Crítica: De Olhos Bem Fechados (1999, de Stanley Kubrick)



Stanley Kubrick sempre foi conhecido por seu perfeccionismo. Ele levou muitos atores à loucura ao longo de sua carreira (Shelley Duvall – de O Iluminado – que o diga), mas aqui em De Olhos Bem Fechados ele chegou ao ápice. O filme começou a ser gravado em Novembro de 1996, e as filmagens acabaram apenas em Junho de 1998. Como se não bastasse, logo após o fim das filmagens, começou o processo de pós-produção, que durou até Março de 1999. No dia 2 desse mês, Kubrick mostrou o corte final do filme para os executivos da Warner. 5 dias depois, no dia 7 de Março, o genial cineasta foi encontrado morto em decorrência de um ataque cardíaco.


As marcas de Kubrick na direção estão presentes nesse filme. O jogo de câmeras é extremamente preciso, há vários planos que são o mais longos que podem, vários planos seqüência, close-ups silenciosos e o uso fantástico da música. Há uma grande cena na metade do filme – assista e você saberá de qual estou falando – que, pra mim, é a última grande prova de que Kubrick foi, e sempre será, um gênio. A maneira que ele movimenta as câmeras, um travelling horizontal e devagar, nos deixa ansiosos para saber o que de fato está acontecendo, e a trilha sonora, como de costume nos filmes de Kubrick, encaixa perfeitamente na cena.









Tom Cruise interpreta Bill e entrega uma das melhores atuações de sua carreira. Ele costuma ser muito subestimado por fazer vários filmes de ação, e alguns brincam que ele só sabe correr – o que ultimamente tem sido verdade, mas por escolha do próprio -, mas é um ator muito bom. Isso é provado nesse filme, em Nascido em Quatro de Julho, A Cor Do Dinheiro, Questão de Honra, Jerry Maguire e outros filmes. Em De Olhos Bem Fechados, ele talvez faça o papel mais difícil de sua carreira. Seu personagem é muito complexo e abre muitas dúvidas sobre a verdadeira motivação dele ao fazer o que está fazendo. Certamente, uma revelação de sua esposa no começo do filme o encorajou, porém estaria ele guardando todo esse desejo para si mesmo? Esse desejo surgiu por vingança? Ou foi algo natural?










As outras atuações do filme são normais, embora a de Nicole Kidman seja bem estranha em alguns momentos. Ela parece forçar demais em alguns momentos, a atuação não é muito boa. Dos coadjuvantes, Sidney Pollack se destaca e faz um ótimo trabalho, mesmo com poucas cenas no filme.






O roteiro, nos dois primeiros atos, é impecável. Misterioso, instigante, interessante e ambíguo. No terceiro ato, é um pouco diferente. Fica meio bagunçado, uma coisa em cima da outra, muitas informações em pouco tempo, confuso e algumas explicações não são nada convincentes. Nos últimos 5 minutos, a coisa melhora e o filme fecha muito bem. O último diálogo é ótimo.



Tecnicamente, o filme é perfeito, algo normal na filmografia de Kubrick. A fotografia é recheada de cores quentes, mas, pontualmente, as cores mais frias são adicionadas e são fundamentais no que o filme quer que nós sintamos. A trilha sonora, já citada, é ótima e remete a filmes anteriores do diretor – embora um pouco mais original, principalmente nas partes de piano e a edição é impecável e cria um ritmo que faz o filme, que tem quase 2h40 de duração, passar muito rápido.

Eu gostaria de dar destaque para duas cenas: a primeira é a
discussão no começo do filme, que nos deixa tão perplexos quanto Bill quando
Alice conta uma história. É o melhor momento da atuação de Nicole Kidman. A
segunda é uma cena perto do final, após tudo o que acontece na cena principal
do filme, aonde Bill pega um jornal após uma série de coisas que acontecem, e
na primeira página do jornal está uma manchete com a frase “Lucky to be alive”,
que significa “Sortudo por estar vivo”.
De Olhos Bem Fechados
é o último filme de Kubrick, e um final digno para o diretor. Tecnicamente
perfeito, como ele gostava, o filme tem alguns problemas de roteiro e o
terceiro ato decepciona um pouco. Mas é uma aula de direção, fotografia, trilha
sonora e conta com uma grande atuação de Tom Cruise. Belo filme, obrigatório
para os fãs de cinema e, mais precisamente, de Stanley Kubrick. Que ele esteja
bem onde quer que esteja.



Título Original: Eyes Wide Shut




Direção: Stanley Kubrick


Sinopse: Bill Harford é casado com a curadora de arte Alice. Ambos vivem o casamento perfeito até que, logo após uma festa, Alice confessa que sentiu atração por outro homem no passado e que seria capaz de largar Bill e sua filha por ele. A confissão desnorteia o sujeito, que sai pelas ruas de Nova York assombrado com a imagem da mulher nos braços de outro. Ele acaba em meio a uma reunião secreta e uma mansão afastada.

Elenco: Tom Cruise, Nicole Kidman, Sidney Pollack, Marie Richardson, Todd Field, Vinessa Shaw, Rade Serbedzija, Leelee Sobieski, Alan Cumming, Thomas Gibson, Fay Masterson, Togo Igawa




Trailer: 








E você, já assistiu a De Olhos Bem Fechados? Deixe aqui seu comentário e obrigado por ter lido.



1 thoughts on “Crítica: De Olhos Bem Fechados (1999, de Stanley Kubrick)”

  1. Assisti duas vezes,sem dúvida é um grande filme, mas também acho que o terceiro ato ficou devendo. Esperava um final apoteótico, arrebatador, condizente com o roteiro. Deu a impressão que faltou algo.

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