Crítica: Homeland – 6ª Temporada (2017, Alex Graves, Keith Gordon)



Homeland pode ser considerada uma série difícil de
engolir devido ao seu teor. Considera-se tudo possível e aceitável do
ponto de vista da 
Agência Central de Inteligência (CIA) após o ocorrido em 11 de
setembro. Com temporadas passadas primordialmente em outros países, esse ano o
problema se instala dentro de casa, ou seja, no próprio governo dos EUA.
Temporada essa que me lembrou os bons tempos dos primeiros anos, onde a tensão
era palpável e a ameaça constante sem saber diretamente da onde ela vinha. Era
visível o cerco se fechando entre os protagonistas, onde todos eram suspeitos em
potencial. 




Como de praxe a história começa com Carrie Mathison (Claire Danes), ainda trabalhando na organização do filantropo Otto Düring (Sebastian Koch), é possível ver uma Carrie mais séria, tentando ter uma vida normal fora da CIA, sem crises bipolares e cuidando da sua filha da melhor forma possível. Mas, mais uma vez, Carrie, sem perceber, acaba entrando em um emaranhado de problemas e crises envolvendo seu cliente, um jovem muçulmano chamado Sekou Bah (J. Mallory McCree), que é preso pelo FBI, por suspeita de ter ligação com terroristas. 


Ao mesmo tempo, ela se desdobra para tentar ajudar Peter Quinn (Rupert Friend), que sofre sérias consequências físicas e psicológicas após quase morrer em um atentado na temporada anterior. De certa forma, não sabemos bem ao certo porque Carrie se importa tanto, se é por culpa – lembre-se que foi ela que deu a ordem para tirá-lo do coma, mesmo sabendo que ele poderia ter um derrame – ou porque ela realmente gosta dele, acredito que seja por ambos os motivos. Rupert inclusive foi o responsável por uma das melhores  atuações vistas até hoje. A depressão, o sentimento de inferioridade e a sua paranoia constante foram essenciais para o desenvolvimento da trama. Mesmo ferido, ele se mostra de uma periculosidade sem tamanho, mostrando do que ele ainda é capaz e nos fazendo pensar do que ele era capaz. Digo e repito, foi a melhor atuação até hoje, e olha que já tivemos umas ótimas. (Quem não se lembra da Carrie surtada, juntando as fotos nas paredes para provar um ataque terrorista?)




Quinn foi de extrema importância esse ano, porque, graças a ele, conseguimos ver os buracos deixados pelas costuras do governo. O que antes parecia situações sem relação, acabam se ligando de uma forma profunda e premeditada. Carrie, mesmo tentando se manter longe da CIA, acaba se tornando a conselheira, nem tão secreta, da nova Presidente Eleita dos EUA, Elizabeth Keane (Elizabeht Marvel). 




Keane é um personagem complexo, nunca sabemos exatamente como vai ser sua reação, e, apesar de parecer simpática aos olhos de todos, Dar Adal (F. Murray Abraham), vê algo de errado nela, tão errado que ele inicia uma jogada perigosa e arriscada, já que ela pretende mudar a política externa, e fazer mudanças na CIA, o que não o agrada em nada, colocando assim, um alvo em suas costas. O conflito de interesses é tamanho, que, desde o primeiro episódio é nítido que, apesar dos sorrisos e do tratamento cortês, tudo não passa de uma grande mentira. F. Murray Abraham, como sempre, tem uma atuação fora da média. Muitas vezes não é preciso dizer uma única palavra para sabermos o que ele realmente está pensando, ou tentando fazer, porque conforme os episódios desenvolvem, fica cada vez mais claro qual é seu plano. E não vamos nos esquecer de Saul Berenson (Mandy Patinkin). 




O ex-diretor da CIA não poderia ficar de fora de uma boa conspiração. Mesmo não sendo a peça principal dessa vez, sua participação é sempre bem-vinda e esse ano, sua relação com F. Murray, foi quase como um contrapeso. Sendo possível ver os dois lados de uma mesma moeda. O atrito existe, mas é tudo muito por baixo dos panos. Saul, apesar de ter tomado certas escolhas anteriormente, sempre tenta seguir um caminho mais digno do que Dar, mas ao mesmo tempo, não se dobra sobre as vontades do outro. E esse ano, finalmente, as luzes se voltaram para Dar Adal, mostrando mais a fundo situações que antes, só nos era citado, ou subentendido. 




