Crítica: Um Homem Chamado Ove (2016, de Hannes Holm)

Um Homem Chamado Ove, dirigido e escrito por Hannes Holm e baseado no livro homônimo de 2012 escrito por Fredrik Backman, conta a história de um senhor – o homem chamado Ove – que não gosta de ninguém. Quando Pavaneh se muda para a vizinhança do senhor, ela – junto com suas filhas pequenas – tenta trazer um pouco de alegria para o vida do senhor. Pois é, você já viu essa história antes.


A direção de Hannes Holm é competente, mas não sai do lugar comum – o que é um problema recorrente do filme. Holm usa alguns enquadramentos que são interessantes, há um plano sequência bem feito e a direção de maneira nenhuma é falha, mas o diretor parece ter medo de arriscar. Há uma cena que me remeteu diretamente – em conteúdo e maneira como é filmada – à Um Sonho De Liberdade, clássico sensacional e emocionante de 1994, de Frank Darabont.

O roteiro – também de Holm – é bem escrito, mas sofre do mesmo problema da direção. Durante o filme todo eu fiquei com a sensação de que estava assistindo a um filme genérico. O roteiro usa de decisões óbvias para apresentar Ove e mostrar o quão mal humorado e ranzinza ele é, e em alguns momentos eu pensei “Ok, eu já entendi que ele é mal humorado e ranzinza, tem como deixar a narrativa fluir agora?”. É uma escrita acertada em nos fazer não odiar Ove, mas isso se deve ainda mais à belíssima performance de Rolf Lassgard.

Lassgard acerta em cheio ao entender que o personagem tem um motivo para ser daquele jeito e não apelar para muitos overractings (quando o ator explode em cena). É uma performance sutil e carismática, o ator carrega o filme quase sozinho. Bahar Pars está competente como Pavaneh, mas ela não impressiona. Os outros atores do filme não tem quase nada a fazer na trama – com exceção de Ida Engvoll, que rouba a cena como Sonja. As melhores cenas do filme são quando ela está em tela junto com o igualmente excelente Filip Berg. Os dois tem uma ótima química e são fundamentais para o funcionamento – embora relativo – das cenas de Ove já idoso.

A montagem é muito bem sucedida ao interligar as cenas de Ove jovem com as cenas dele já idoso, a edição é perfeita – nenhuma cena dura mais do que deveria – e a fotografia é bonita, embora nada impressionante. Os dois primeiros atos do filme são apenas razoáveis com ótimos momentos, mas o terceiro ato é realmente excelente.

O filme ganha peso dramático, fica emocionante e você começa a realmente se importar com Ove. Ao longo da produção, há algumas cenas que são para ser tensas, mas você não fica tenso por que sabe que o ponto chave da cena não vai se concretizar, mas no terceiro ato você fica nervoso sobre o que vai acontecer com o personagem. Quando ele conta sua história para Pavaneh, você fica emocionado com tudo o que aconteceu na vida do personagem. E eu amei o final. No fim, é um filme que fala sobre amor e sobre como uma pessoa pode realmente ser a melhor coisa que já aconteceu na vida de outro alguém.

A produção é engraçada em alguns momentos. A relação entre Ove e seus novos vizinhos é bem humorada e uma cena em particular fica engraçada de tão absurda. Ove – ainda jovem – fica com raiva de seu vizinho por ele usar um Volvo – marca de carro odiada por Ove por algum motivo que só ele sabe. A cena funciona pelo humor e por mostrar que Ove sempre foi ranzinza, aquilo só se potencializou ao longo do tempo.

Há algumas cenas que são muito desnecessárias e parecem uma mensagem do roteirista dizendo “Olhem só, nosso protagonista não é tão mal quanto parece”. Mas o filme não é ruim. É agradável e difícil de não gostar. Mas – sim – ele poderia ser muito melhor.

Se arriscasse um pouco mais, Um Homem Chamado Ove seria um excelente filme. Do jeito que foi, é um bom filme com momentos excelentes e algumas atuações inspiradas. Eu não entendi a indicação a Melhor Filme Estrangeiro no Oscar – em vista que tinham filmes muito melhores que poderiam ser indicados. Acho as chances na premiação quase nulas, mas talvez o filme surpreenda.

Título Original: En Man Som Heter Ove

Direção: Hannes Holm

Elenco: Rolf Lassgárd. Bahar Pars, Ida Engvoll, Filip Berg, Stefan Gödicke, Sofie Gällespang

Sinopse: Ove é um senhor mal-humorado de 59 anos que leva uma vida totalmente amargurada. Aposentado, ele se divide entre sua rotina monótona e as visitas que faz ao túmulo de sua falecida esposa. Mas, quando ele finalmente se entregou às tendências suicidas e desistiu de viver, novos vizinhos se mudam para a casa da frente, e uma amizade inesperada irá surgir.

TRAILER: 


E você, já assistiu a Um Homem Chamado Ove? O que achou do filme? Acha que tem chances de levar o Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro? Comente aqui e obrigado por ter lido.


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