Em 1989, Larry David se juntou ao comediante Jerry Seinfeld para criar um sitcom para o canal NBC. David queria produzir algo diferente do que outras comédias já faziam na televisão americana. Uma série de comédia que fugisse dos moldes estabelecidos até então. O lema de David no set da série era “sem abraços, sem aprendizado”, ou seja, o roteirista queria escrever uma comédia que em nenhum momento apelasse para o lado emocional do público e onde os personagens fossem pessoas egoístas e egocêntricas, sem nenhuma intenção de melhorar. Assim surgiu Seinfeld: uma das melhores produções cômicas já feitas até hoje.
Até então, a maioria das séries de comédia tinham convenções bem comuns e recorrentes: os protagonistas representavam uma noção de moralidade, os conflitos eram sempre resolvidos ao fim dos episódios e os personagens sempre estavam dispostos a melhorar. Séries populares nos EUA como I Love Lucy, The Mary Tyler Moore Show e Cheers seguiam essa premissa básica. Mesmo quando os personagens tinham personalidades fortes e faziam comentários ácidos uns sobre os outros, no fim do dia existia um laço afetivo forte entre eles, e eles eram representados como agradáveis e simpáticos. Mas Seinfeld chegou para quebrar com tudo isso.
O lema “sem abraços, sem aprendizado” de Larry David foi levado a sério até o final da produção em 1998. O series finale de Seinfeld foi um dos mais revolucionários para um sitcom e divide opiniões até hoje. A decisão de encerrar a série sem um final feliz, com um tom extremamente cético e niilista, foi a cereja no topo de uma das maiores obras cômicas da TV americana, provando que ainda havia muito espaço para ideias novas. Seinfeld abriu um novo caminho para todas as séries de comédia que vieram depois (desde Two and a Half Men até The Good Place) e provou que uma comédia não precisa seguir regras para ser boa. Muito pelo contrário, quebrá-las é sempre muito melhor.
A série explora as convenções de situações cotidianas como um jantar entre amigos ou um batizado. Em todos esses contextos, Larry sempre é a pessoa inconveniente que quebra todas as regras sociais implícitas. Ou ele reclama da comida na cara do anfitrião da festa ou se recusa a tirar os sapatos quando entra na casa da pessoa, mas sempre encontra uma forma de ser grosseiro quase que ingenuamente. Larry ficou conhecido como um “assassino social” por desrespeitar toda e qualquer norma de convivência.
O que torna Curb Your Enthusiasm tão especial é o roteiro brilhante de David (sim, ele escreveu todos os episódios da série) que sempre aproveita ao máximo todos os elementos apresentados durante o episódio. O enredo da comédia sempre faz um círculo perfeito juntando todos os subplots no ato final, sem deixar nenhuma ponta solta. Nada é trivial em Curb Your Enthusiasm, tudo tem um propósito.
Tanto as temáticas exploradas, quanto a estrutura narrativa da série foram extremamente inovadoras para a época, envolvendo o público com histórias que não necessariamente seriam aprofundadas. Os personagens não crescem, não existem arcos narrativos longos, nem casais para o público torcer. São apenas pessoas desagradáveis vivendo a vida. Como diz Saul Austerlitz em seu texto How Seinfeld Revolutionized the Sitcom para o IndieWire: “Seinfeld é uma maestral investigação sobre as insignificâncias da vida”. Ou como os próprios criadores afirmam: “Uma série sobre nada”.
Com Curb Your Enthusiasm, Larry David levou essa investigação do cotidiano a outros níveis, explorando profundamente as menores trivialidades sociais. O roteirista foi perspicaz ao dar atenção em suas obras a temáticas que são tão corriqueiras que a maioria das pessoas ignora, mas todo mundo vive. Por isso, David é, sem dúvidas, um dos maiores escritores de comédia da sua geração.