Apesar do roteiro parecer rotineiro, com situações de perigo, que envolvem terroristas, atentados e tudo o mais, é particularmente gratificante ver como eles conseguem manipular o telespectador no seu quebra-cabeças, num constante estado de duvida, sem saber exatamente o que está acontecendo ou em quem confiar. Começamos a compartilhar das desconfianças, já que ninguém é confiável. A bipolaridade de Carrie é deixada de lado justamente pelo estado mental de Quinn, que põe em dúvida muitas vezes o que ele realmente é quando não está trabalhando como espião, e o resultado é formidável, mesmo paranoico, ele consegue manter o seu eu frio e calculista, se deixando levar apenas em determinados momentos. Dar Adal é sem dúvida a peça chave de toda série, tendo envolvimento com todos do elenco, seu dedo é visível em diversas situações que acabam por envolver os personagens a situações comparáveis a fantoches. 

É possível entender o pensamento americano em relação a guerra, do ponto de vista governamental e do ponto de vista humano, os cidadãos tem orgulho, apesar do sofrimento que isso causa, e isso é muito sério para ser deixado de lado, ou tratado com desrespeito. Também é possível ver os radicais ligados a isso, que não são terroristas, mas que causam tanto mal quanto, moldando a cabeça de pessoas, manipulando informações, tudo para que seu ponto de vista seja entendido como o melhor ou o único aceitável. Deus livre a América de acabar com guerra! Por essas e outras, Homeland volta com uma das melhores temporadas até aqui, após dois anos, os bons ventos voltaram a soprar. Provando que pode ela pode sim se renovar e se modificar, sem ter que necessariamente explorar as fraquezas de Carrie ou a guerra no Iraque. 


Por fim, é um ótimo drama, amarrado, quase costurado, que nos faz pensar e ao mesmo tempo questionar sobre o que aparentemente é certo ou errado. Aqui nada é o que parece e tudo tem um meio termo, nada é concreto. Nos faz questionar sobre política, sobre as pessoas, o pensamento deliberadamente introduzido na mentalidade das massas e por isso é uma série difícil de se engolir, Homeland é tudo aquilo que ninguém quer ver. Com uma direção forte e certeira, não deixa a desejar. O enquadramento muitas vezes nos dá a impressão que tem alguém de longe observando, ou que os personagens estão acuados, o que não deixa de ser verdade de certa forma. Por tudo isso, diria que essa é uma série para ser apreciada e assistida. Se ainda sobrou alguma dúvida, fica aqui meu conselho: assista!





Direção: Alex Graves,  Keith Gordon


Elenco: Claire Danes, Elisabeth Marvel, F. Murray Abraham, Mandy Patinkin, Rupert Friend, Dominic Fumusa, Hill Harper, Jake Weber, J. Mallory McCree, Maury Sterling, Shaun Toub, Robert Knepper, Sebastian Koch.


Sinopse: Em seu retorno, a série iniciará alguns meses após os fatos ocorridos no final da quinta temporada. Carrie está morando no Brooklyn, em Nova Iorque, onde trabalha em uma fundação que ajuda os imigrantes muçulmanos a se adaptarem à cultura americana. A temporada será situada entre o dia da eleição presidencial e o dia da posse do novo presidente.


Trailer:


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1 thoughts on “Crítica: Homeland – 6ª Temporada (2017, Alex Graves, Keith Gordon)”

  1. Existem SEIS RAZÕES COLOSSAIS que tornam esse sexto ano do seriado ainda mais relevante durante 2017:

    6. Campanha de ódio;
    5. Mudanças geopolíticas;
    4. Preconceitos e perseguições;
    3. Crise com o Irã;
    2. Mudança no poder;
    1. Eleições americanas.

    Por isso esse programa de TV é surpreendente no seu modo de caminhar, as vezes veloz, as vezes gradual, e sempre com muita base.

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