A Equipe Comenta: Bom Dia, Verônica (2020)


Qual é a ligação entre um inesperado suicídio e uma ligação anônima de uma mulher clamando por sua vida? Em sua busca por respostas, a policial Verônica Torres acaba desencavando mistérios muito maiores do que esperava, convidando o espectador a um pacto intrigante, capaz de atormentar os pensamentos e reflexões de cada um, até mesmo após o final deste thriller hipnotizante.

Inspirado na obra homônima de Andrea Killmore (“Kill” Mate; “More” Mais? Nada em uma investigação é coincidência), pseudônimo de dois gênios do gênero: Ilana Casoy — criminóloga e escritora, Casoy se dedicou a estudar perfis psicológicos de criminosos, com foco nos serial killers. Tem mais livros publicados pela editora Darkside Books, todos analisando casos reais; e Raphael Montes,— autor publicado internacionalmente — a série oferece uma história extremamente relevante e atual, debatendo relacionamentos abusivos e violência contra a mulher como pano de fundo.


Apenas em abril deste ano, ainda no início do período de quarentena, as denúncias de violação aos direitos das mulheres aumentaram em 36% em comparação ao mesmo mês em 2019. Muito deste aumento drástico no número de casos de violência doméstica está intimamente ligado, justamente, com o fato de a vítima se ver “trancada” junto a seu agressor. Isso sem contar dados coletados, apontando para mais de 50% que ainda não chega a denunciar, seja por falta de conhecimento ou por não se sentir segura.


É importante ressaltar, conquanto, que os relacionamentos abusivos não se limitam a agressões físicas. Como apontado na série, palavras e comportamentos também configuram toxicidade na relação. Fazer o outro se sentir inferior, constantemente nervoso, triste ou ansioso; traição seguida de culpabilidade; jogos psicológicos; aos poucos afastar a pessoa de todos os conhecidos a ponto de se tornar a única fonte de segurança e sociabilidade; sentimento de dependência; ameaças e chantagens são alguns exemplos de possíveis alertas. Caso você se encontre nessa situação ou conheça alguém que esteja, a série vai além de apenas alertar e divulgam o número da própria Verônica, no qual mulheres podem receber apoio de especialistas. O número é (21) 3747-2600. Isso não exclui a importância da denúncia no 180, então precisando, busque ajuda!

E confira abaixo o que nossa equipe achou da nova produção brasileira para a Netflix

Natália Rosso

Depois de
provar que a literatura brasileira também produz excelentes
thrillers, a adaptação do livro Bom Dia, Verônica veio para
consolidar as produções da Netflix Brasil com um nível de qualidade presente
nos grandes suspenses internacionais. Com um roteiro fiel ao livro lançado pela
editora DarkSide, excelentes atuações – com destaque para a brilhante Tainá
Muller no papel da protagonista – esta é uma série que equilibra muito bem os
momentos de tensão e de dramaticidade, resultando em um produto capaz de
agradar não somente os leitores familiarizados com o livro, mas também qualquer
espectador interessado em uma boa história – muito bem contada, por sinal. 

Nota: 8

Amanda Alves


Sou
fã de carteirinha do Raphael Montes e desde que li o primeiro livro desse
autor, que no meu caso foi Dias Perfeitos, só conseguia pensar em como seria
uma adaptação de alguma de suas obras para o audiovisual. 
Quando
tomei conhecimento de que Bom dia, Verônica seria adaptado, minhas
expectativas eram bem altas, e junto com a vontade de assistir, também veio o
receio de que não estivesse à altura da obra que foi escrita em conjunto com
Ilana Casoy.

Ouso
dizer que a produção da Netflix é uma das melhores, senão a melhor produção
brasileira dos últimos tempos. A partir do momento que se dá play no primeiro
episódio, é impossível parar de assistir. 
As
adaptações do roteiro, com ganchos no final de cada episódio, foram
fundamentais para aguçar o espectador e mantê-lo imerso na produção. 


Tainá
Muller conseguiu captar a personalidade de Verônica e entrega uma performance
bem crível. Porém, é inegável que os grandes destaques ficam com Camila Morgado
e Eduardo Moscovis. 
Camila,
na pele de Janete, consegue traduzir na sua linguagem corporal, e até mesmo no
olhar, o que é ser uma mulher que está num relacionamento abusivo, e sofre
constantemente violência física e psicológica.

Falar
sobre temas como corrupção no serviço público, machismo, e violência contra a
mulher, é difícil e pode trazer gatilho para muitas pessoas, porém é
completamente necessário, visto que esses temas são muito presentes na
sociedade. 
A série atendeu às minhas expectativas, que eram bem altas, e já recomendei
e continuo recomendando para todos os conhecidos. 

Nota: 9,5

Ana Paula


Bom dia, Verônica logo no início do livro de Raphael Montes e Llanna Casoy, soa como um pedido de socorro pra quem já liga pra DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoa) de São Paulo sabendo com quem quer falar e claro essa pessoa é Verônica. Na série dirigida por José Henrique Fonseca e roteirizada pelos autores Montes e Casoy, quem dá vida a escrivã da polícia Verônica é Tainá Muller, destemida e que não sossega até concretizar uma investigação mesmo não sendo função dela. 

