Crítica: Kill Bill (2003/2004, de Quentin Tarantino)



6 anos após o lançamento de Jackie Brown, o lançamento do quarto filme de Quentin Tarantino gerou uma expectativa muito grande entre os fãs. Depois de criar uma fan base com seus dois primeiros filmes. Tarantino se viu criticado pela primeira vez ao colocar uma mulher (Pam Grier) no papel de protagonismo de seu terceiro filme. Os fãs acostumados com temáticas machistas a la Scorsese (onde mulheres usualmente representam apenas a coadjuvante sexy que engatilha algo no protagonista, geralmente por senso de proteção, supostamente, inerente aos homens) estranharam a narrativa  focada na aeromoça que se envolve num crime milionário.

Com outra protagonista feminina, é incrível notar o malabarismo que o realizador fez em seu roteiro para que os seus fãs não se sentissem ofendidos dessa vez, por trazer à luz uma ex-assassina de aluguel querendo sua vingança contra seus antigos parceiros de crime. 

Por uma questão comercial, Kill Bill foi dividido em duas partes, mas aqui vou tratá-lo como o diretor prefere: um filme só, apesar da dificuldade e da diferença clara que existem nas duas partes. Sendo o Vol.1 muito mais voltado às cenas de ação de Kung Fu e à referências de filme de ação oriental, passando até por uma ótima sequência de anime para ressaltar as referências escolhidas pelo diretor. E o Vol.2 um faroeste americano com diálogos extensos e inteligentes, que busca aprofundar na história d’A Noiva para entendermos à fundo a sua motivação pela vingança. 





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Quentin Tarantino, tinha duas coisas em base quando criou a história para a personagem que ele e Uma Thurman haviam criado durante as gravações de Pulp Fiction: a primeira é que ele gostaria de fazer uma homenagem aos filme que assistiu em sua juventude, em especial O Matador de 1989, filme de ação chinês dirigido por John Woo. E a segunda: ver o máximo que ele conseguiria como diretor ao filmar uma película de ação, o gênero que ele sempre considerou mais difícil acertarem a mão. O gênero em que se prova que um diretor realmente é competente.  

E logo no início da obra, podemos perceber várias referências se atropelando e causando uma espécie de noise visual, como não pode ser visto em nenhum outro momento da carreira do diretor até hoje. Suas câmeras buscam os filmes de Kung Fu, mas a arte é muito vívida e após o prequel em preto e branco, nos deparamos com um desconjunto de cores saturadas em contraponto a soturna protagonista em busca de vingança. 



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Depois da primeira sequência, o filme muda totalmente o seu tom, tanto na maneira de filmar, quanto na montagem, proporcionando o icônico plano-sequência onde Tarantino opta por dividir a tela, causando uma tensão absurda no espectador e deixando Kill Bill para sempre marcado dentro da cultura pop. 

Falando em ícone, outra coisa que torna a obra inesquecível é a escolha de sua trilha sonora. Tanto que nos próprios créditos (aliás, um dos melhores créditos iniciais que existem) tratam as 5.6.7.8’s como personagens da história que participam ativamente para mais um momento inesquecível da película, a batalha d’A Noiva contra os Crazy 88’s. Além de tantas outras músicas inesquecíveis, onde até o diretor e melhor amigo de Quentin Tarantino Robert Rodriguez compôs a trilha sonora para uma das cenas.





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Se na primeira parte, A Noiva é uma máquina de matar, em busca de vingança e redenção, após o flashback que mostra o treinamento da personagem de Uma Thurman com Pai Mei, finalmente a protagonista é posta em sua posição de mulher e começa realçar a sua feminilidade ao mesmo tempo que é revelado seu nome, Beatrix Kiddo, e após quase 2h30min o filme aumenta a quantidade de diálogos e aprofunda também nos principais vilões da parte final do filme. Budd (Michael Madsen), Elle Driver (Darryl Hanna) e finalmente Bill (David Carradine), cujo seu rosto nem é mostrado na primeira metade.

Então, a partir daqui, não vemos mais nenhuma sequência de luta alcançando seu clímax. Sendo uma opção clara do diretor em dar mais atenção na submersão de seus personagens, algo que ele faz com a mesma maestria que conduz as grandes lutas épicas que marcam o longa. 

E essa submersão não podia ser mais chocante, o encontro final entre Kiddo e Bill é acachapante, uma sequência que demonstra e consolida toda a maestria desta que é a mais complexa obra de Quentin Tarantino.





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Kill Bill conta a saga de uma mulher que sofre diferentes tipos de abusos explícitos, seja o sadismo (que Bill não reconhece) da cena do casamento, passando pelos estupros de Buck no hospital  ou até mesmo seu treinamento com Pai Mei, que o diretor usa desse momento pra mostrar que até o homem mais sábio, continua sendo homem ao desmerecer uma mulher como Beatrix. Mas Tarantino maquia a obra como um filme de ação com uma pegada kitsch para conseguir agradar aos fãs que já tinham torcido o nariz para sua primeira empreitada em valorizar a personagem feminina. 


Nas questões técnicas é um filme perfeito, seu roteiro é executado com uma maestria que só o próprio diretor podia fazer. Não dá para pensar “Kill Bill seria melhor se…”, é um cinema de autor em seu maior apuro. 


Título Original: Kill Bill

Direção: Quentin Tarantino


Duração: 248 minutos


Elenco: Uma Thurman, David Carradine, Darryl Hanna, Lucy Liu, Michael Madsen, Vivica A. Fox, Gordon Liu Chia-Hui, Michael Parks, Samuel L. Jackson


Sinopse: No dia de seu casamento, A Noiva, uma perigosa assassina profissional, é espancada pelos membros do grupo de extermínio de que fazia parte. Bill, o chefe do grupo, atira em sua cabeça, o que a coloca em coma por quatro anos. Ao despertar, ela tem único desejo: vingança.

Trailers:

Vol.1:

Vol. 2:




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