar de alguns planos específicos serem exceções – por meio de seus ângulos, o figurino de seus personagens e detalhes menores, como o cabelo levemente desajeitado para sugerir o descontrole do personagem, seja sobre ele mesmo ou sobre uma situação.

Uma das melhores decisões do diretor se mostra quando, ao longo do filme, vemos a deterioração física de Heleno, mas, quando ele consegue jogar no Maracanã, temos novamente, por um segundo, a caracterização que víamos dele enquanto estava no auge de sua carreira, quando se sentia realizado. É um estudo de personagem executado com extrema competência, acompanhando os igualmente melancólicos fins de sua carreira e de sua vida.

O diretor também se destaca em alguns planos, como quando resolve filmar o icônico discurso de Heleno – “Meu Botafogo não é lugar de covardes!” – em um plano só, aonde consegue construir a indignação de Heleno sem corte nenhum, ou quando usa pela única vez no filme a câmera na mão, após Heleno ser inexplicavelmente vendido pelo Botafogo, o que ilustra a turbulência mental do jogador naquele momento.

Mas é óbvio que o filme não seria tão bom caso não fosse a excepcional performance de Rodrigo Santoro, que mergulha em seu personagem de maneira impressionante. O ator está perfeito em absolutamente todas as cenas, mostrando com maestria desde a juventude cheia de confiança e egocentrismo de Heleno até seu deprimente final. É uma transformação física que deixa o ator irreconhecível – com ajuda da impecável maquiagem – mas em nenhum momento ele faz disso o principal ponto de sua performance; o importante aqui é a mente de Heleno, que o ator entende e representa de maneira impecável.

No entanto, o filme não é perfeito. Há uma tentativa de relacionar os impulsos de Heleno envolvendo sua arma com a seu gosto pelos filmes de John Wayne, que soa tola e fora de propósito, e o final enfraquece o filme ao inserir uma narração totalmente desnecessária, que demonstra uma falta de confiança no público, pois ela apenas verbaliza o que já foi mostrado durante o filme inteiro. Não que isso diminua a qualidade do filme, pois ele é, certamente, uma das melhores cinebiografias brasileiras da última década.

Título Original: Heleno

Direção: José Henrique Fonseca

Duração: 1h56

Elenco: Rodrigo Santoro, Alinne Moraes, Angie Cepeda, Erom Cordeiro, Mauricio Tizumba, Duda Ribeiro, Orã Figueiredo, Jean Pierre Noher, Othon Bastos, Herson Capri, Juliana Lohmann, Luka Ribeiro, Fernando Caruso, Gregório Duvivier, Marcelo Adnet, Rafael Queiroga

Sinopse: A cinebiografia conta a gloriosa e tragica história do jogador Heleno de Freitas, ídolo do Botafogo e um dos jogadores mais populares de seu tempo.

Trailer:

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