Acompanhamos ao mesmo tempo duas histórias que se entrelaçam, o drama familiar dos Warren (ligado à freira misteriosa) e a família Hodgson. Com um roteiro muito bem escrito e “amarrado”, a história se desenvolve voltada para o caso envolvendo a família britânica mas dando, também, bastante destaque ao casal de investigadores. Como já os conhecemos no primeiro filme, não há necessidade de introdução, e nesse longa o diretor pode explorar e desenvolvê-los mais do que fez no anterior. Vemos não apenas o lado investigativo de Lorraine e Ed, mas também o lado familiar e criamos empatia por eles. Paralelamente, vemos o tranquilo dia-a-dia da família Hodgson em Einfield, Londres, ir de normal a paranormal.
A mãe solteira Peggy e seus quatro filhos (Janet, Margaret, Billy e Johnny) têm uma rotina normal até que Janet e Margaret decidem brincar com um tabuleiro Ouija. A família então, passa a ter visitas indesejadas de algo demoníaco. As interações paranormais iniciais são pequenas porém assustadoras, deixando quem está assistindo, muito apreensivo. As assombrações gradativamente se tornam mais frequentes e piores, chegando a envolver possessões. O que leva a família a buscar ajuda da igreja que envia o casal Warren, para coletar provas de que algo demoníaco está sendo, de fato, a causa de todo o caos.
Invocação do Mal 2 não é um filme cheio de sustos. A principal característica dele é a criação de uma atmosfera densa, que deixa o espectador tenso e temendo o que está por vir. A ótima direção de James Wan constrói cenas em que o jogo de câmeras dá um toque assustador preciso às cenas, principalmente quando as entidades interagem (como por exemplo, na cena de Lorraine com a freira no porão, do trailer oficial). A fotografia escura e o cuidado com o ambiente adiciona um ar sombrio e assustador, resultando em detalhes interessantíssimos, como por exemplo, atrás da poltrona em que a entidade mais aparece, a parede está muito escura, descascando e com rachaduras, indicando que algo de errado está acontecendo ali. As ótimas atuações – destacando Vera Farmiga, Patrick Wilson e a jovem Madison Wolfe – enriquecem a trama, dando o tom sério necessário para o desenvolvimento da história. É preciso ressaltar também, o ótimo uso de efeitos especiais.
A história se desenrola sem pressa, mas sem se tornar cansativa, num ritmo constante, deixando sempre o espectador sem querer desviar os olhos da tela. A sequência consegue ser tudo aquilo que foi Invocação do Mal (lançado em 2013) e um pouco mais, superando seu precedente. Especialmente em termos de roteiro, apresentando uma história mais desenvolvida e explorando melhor a relação do casal, Lorraine e Ed Warren. Invocação do Mal 2 consegue resgatar as melhores características de um gênero já tão generalizado atualmente, inovando em vários aspectos. Com certeza, será um filme difícil de esquecer.
Sinopse: Sete anos após os eventos de ‘Invocação do Mal’ (2013), Lorraine (Vera Farmiga) e Ed Warren (Patrick Wilson) desembarcam na Inglaterra para ajudar uma família atormentada por uma manifestação poltergeist na filha. A trama é baseada no caso Enfield Poltergeist, registrado no final da década de 1970.
O CASO REAL
(cuidado, pode conter spoilers!)
Lorraine e Ed Warren |
Johnny, Janet e Margaret Hodgson |
Tudo aconteceu na cidade de Einfield em 1977-78, a família Hodgson realmente existiu e houve a suspeita de que acontecia atividades paranormais na casa deles. Mas também há muitas controversas. A família alega que as atividades começaram em 30 de agosto, quando as camas começaram a se mexer sozinhas. Em poucos dias, já haviam acontecido vários outros como barulhos no andar de cima da casa, gavetas abrindo, móveis fechando a porta e barulhos de dentro da parede. Assustados, chamaram a polícia. A policial Carolyn Heeps, diz ter visto uma cadeira se movendo, que inclusive dá uma entrevista confirmando o evento. Mas como não era um caso de violação da lei, nada foi feito por parte da polícia.
Logo depois aconteceu a levitação de Janet Hodgson, com 11 anos na época, que foi fotografada. São quatros fotos seguidas do momento, as posições das pernas de Janet (principalmente a primeira) fizeram as pessoas da época pensarem que ela simplesmente pulou da cama. As fotos foram tiradas pelo fótografo Graham Morris, do Daily Mirror. É possível ver que na foto real, a distância de Janet para a cama é menor do que a mostrada no filme.
Os dois especialistas da “Sociedade para Pesquisas Psicológicas” que acompanhavam o caso junto à família, Maurice Grosse e Guy Lyon Playfair, disseram terem flagrado Janet e sua irmã Margaret dobrando colheres algumas vezes. A própria Janet, disse em uma entrevista em 1980 para a ITV News, que às vezes ela e a irmã forjavam alguns eventos paranormais, para ver se eram pegas pelos especialistas (vale lembrar que o filme usou essa parte e o aderiu muito bem à história).
Janet Hodgson e Maurice Grosse |
A principal diferença entre o caso real e o filme, é a de que os Warren não participaram do caso de Janet. Eles só fizeram uma breve visita à família, mas não fizeram mais parte da história. Nem mesmo fizeram anotações, como geralmente faziam. O caso da família Hodgson não foi “solucionado” por ninguém, ele apenas foi sendo esquecido gradativamente. As crianças cresceram e continuaram suas vidas. Janet se casou aos 16 anos e se mudou de casa. Seu irmão Johnny morreu de câncer aos 14, e sua mãe de câncer de mama em 2003. O paradeiro dos outros irmãos é desconhecido. Recentemente, Janet foi entrevistada devido ao sucesso de Invocação do Mal 2, e continua afirmando que os acontecimentos paranormais em Einfield foram tudo verdade.
“Ele vivia de mim, da minha energia. Pode me chamar de louca se quiser. Esses eventos realmente aconteceram. O poltergeist estava comigo e sinto que, de certa forma, ele sempre estará.”
Após a morte da mãe de Janet, uma mãe solteira chamada Clare Bennett e seus quatro filhos se mudaram para a casa que assombrou os Hodgson. A família Bennett afirmou a existência de uma presença estranha na casa e barulhos bizarros à noite, e acabaram se mudança em apenas dois meses. Atualmente, uma família que não quis se identificar ocupa a casa, e alega não ter presenciado nenhum atividade paranormal.
A família Hodgson |
Esse foi o caso sobrenatural com mais evidências registradas de toda a história, e é popularmente conhecido como o “Amityville britânico”. O caso gerou muitas desavenças, alguns acreditavam que era verdade, outras que tudo era uma grande farça, uma simples brincadeira de mal gosto de Janet e Margaret Hodgson. Estão disponível online as gravações, entrevistas, fotos originais e depoimentos de pessoas que presenciaram o caso (policias, vizinhos, jornalistas), caso alguém queira fazer sua própria investigação do caso.
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