Embora Os Outros seja, em sua essência, um filme de terror, o roteiro sempre prioriza os personagens e a construção geral da história como uma tragédia. Dessa forma, o filme busca criar a tensão ao redor das circunstâncias físicas e emocionais da família, sejam essas circunstâncias a pressão extrema sobre Grace ou a rigidez com a qual ela trata as crianças, sempre parecendo estar a um passo da loucura. Essa preferência por construir o horror como uma camada extra sobre o drama familiar desacelera o filme, mas também o torna muito mais eficaz em carregar o significado emocional dos acontecimentos para os personagens.
usa diversas ferramentas para cuidadosamente construir uma atmosfera de
mistério, horror e tragédia em Os Outros. Grande parte das sequências mais tensas do filme
são bastante simples em termos de acontecimentos: Grace ouve um barulho e o
investiga, eventualmente chegando a alguma conclusão perturbadora. É através do
foco nos personagens e de sua execução, entretanto, que Amenábar consegue
refinar essas sequências e torná-las muito mais marcantes.
de uma mansão antiga: portas que rangem, passos que ecoam por salões imensos e
vazios, exceto que o silêncio usual do espaço faz com que esses ruídos tomem
uma dimensão muito maior. A trilha sonora, então, pontua momentos específicos
da história, misturando o que se espera de uma trilha de filme de terror com um
certo tom de aventura e curiosidade.
A partir desse ponto, irei discutir alguns pontos relacionados a revelações que acontecem no final da história. Embora o filme tenha quase vinte anos, se você leu até aqui e ficou interessado, recomendaria que assistisse o filme antes de prosseguir.
Os Outros contém duas reviravoltas em sua trama: a primeira é que os empregados estão mortos e a segunda é que Grace, em um acesso de fúria, assassinou as crianças e então se suicidou. Ela acordou logo depois do evento, acreditando que aquilo tudo havia sido um pesadelo, mas ela e as crianças parecem ter uma vaga noção de um momento extremo no passado (que é mencionado algumas vezes na trama). Os supostos invasores da casa são, na verdade, moradores vivos que estão lidando com os espíritos de Grace, das crianças e dos empregados.
da importância de ter uma reviravolta que se relacione de forma orgânica com o
que veio antes, o roteiro do filme usa diversos momentos anteriores à
reviravolta para criar paralelos e associações com as informações reveladas na
conclusão da história. Após um momento de fúria, por exemplo, Grace pede perdão
a Anne, e é apenas após a revelação final da história que esse momento passa a ter um
significado muito maior e muito mais mórbido, em grande parte pela atuação de
Kidman ser capaz de transmitir com tanta força a tristeza e a culpa de Grace.
Infelizmente, o único ponto realmente negativo da história
surge no momento da revelação final. O contexto aqui é que os personagens vivos
realizam um ritual para atrair as crianças e descobrir o que aconteceu, levando
a revelação dos atos de Grace e à realização das crianças de que elas estão
mortas. É um grande momento, e a reviravolta é muito bem executada, exceto
por uma cena extremamente desnecessária de exposição na qual os personagens vivos
mastigam tudo que aconteceu, sugando completamente o impacto da revelação. Esse momento se torna mais supérfluo ainda quando logo em seguida temos uma cena em que Grace confessa tudo para seus filhos
de uma maneira muitíssimo mais impactante. Não chega a ser algo que acaba com o
momento, mas poderia facilmente ter sido removido.
Direção: Alejandro Amenábar
Duração: 104 minutos
Elenco: Nicole Kidman, Fionnula Flanagan, Christopher Eccleston
Sinopse: Isolada em uma mansão com seus filhos e os empregados, Grace (Nicole Kidman) precisa desvendar o que há por trás dos acontecimentos estranhos na propriedade.