Um dos casos que Verônica acaba se envolvendo até o pescoço é o de Janete (Camila Morgado) que é agredida pelo marido e também policial militar Cláudio Brandão (Eduardo Moscovis), mas ela vai descobrir que o buraco é mais em baixo quando perceber que está lidando com um psicopata e assassino em série. Em contrapartida vai descobrir que a própria delegacia que trabalha está envolvida com muitas coisas erradas e que é tudo muito maior e pior do que ela imagina. 


A série é espetacular, e não fica atrás de uma produção hollywoodiana, pois trabalha bem o suspense, a tensão e o terror psicológico. Levantando temas importantes como a misoginia, violência doméstica e os problemas de segurança pública de modo genuíno.

Nota: 10

Léo Costa


Bom Dia, Verônica é uma série nacional que ainda cai em alguns exageros hollywoodianos, assim como o seu roteiro traz alguns clichês e estruturas que visam manipular as emoções do público com o intuito de ter ganchos para sua continuidade. No entanto, a série também é muito bem feita no geral, especialmente na tensão criada em cima do suspense e das situações extremas, beirando o terror psicológico. 

Nosso país vive numa espécie de crescente do conservadorismo e as consequências dele: aumento de racismo, preconceitos e no caso aqui da série, machismo e agressão de todas as formas contra a mulher. O machismo (e os crimes que o acompanham) são estruturais, vem desde os poderes públicos, afinal, não por coincidência temos um “despresidente” machista e racista. Assim a série explora isso de forma explícita, mostrando os desafios da protagonista dentro desse sistema.

Tainá Müller atua muito bem, mas é a coadjuvante Camila Morgado que brilha com uma atuação espetacular. Embora sua personagem seja uma vítima manipulável, ela realmente reina em cena, mesmo que de forma desesperadora. Bom Dia, Verônica precisa melhorar alguns aspectos aqui e ali, principalmente no texto do roteiro por vezes explícito demais, mas em épocas em que o país vive uma ignorância explícita, assumida e orgulhosa, a série é bem-vinda e uma grata surpresa nacional. 

Nota: 7

Vítor Ribeiro

Lutar contra o sistema opressor operando de dentro dele, conciliar família e uma profissão perigosa, ter ajudar de um expert em tecnologias, estar diante de uma organização que parece infiltrada em todas as esferas da vida pública: tem-se aí uma série de clichês de filmes e séries de ação que Bom Dia, Verônica assume sem nenhum constrangimento em sua narrativa. Para além da já habitual condução sem sustos e sem propostas interessantes da linguagem audiovisual da Netflix – Christian Dunker, você está louco? –, a série brasileira é um grande amálgama de contextos inverossímeis, atuações escabrosas – ressalva feita a Camila Morgado, as demais atuações são dignas de um esquete de Hermes e Renato –, desfechos previsíveis, críticas superficiais e frases de efeito sem imaginação.

A nota mais baixa da série, contudo, fica por conta do “elemento indígena”, uma espécie de cor local romântica colocada por desencargo de consciência. Ali, vê-se como as práticas do personagem de Du Moscovis estão condicionadas a uma espécie de reza realizada por sua avó, em um cenário permeado por animais empalhados e chás misteriosos. Francamente, ver em 2020 uma produção que se diz engajada situar como meramente místicas – em verdade, praticamente satânicas – práticas da cultura popular, para então atrelá-las ao lado das vilezas do personagem mais baixo da série, é um teste para o bom-senso: é, em verdade, meramente preconceituoso. Verônica, vá dormir.

Nota: 3

Ettore Migliorança


Nesse momento em que o audiovisual vive um dos seus momentos mais sombrios, nada é mais gratificante do que apreciar uma obra nacional de qualidade e pompa, Bom Dia, Verônica é uma daquelas séries que são o padrão Netflix ideal, roteiro bem amarrado de Rafael Montes  e Ilana Casoy extremamente envolvente a ponto de ser tentador de fazer uma maratona numa tarde durante a quarentena. Mas o real valor dessa produção é colocar um tema em pauta, considerado tabu para alguns: o machismo e feminicídio numa trama que cativa o espectador e busca manter um diálogo saudável sobre o assunto. Tudo isso atrelado a atuações marcantes de Camila morgado e Eduardo Moscovis.

Nota: 8

Nota Geral:

Título Original: Bom Dia, Verônica

Direção: José Henrique Fonseca, Izabel Jaguaribe e Rog de Souza

Episódios: 8

Duração: 45 minutos aproximadamente 

Elenco: Tainá Müller, Camila Morgado, Eduardo Moscovis, Antônio Grassi, César Mello, Silvio Guindane, Alice Valverde, Elisa Volpatto, Dj Amorim, Adriano Garib, Pally Siqueira e Cássio Pandolfi

Sinopse: Verônica, escrivã da Delegacia de Homicídios de São Paulo, após presenciar um suicídio em seu local de trabalho recebe uma ligação misteriosa de uma mulher pedindo ajuda para sair de uma situação de violência doméstica. Ao investigar ambos os casos ela acaba por se deparar com segredos sinistros e esquemas de corrupção que ninguém poderia imaginar.  

Trailer:


Já conferiu a série ou o livro? Deixa aí embaixo sua opinião 👮

Deixe uma resposta