Crítica: Fargo – 1° Temporada (Noah Hawley, 2014)



As três temporadas da série inspirada no homônimo filme, Fargo, estão atualmente disponíveis na Netflix, e nada melhor que uma análise nossa para os espectadores mais curiosos. E, cá entre nós, não há que se arrepender de escolher esta para sua próxima maratona. Com roteiro, atuações e direção brilhantes, esta pode ser considerada uma das melhores séries disponíveis na rede de streaming. Tudo isso graças a mente primorosa de Noah Hawley, que bebeu diretamente da fonte do aclamado filme de 1996 dos Irmãos Coen, além de suas obras mais aclamadas. Não sendo uma continuação propriamente dita do filme, apesar de existir uma referência direta a esse, que irá agradar aos fãs,  trata-se, aqui, mais de um sucessor “espiritual”, com personagens, trama e ambientação bastante semelhantes.

A primeira temporada,  e talvez a mais impactante, conta a história de Lester Nygard (Martin Freeman), um pacato e submisso corretor de seguros da fria cidade de Bemidji, Minnesota, que vê sua vida mudada ao avesso ao se deparar com o meliante Lorne Malvo (Billy Bob Thorton), no que dá início a uma onda assustadora de assassinatos na região. Contar mais que isso é o suficiente para estragar as diversas surpresas que a história nos traz. 


Com um mix de suspense, drama e muito humor negro, a série nos remete sempre ao famigerado filme. Tudo está lá, a inocência e camaradagem dos nativos de Minessota, com seus sotaques hilários; o ambiente gelado e inepto, a troca do normal pelo absurdo, mentiras, trapaças, personagens se afundando cada vez mais em problemas, que acabam em muita violência; situações bizarras e mortes, onde o sangue jorrado realça a branquidão da neve. 

O catalisador da crise está representado pelo personagem de Thorton, Lorne Malvo, que chega para por “fogo no circo” de certa forma. Diferente dos moradores, Malvo tem malícia, um olhar frio, e uma presença amedrontadora. Como ele mesmo diz, “costumávamos ser gorilas”. O matador profissional age como uma porta de fuga para o pacato Lester, que se vê dominado e oprimido por todos ao seu redor, incluindo sua própria esposa. Lester não consegue se impor, se congelou em um ciclo vicioso de regras que ele mesmo se impôs. Malvo aparece para mostrar exatamente o contrário. Após o primeiro episódio, depois de uma série de assassinatos surpreendentes, sabemos que as coisas não serão as mesmas para o corretor, que apesar de sua ações repugnantes, vai ganhando a simpatia do público. 

A primeira temporada é a que mais relaciona-se com a obra de 1996. Temos os elementos primordiais e personagens  que remetem diretamente aos da película. Podemos fazer comparações diretas como os personagens inseguros e medrosos de William H. Macy com o de Martin Freeman, o da policial esperta e incoformada Molly (Allison Tolman) com a policial Marge (Frances Mcdormand), o assassino frio Lorne com o criminoso Gaear Grimsrud (Peter Stormare). As referências são muitas e claras. As atuações estão primorosas, com destaques a Billy Bob Thorton, que faz um vilão absolutamente frio e sem compaixão, um verdadeiro psicopata, conforme nos é mostrado ao decorrer da série, que é capaz de literalmente qualquer coisa para saciar sua sede de matança. De certa forma ele é o mal encarnado, a serpente do paraíso que faz Lester comer da maçã. Porém o mesmo traz uma dose de auto-confiança e  quebra de tabu que motivam Lester a passar por uma transformação radical.


Também temos a investigação policial, um elemento fatídico e recorrente da série. Temos uma polícia despreparada para tratar dos assuntos que vêm a tona, tendo por exceção a detetive Molly Solverson, interpretada por Allison Tolman; a mesma é a  exceção do condado, sempre com um olhar mais cauteloso sobre os crimes e ondas de violência de sua cidade. Inconformada e astuta, ela se une com outro policial, Gus Grimly (Colin Hanks), para capturar Lorne.

Ao desenrolar a história vai ganhando contornos cada vez mais empolgantes e absurdos, que remetem a outros filmes dos irmãos Coen, como a caçada de gato e rato de Onde os Fracos Não Têm Vez. A fotografia emula a do filme, vemos contornos e cores frias trazendo a sensação de gelo e isolamento. A trilha sonora traz a mesma composição clássica do filme, épica e grandiosa. A cidade em si é um personagem, assim como as vestimentas…. casacos, botas, luvas, café, jaquetas, tudo isso cria uma ambientação sensacional.

A série foi bastante premiada, recebendo o Emmy de Melhor Minisérie em 2014, bem como de direção e elenco, além de Billy Bob Thorton ter vencido o Globo de Ouro por melhor ator. No fim, se preparem para ver uma trama que vai se desencadeando cada vez mais absurda, com toques de humor negro que vão fazer você ficar totalmente grudado na tela. Empolgante, tensa, engraçada e violenta, você literalmente irá sentir os ares gelados de Minnesota, nesta primorosa e bem executada obra. 



Título Original: Fargo

Direção: Adam Bernstein, Randall Einhorn, Colin Bucksey, Scott Winant e Matt Shakman.

Elenco: Billy Bob Thorton, Allison Tolman, Colin Hanks, Martin Freeman

Sinopse: Em janeiro de 2006, Lorne Malvo (Billy Bob Thornton) chega à pequena Bemidji, uma cidade do estado do Minesota e, com sua malícia e violência, começa a influenciar a população, inclusive o vendedor Lester Nygaard (Martin Freeman). Enquanto isso, a policial Molly Solverson (Allison Tolman) e o policial Gus Grimly (Colin Hanks), se unem para solucionar uma série de crimes que eles acreditam estarem ligados a Malvo e Nygaard.

Trailer:



Gostou de nossa análise, curtiu o blog? Deixe seus comentários logo abaixo e curta nossa página! 




Deixe uma resposta