Crítica: Uma Segunda Chance Para Amar (2019, de Paul Feig)

Assim como as músicas do ABBA foram base para Mamma Mia! e as dos Beatles para Across The Universe, Last Christmas, de George Michael, foi a inspiração para o roteiro escrito por Emma Thompson e Bryony Kimmings do filme homônimo, traduzido para o português como Uma Segunda Chance Para Amar.


Kate é uma mulher iugoslava que, quando mais nova, se mudou para Londres com sua família a fim de fugir da guerra. Sempre vista pela família como uma cantora promissora, aos vinte e poucos anos ela trabalha como vendedora em uma loja de decorativos natalinos que funciona o ano inteiro, isso enquanto vai em uma audição ou outra em busca de uma chance de entrar no mundo musical.


Desde um acontecimento importante na vida de Kate, ela não se sente mais a mesma, e isso fez com que ela criasse diversos problemas interpessoais. Seus relacionamentos amorosos são catástrofes, ela vive em pé de guerra com a sua família, principalmente sua mãe e sua irmã, e se auto sabota de todas as formas possíveis com seus amigos e em seu emprego.

Mas as coisas começam a mudar quando a garota perdida e desengonçada conhece Tom, um homem gentil e misterioso que por vez ou outra a encontra em pontos aleatórios da cidade. A conexão entre as personagens é instantânea, e apesar de Kate se fazer de difícil para Tom, eles começam a criar um vínculo inevitável.


Por ser uma comédia romântica natalina, Uma Segunda Chance Para Amar contém todos os clichês possíveis, o que não é necessariamente ruim. Nós temos a garota desastrada, o romance que demora eras para conquistar um simples beijo e muitas músicas de Natal. Ao mesmo tempo, ele foge um pouco disso ao trazer à tona, mesmo que em segundo plano, questões como a do Brexit, xenofobia e a aceitação LGBT.


Embora o filme à primeira vista pareça ter bastante diversidade, isso a começar pelo fato de o casal protagonista ser interracial, o que é raro e necessário no cinema, a maioria das personagens que são LGBTs e não-brancas nesse filme não têm muita importância, o que é uma pena. Por vezes, elas parecem estar mais ali para assumirem um papel de “ei, nós sabemos que vocês existem” do que de fato para terem alguma relevância para a narrativa.

A construção das personagens é bem interessante, isso porque elas têm uma profundidade maior do que nós geralmente esperamos nesse tipo de filme. Ao passo em que Kate é engraçada, mas convive com seus traumas, Tom é sensível, mas tem seus mistérios. Emilia Clarke foi uma escolha certeira para a protagonista, já que conseguiu ponderar bem todos os seus lados, e os outros atores também estavam ótimos em seus papéis. O foco, todavia, vai para Emma Thompson, que, ao interpretar uma mãe iugoslava, deu aos espectadores os momentos mais divertidos da narrativa, capazes de arrancar altas gargalhadas.


Há quem diga que o plot twist no final fez lágrimas caírem, mesmo que fosse, de certa forma, previsível. Entretanto, de tão “previsível”, acreditei que fosse impossível a história seguir o rumo que lhe foi escolhido, e quando aconteceu, tudo o que me veio em mente foi a palavra fanfic. O drama que para alguns tornou o filme emocionante, para mim pareceu apenas uma solução fácil por parte do roteiro, que precisava de alguma forma terminar a história, por mais que a ideia para chegar até ali tenha sido estabelecida desde o início da trama.

O clima natalino se apoderou do filme na iluminada Londres, isso sem contar a loja onde Kate trabalha, que possui dos artigos mais belos aos mais bizarros. A fotografia ajudou a dar um contraste maior para as luzes e conseguiu capturar bem um efeito de realidade e magia, tal qual a dualidade apresentada no longa através da personagem principal.


Por ter tantos pontos aleatórios para serem resolvidos na vida de Kate – sua situação com os pais, a irmã, a amiga, a chefe; o relacionamento de seus pais, de sua irmã, de sua amiga, de sua chefe; sua relação com a música e o amor por George Michael; a questão da Iugoslávia; isso tudo além de Tom e das mudanças que ele acarreta –, por vezes a história pareceu sem saber por onde caminhar. Praticamente todas as subtramas, de uma maneira ou de outra, ganham uma conclusão, mas até lá, o filme parece não ter rumo. É compreensível, visto que pode ter sido uma forma de mostrar o quanto Kate estava confusa, contudo a sensação que fica quando o filme acaba é a de que todas as resoluções foram simples demais para a quantidade de coisas que foi apresentada.



Bem como foi dito acima, o filme foi baseado na canção de Natal Last Christmas (Último Natal, em tradução livre), e por isso esse foi o nome utilizado no inglês. A tradução brasileira, Uma Segunda Chance Para Amar, não parece fazer tanto sentido à primeira vista e, ainda por cima, não é atraente o bastante para atrair diferentes públicos ao cinema; talvez por isso não haja no Brasil uma arrecadação tão grande nas bilheterias como está acontecendo nos países falantes de inglês.


Em suma, esse é um filme natalino de comédia romântica com um toque de drama. Alguns vão chorar e muita gente vai rir, mas não é o objetivo do longa mudar a vida de ninguém, e, tendo isso em mente, pode ser considerado um bom filme. Ao som de músicas como Last Christmas e Heal The Pain, o espectador consegue se envolver na trama e se deixar levar pelos maiores clichês sem reclamar do quão água com açúcar eles são. Esse conto de Natal é, sim, sobre o amor, mas também é sobre se reencontrar, colocar sua vida nos eixos, encontrar um propósito e ver o que realmente vale a pena. Nem sempre a vida segue da maneira que nós imaginamos, mas isso não significa que ela será infeliz, afinal, a felicidade está nas coisas mais simples, nós só precisamos aprender a enxergar.

Título Original: Last Christmas

Direção: Paul Feig

Duração: 95 minutos

Elenco: Emilia Clarke, Emma Thompson, Henry Golding, Michelle Yeoh, David Mumeni, Jade Anouka, Liran Nathan, Lydia Leonard, Rebecca Root, entre outros.

Sinopse: Kate (Emilia Clarke) é uma jovem inglesa cuja vida é uma bagunça. Ela trabalha como elfo em uma loja temática de natal o ano todo. Quando ela conhece Tom (Henry Golding), o que parecia impossível se torna realidade, conforme o rapaz enxerga através de todas as barreiras que ela construiu.


Trailer:

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