Passe laquê no cabelo, se liga naquela música flashback e vem! Glow é a nova série original Netflix de comédia dramática, da mesma equipe criativa do fenômeno Orange Is the New Black. Para quem não sabe, Glow (sigla de Gorgeous Ladies of Wrestling, tradução: Moças Lindas da Luta Livre) foi um programa de TV americano de imenso sucesso, onde mulheres de porte diversificado “lutavam” em apresentações encenadas e engraçadas. Devido ser um programa que fez mais sucesso lá fora, possivelmente esta é a razão da série não ser tão comentada aqui no Brasil, pois não causa tanto impacto. Mas não se engane, este pode ser um divertido passeio pelos anos 80.
O roteiro tem suas falhas, especialmente em não aprofundar muito a maior parte do elenco feminino. Mas consegue pincelar rapidamente alguns problemas sociais que as mulheres passam: dificuldade em conseguir emprego e ser levada a sério, de não ser sexualizada por querer ser atriz, de não ter voz ativa dentro e fora de casa, de tolerar traição, etc. Tudo é abordado sem muito aprofundamento, mas é compensado pelo bom humor e o tom propositalmente cartunesco. Alguns dilemas são retratados de maneira cômica e excêntrica, combinando com as personagens e fantasias que as garotas criam na hora de encenar as lutas. Apesar de um ritmo um pouco lento (10 episódios de meia hora), esta temporada inicial cria a base do que viria a se tornar o fenômeno, mostrando assim os conturbados bastidores, até finalmente o nascimento do programa.
Alison Brie brilha (trocadilho com Glow = brilho) com sua protagonista. Inicialmente temos aversão a ela, devido sua personalidade duvidosa, mas aos poucos, conforme sua personagem se encontra neste bizarro mundo de luta e fantasia feminina, passamos a torcer por ela. A bela Betty Gilpin também está muito bem, passando por uma transformação libertadora por assim dizer, quebrando paradigmas de “recatada e do lar”. Interessante como a relação dessas duas citadas acima sofre reviravoltas, invertendo-se papéis numa espécie de vingança/redenção, ao menos dentro do ringue (quem viu entendeu). Marc Maron interpreta o diretor, que topa fazer o programa afim de conseguir dinheiro para fazer seu filme. É bacana ver como a indústria funciona para diretores desconhecidos, que tem uma visão autoral e ficam escravizados em obras classe B e trash.
Todos aspectos técnicos visuais e sonoros recriam os anos 80. A trilha sonora é deliciosa, cheia de hits da época. As roupas, cabelos e maquiagens extravagantes dão cor e brilho a produção. As cenas de luta são bem filmadas e muito engraçadas, o grande deleite da série. Há belos feixes e detalhes de luzes e cores neon, enfeitando ainda mais a produção. A fotografia é comum no geral, mas destaca-se em alguns episódios específicos.
Enquanto todos são fracassados e problemáticos nos bastidores, no ringue há a redenção para as atrizes e os produtores. Há o glamour e o grito da plateia, fazendo-nos assim torcer pelo sucesso da equipe e do espetáculo. Glow é uma série simples, leve e divertida. Não muda sua vida e causa menos impacto aqui no Brasil. Mas tem sido bastante elogiada, especialmente pela crítica americana, com uma aprovação geral de 96%. Isto porque a obra bate na nostalgia, celebra corajosas mulheres que não tiveram medo de se expor na TV e que por isso, marcaram época. Parece tosco, parece machista, mas foi neste meio sexista que elas contraditoriamente puderam mostrar o empoderamento feminino, independentemente da forma do seu corpo. Nessa série, o que brilha mesmo é o carisma e força de vontade destas mulheres.
Título Original: Glow
Criada por: Liz Flahive e Carly Mensch.
Elenco: Alison Brie, Betty Gilpin, Marc Maron, Britt Baron, Kimmy Gatewood, Rebekka Johnson, Sunita Mani, Kate Nash, Marianna Palka, Ellen Wong, Chris Lowell.
Sinopse: Ruth Wilder (Alison Brie) é uma atriz sem trabalho sai em busca de uma última tentativa de viver o seu sonho, quando descobre uma série semanal de luta livre.
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