Crítica: Meninos Não Choram (1999, de Kimberly Peirce)



  1999, definitivamente, não foi lá um ano muito fácil para a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas decidir sobre os indicados à cerimônia do Oscar, que se aproximava, tampouco quem iriam premiar dentre tantos projetos feitos com tanto empenho e dedicação, além dos novos talentos que surgiram no decorrer do ano. Principalmente quando novembro finda e, nos cinemas, chega aquele que os críticos considerariam um dos principais de seus favoritos para a vitória na glamorosa noite do Academy Awards: o docudrama ‘Boys Don’t Cry’, ou ‘Meninos Não Choram’ como título brasileiro. 




O longa possui uma das atuações mais querida pela crítica, chegando a ser, unanimemente, considerada a melhor daquele ano e, até os dias de hoje, uma das mais tecnicamente bem executadas, e principal trunfo do filme.



Protagonizado por Hilary Swank, o longa relata a absurda e triste história real (que ocorrera seis anos antes) de Brandon Teena, um homem transexual, de Lincoln, no estado de Nebraska, que se apaixona por Lana Tisdel, uma incomum, instável e melancólica garota de Falls City, um pacato interior nas proximidades; a quem ele conheceu por intermédio de John Lotter, Tom Nissen, Candace e Alison Folland, que ele conhecera num bar local antes. O grande problema não é o conflituoso e imaturo triangulo amoroso que se dá, veladamente, entre Brandon, Lana e John, mas sim o fato de que ninguém sabe que, na verdade, Brandon é, biologicamente, Teena, uma mulher, que tapeia a todos com seus documentos falsos e cheques sem-fundo para encobrir seus outros delitos um pouco mais graves. O que tornou tudo uma situação perigosa de vida ou morte, que culminou na tragédia iminente, levando em consideração a cultura transfóbica pela qual o local era famoso. 


                          


O documentário ‘Brandon Teena Story‘ também denunciou o crime acometido contra Brandon, mas nada tão suntuoso quanto o longa em questão, que funciona melhor no que diz respeito a problematização do preconceito e da LGBTfobia. Kimberly Peirce (sim, a mesma que dirigiu o último remake de ‘Carrie – A Estranha’, mas não se precipite) dirige e co-roteiriza competentemente, enfatizando os momentos mais íntimos de Brandon, sem aquela famigerada tremedeira de câmera de diretores amadores dos filmes com baixo orçamento, demonstrando nitidamente estar à vontade e ter tido um ótimo feedback com o elenco de atores durante as gravações, sem acanhamentos, sendo a responsável pelo filme não ter se tornado um água-com-açúcar clichê apelativo de temática LGBT, que é o que mais tem por aí nos dias de hoje. 





  O visual é apenas apropriado, a fotografia, inclusive, foi remontada para Dallas, mas fiel aos relatos feitos pela própria Lana “da vida real” sobre o local onde tudo aconteceu. O roteiro foi perfeitamente adaptado, o que me fez questionar a não-indicação do filme nesta categoria do Oscar, afinal, poucos filmes naquele ano tiveram um roteiro tão bem explorado e desenvolvido; o enredo, caprichado, foca no sentimento de Brandon por Lana, sentimento este que ele, até então, não conhecia. Peter Sarsgaard (‘A Órfã’, ‘Lanterna Verde’) é impressionante como o principal algoz de Brandon, John Lotter, entregando a melhor? uma de suas melhores atuações até hoje; Chloë Sevigny é soberba como a bela Lana Tisdel, trabalhando com o olhar e cumprindo bem o papel de suporte para o personagem protagonista da história, a meu ver, foi a maior concorrente de uma imbatível Angelina Jolie em ‘Garota, Interrompida’, o elenco também conta com Brendan Sexton III como Tom Nissen e Lecy Goranson como Candace, e Jeannetta Arnette, que rouba a cena em alguns momentos como a mãe desnaturada de Lana; mas vamos logo ao ponto: Hilary Swank. Para uma atriz, é uma honra ter a oportunidade de interpretar um personagem tão bem construído e desenvolvido em seus mínimos detalhes como foi este para Swank. É impressionante como ela adquiriu, sem nenhuma dificuldade, os trejeitos e principais características da personalidade de Brandon Teena, tudo com cuidado e total dedicação, a ponto de você esquecer que trata-se de uma mulher cis hétero que só precisou de uma semana vestindo o figurino do personagem, se apresentando para as pessoas na rua como “primo da Hilary Sawank”, antes das gravações, para interpretá-lo de forma magistral; merecendo o Oscar até mesmo antes da indicação pública, e cada prêmio do amontoado que levou. 


  A trilha sonora de Nathan Larson também merece destaque, principalmente pela escolha de sucessos como ‘Just What I Needed‘, do The Cars, ‘Tuesdey’s GoONE’ do Lynyrd Skynyrd e, claro, o clássico ‘Boys Don’t Cry’, do The Cure, e a bela canção original ‘The Bluest Eyes in Texas‘, dentre outros.
Você provavelmente irá derramar lágrimas ao lento subir dos créditos finais, mas é para o seu próprio bem. Recomendadíssimo! 

Nota: 9 

Título original: Boys Don’t Cry.


Direção: Kimberly Peirce. 


Elenco: Hilary Swank, Chloë Sevigny, Peter Sarsgaard, Jeannetta Arnette. 


Sinopse:

Baseado na história real de Teena Brandon, ‘Boys Don’t Cry’ relata a juventude de uma jovem garota que nasce com um corpo biologicamente feminino mas identifica-se com o gênero masculino. O filme retrata sua trajetória enquanto homem transexual e os embates que vive diante da sociedade. Do meio dos Estados Unidos, surge um ser com uma vida dupla extraordinária, um triângulo amoroso complicado e um crime que abalaria o interior do país.

                                                     TRAILER:

Fotos reais de Brandon Teena e Lana Tisdel, que inspiraram o filme:

                                   
                                   

                                       

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