Crítica: A Origem (2010, de Christopher Nolan)

“Uma ideia é como um vírus. Resistente. Altamente contagioso. A menor semente de uma ideia pode crescer para definir ou destruir você.” É de fundamental importância estabelecer, logo de início, que o longa-metragem do diretor de Amnésia e Interestelar não se restringe a uma ficção científica, tornando-se mais atual do que nunca.
O doutor em neurociências, Sidarta Ribeiro, é quem apresenta a melhor definição de A Origem, chamando-na de “condensação vertiginosa de cem anos de psicanálise, neurobiologia, filosofia e cinema”. Assim como outras obras de Nolan, não é um filme para quem gosta de informações mastigadas e temas que se esgotam ao final do filme.  Ao contrário, é um filme cuja verdadeira discussão se inicia após o final dos créditos, quando o espectador finalmente consegue tirar os olhos da tela. 

Para quem está acostumado com as narrativas paralelas de Tarantino, Nolan desenvolve cinco, uma dentro da outra, articuladas em diferentes velocidades temporais. Dentro de cada uma delas estão presentes o protagonista, interpretado por Leonardo DiCaprio, e cinco outras personagens com o difícil objetivo de plantar uma ideia na mente de um herdeiro milionário. 
Com um cenário futurista, A Origem desafia a fronteira entre sonho e realidade, convidando o público a entrar em um universo complexo e altamente bem desenvolvido que brinca e estimula a psique do público com universos fluidos e contamináveis. Não à toa o roteiro levou dez anos para ficar pronto, rendendo oito indicações ao Oscar e vencendo quatro delas. 

É um filme com direção e elenco impecáveis, coroando as atuações com personagens que fogem completamente do maniqueísmo bem x mal. A mente humana não é tratada de forma rasa, com poucas camadas a serem exploradas, mas de modo a explorar seus limites junto com o espectador. E a ideia de não se ter resposta para tudo não é vista como algo ruim, mas abraçada de forma magistral por Nolan durante todo o filme. 

Não se trata, no entanto, apenas de questionar nossa própria realidade. O longa vai além do que já foi abordado em Matrix e também levanta questionamentos pertinentes sobre as memórias, o subconsciente e como uma ideia pode ser construtiva ou altamente destrutiva, dependendo unicamente do propósito. Ainda de acordo com Sidarta Ribeiro e o fio condutor das ideias de Freud, “repressão de memórias e loucura se entrelaçam”, podendo ser a mente sua própria armadilha. E o que falar dos belíssimos planos artisticamente elaborados, que remetem ao clássico 2001, Uma Odisseia no Espaço?

A pretensão, porquanto, de escrever sobre um filme como A Origem é fadada à sumarização de uma obra cuja relevância e atualidade só podem ser percebidas nas sutilezas das entrelinhas e suas subdivisões. Para aqueles que estão dispostos, é um filme capaz de te levar a uma viagem através da própria mente, medos, inseguranças e de quebra mostrar da forma mais eficiente o sentido da famosa frase de Harry Potter “não vale a pena mergulhar nos sonhos e esquecer de viver”… Ou será que vale?
Título Original: Inseption

Direção: Christopher Nolan

Duração: 148 minutos 

Elenco: Leonardo DiCaprio, Ellen Page, Marion Cottilard, Cillian Murphy, Michael Caine, Joseph Gordon-Levitt, Ken Watanabe e Tom Hardy

Sinopse: Em um mundo onde é possível entrar na mente humana, Cobb (Leonardo DiCaprio) está entre os melhores na arte de roubar segredos valiosos do inconsciente, durante o estado de sono. Além disto ele é um fugitivo, pois está impedido de retornar aos Estados Unidos devido à morte de Mal (Marion Cotillard). Desesperado para rever seus filhos, Cobb aceita a ousada missão proposta por Saito (Ken Watanabe), um empresário japonês: entrar na mente de Richard Fischer (Cillian Murphy), o herdeiro de um império econômico, e plantar a ideia de desmembrá-lo. Para realizar este feito ele conta com a ajuda do parceiro Arthur (Joseph Gordon-Levitt), a inexperiente arquiteta de sonhos Ariadne (Ellen Page) e Eames (Tom Hardy), que consegue se disfarçar de forma precisa no mundo dos sonhos.

Trailer: 

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