Crítica: Luca (2021, de Enrico Casarosa)

 

Ultimamente grandes
produções de estúdio costumam apostar em ideias que tenha um caráter de projeto
autoral, no sentido de que muito do que se vê numa produção é o que o diretor ou
roteirista emprega como sua assinatura e até mesmo um traço de sua história. A
Pixar, famosa pioneira da animação 3D, assumiu esse caráter após a sua
incessante chuva de continuações de franquias já consolidadas e deixou muito de
seus animadores apostar em ideias originais e em roteiro próprios. Já tivemos a
iniciativa
Sparkshorts, atração do Disney+ onde vemos curtas mais
autorais desenvolvidos por animadores do estúdio, e no cinema tivemos casos
como o longa do ano passado,
Dois Irmãos: Uma jornada Fantástica, que
possuía uma base pessoal do diretor do filme pela relação fraternal com o seu
irmão, além do ambicioso
Soul, que por mais que muito se deva ao
trabalho de Pete Docter para contar uma história complexa sobre espiritualidade,
a co-direção de Kemp Powers, um homem negro, foi muito crucial para empregar a
tradição do Jazz e da relações pessoais com o povo negro em Nova York
para tornar a obra muito mais próxima e fiel à identidade de seu protagonista.

Agora em seu novo longa, Luca,
animação que infelizmente por conta da pandemia teve seu lançamento nos cinemas
cancelado e foi lançado exclusivamente no streaming da Disney sem custo
adicional, comandado pelo veterano na equipe de animação do estúdio, Enrico
Casarosa em seu primeiro longa-metragem, é seguro dizer que este novo longa
pode ser o mais autoral e mais único na assinatura de produção na história da
Pixar, desde traços de personagens, estilo visual e narrativo e espírito de
cultura transbordando em seus 90 minutos de duração.

O longa narra a história de
Luca, um monstro marinho que mora no oceano perto da Riviera italiana que tem
muita curiosidade na vida da terra dos humanos, até que um dia ele acaba
fazendo amizade com Alberto, um outro monstro marinho que já se habituou com a
vida fora do mar. A amizade dos dois se torna tão forte que eles acabam fugindo
de casa e vão para um vilarejo perto da costa, onde com ajuda de uma nova
amiga, eles partem para encontrar uma forma de realizar o sonho de conhecer o
mundo

Casarosa, como já foi dito,
é um veterano de longa data na Pixar, trabalhou em longas importantes no
estúdio, como UP e Ratatouille, porém o mais evidente que ele
demonstra em seu primeiro filme é uma forte homenagem às suas raízes. Tendo
nascido na Itália, ele não esconde em nenhum momento como a história de Luca e
Alberto tem muita base de seu passado com sua terra natal, com uma construção
fiel das cidade costeiras reais com o que é visto no filme e inúmeras homenagens
aos traços do cinema italiano, Casarosa guia esta história de maneira delicada e
com carinho, afinal, segundo o próprio diretor, a amizade dos dois
protagonistas é inspirada na amizade real que ele teve com um amigo muito
querido na sua infância que também se chamava Alberto.

O tema central do novo filme
é de fato a amizade, e não vai muito além disso, tirando o fato de que Casarosa
utiliza de maneira sutil a diferença de humanos e monstros marinhos, que aliás
é muito frequente em lendas locais nesses vilarejos litorâneos, para abordar
preconceito e autodescoberta, principalmente na parte de Luca cuja amizade com Alberto
o faz descobrir ele próprio e querer entender o novo mundo diante dele. A amizade é o que move a história, que flui de maneira muito
orgânica e bem corriqueira, o que por um lado peca pela rápida resolução
encontrada no seu terço final, sendo muito rápida e soando como se os
roteiristas não soubessem como finalizar a bela história que queriam contar.

Mas nem isso tira o mérito do
filme, cujas duas qualidades essenciais das produções estão sempre presentes.
Uma é a questão do cuidado gráfico e direção de arte empregada no longa constantemente,
sendo muito fiel a identidade cultural da Itália que consegue soar muito
nostálgica mesmo para quem nunca conheceu esses locais, assim como seus respectivos
personagens com traços e formas muito diferentes dos personagens muito habituais
em suas produções.


E outra questão que é fundamental e tida como meta principal de cada produção Pixar é o cuidado com o enredo e como ele
sabe se conectar com o espectador de diversas formas, sendo adulto ou infantil.
Graças ao charme da amizade dos protagonistas, é fácil se conectar e torcer muito
com o andar da história, partindo para o lado infantil que se encanta pelo visual
colorido, ou adulto se encantando e sentindo impacto com a identificação de alguma história
da infância.

Pessoas mais exigente correm
o risco de acusar que Luca é muito superficial comparado ao histórico da
Pixar que sempre se arriscou em abordar territórios complexos e difíceis para se
traduzir em imagens, como foi o caso do longa anterior, o Soul, só que
nesse caso, a animação de Casarosa não possuiu uma ambição necessária para
empregar pensamentos e debates contínuos sobre os temas em si, e sim busca
fazer uma história que aborda o valor de cuidar um do outro e o que é necessário
para se manter unido, tendo as características necessárias para ser tão
evidenciado e, possivelmente no futuro, querido na filmografia do estúdio.

Apostando em algo mais direto
e simples, porém com beleza e carinho pela cultura, tendo uma boa devoção do diretor
pelo seu próprio passado, Luca é mais uma belíssima adição ao grande histórico
da Pixar, provando que as iniciativas de apostar em ideias originais de novos
talentos que estão no meio dos animadores, trabalhando em futuros projetos, possibilita a chance de trazer histórias e personagem que conseguem atrair toda a família e pelo
menos ter uma pequena chance da cativar um público que adora animação.

Título Original: Luca

Direção: Enrico Casarosa

Duração: 95 minutos

Elenco: Jacob Tremblay, Jack Dylan Grayzer, Emma Berman, Saivero Raimundo, Maya Rudolph, Marco Barricelli.

Sinopse: Dois monstros marinhos formam uma forte amizade pelo desejo de conhecer o mundo fora do oceano, o que levam a fingir serem humanos num vilarejo na Riviera italiana e conhecer novas amizade e inimigos que impedem de seguir com seus sonhos.

Trailer


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