Crítica: A Vida em Si (2018, de Dan Fogelman)

Filmes que se propõem a contar muitas histórias, ainda que conectadas, devem tomar um cuidado muito grande, para que criemos a empatia necessária com todos os personagens e, claro, por toda a história que está ali sendo contada. Desta forma, não é difícil lembrar de Cloud Atlas, ou A Viagem, em título nacional. O filme contou com um calibre imenso de atores, como Halle Berry, Tom Hanks, Bae Donna, Hugh Grant, Hugo Weaving entre outros, e o resultado dividiu muito a crítica.

Aqui, o diretor e roteirista Dan Fogelman, responsável também pela série This is Us, repete a fórmula da série para nos mostrar como a vida das pessoas são conectadas e acabam se encontrando e se conectando novamente. Talvez ficaria melhor se fosse numa nova temporada da série, porque no filme, particularmente, ficou um tanto cansativo.


O começo do filme realmente nos intriga e nos faz querer entender qual mensagem está sendo passada. Existem alguns alívios cômicos no início que, de certa forma, vão nos preparando para o que está por vir e, então, somos arremessados no fato principal do filme, que passará a desencadear os demais.

Confesso que minha primeira frustração veio aí. O filme poderia claramente ter explorado melhor este primeiro ato (e por um momento achei que o filme inteiro se passaria numa sala de psicanálise com flashbacks, que confesso, me parecia uma melhor opção) e então, teríamos um plot twist incrível, e talvez o filme não precisasse desenrolar mais história alguma. Mas, infelizmente, às vezes, a inteligência do espectador é nivelada por baixo, e existe uma vontade incrível de jogarem na sua cara o nome do filme e a mensagem dele (de forma exaustiva).



E subestimar a inteligência do espectador é algo que realmente me irrita um pouco. A mensagem do filme e seu nome já são extremamente claros, mas, o diretor faz questão, enquanto roteirista, de encaixar isso na tese de TCC de uma das personagens. Em um dado momento, a personagem simplesmente comenta sua tese sobre “narradores não confiáveis” (que não são confiáveis, uma vez que eles querem revelar o mínimo possível da história para que exista  surpresa) e então, o narrador menos confiável seria a vida em si (sim, o nome do longa é justificado no filme).

Me arrisco a dizer que se parasse por aí, talvez, o show de pieguice não me causaria tanta irritação, dado que isso é em parte compensado pelo fato de uma das personagens (vivida – e muito mal aproveitada – por Annette Bening) ser uma psicanalista, e um dos motivos de buscarmos a psicanálise ser, nada mais, nada menos, que aceitar simplesmente que não sabemos de tudo.



Mas não. Infelizmente temos mais um show de frases de efeito até o final do filme, que culmina numa cena final de gosto duvidoso, que reverbera novamente frases de efeito sobre a vida. O pior de tudo é que não há nem como dizermos que é um filme de autoajuda, visto que em alguns momentos o filme mais te deprime do que ajuda.

Nas questões técnicas, não há o que dizer do filme, o que é outra pena. Se passando ao longo do tempo, há que se dizer que a maquiagem, o figurino e o design de produção foram simplesmente esquecidos. Mas esquecidos mesmo!



Por fim, só a vontade dos atores é que funciona mesmo, o que verdadeiramente é uma pena. Se fosse uma minissérie, seria bem trabalhada e para filme, com a história cortada pelo meio e mais trabalhada nesse aspecto, poderia dar muito certo.


Claro que nem sempre isso tudo é ruim. A vida não é feita somente de filmes pretensiosos e que nos fazem pensar além da conta, entretanto, um entretenimento que deprime não é necessariamente algo legal, e na tentativa excessiva de emocionar, é isso que acontece.

Título Original: Life Itself

Direção:
Dan Fogelman



Duração: 118 minutos

Elenco: Oscar Isaac, Olivia Wilde, Annette Bening, Mandy Patinkin, Jean Smart, Olivia Cooke, Sergio Peres-Mencheta, Antônio Banderas, Laia Costa, Alex Monner, Samuel L. Jackson, Isabel Durant e Jake Robinson.

Sinopse: O relacionamento amoroso vivido por um casal (Oscar Isaac e Olivia Wilde), é contado através de diferentes décadas e continentes, desde as ruas de Nova York até Espanha e como diferentes pessoas acabam se conectando a ela através de um evento marcante.


Trailer:

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