Spotlight faz retrato urgente e atual de crimes que ocorrem dentro da igreja


Longa metragem conta a história real de grupo de jornalistas que levou a
público diversos casos de abuso sexual cometidos por padres em Boston 

A primeira cena de Spotlight – Segredos Revelados, está situada em uma delegacia de
Boston no ano de 1976, quando um padre, acusado de abuso sexual, após um
acordo, é libertado. Anos depois, uma equipe de jornalistas da cidade,
extremamente católica, diga-se de passagem, descobre que esse não era um caso
isolado, mas sim parte de uma série de acobertamentos de casos idênticos feitos
pela própria igreja. A história, que realmente aconteceu no ano de 2002, mostra
que o assunto ainda não pereceu já que, infelizmente, registros semelhantes
continuam acontecendo. Daí, a importância de transportar para as telas do
cinema, mesmo mais de 15 anos transcorridos, essa história com delicadeza e
cautela. 


Felizmente, o saldo final não poderia ter sido mais
positivo. O diretor Tom McCarthy (do ótimo O
Visitante
) constrói uma obra relevante cinematograficamente,
jornalisticamente e socialmente e, no entanto, nunca cai no didatismo. Seu
longa metragem ganha corpo e alma não só pela pungência e urgência do tema, mas
pelo cuidado que ele e seus personagens recebem, sem rótulos ou julgamentos e
muito menos sem o melodrama forçado que obras como essa correm o risco de cair.
A câmera de McCarthy procura seus atores de forma simples, deixando a história
fluir de forma quase natural e, mesmo assim, propiciando belos momentos. Em um
deles, um dos jornalistas passa em um taxi falando sobre suas investigações bem
em frente uma praça com crianças brincando, uma maneira sutil e delicada de
frisar que o perigo ainda é iminente. Além disso, Spotlight acerta ao não por em dúvida a fé, mas sim a igreja como
instituição (uma das vítimas, ao ser questionada sobre o motivo de continuar
frequentando a igreja, afirma que, apesar de tudo, não perdeu a fé), e não
eximir ninguém da culpa, nem mesmo a própria equipe de jornalistas, já que um
deles teria recebido denúncia dos casos alguns anos antes e as ignorado por acreditar
que as proporções eram menores. . 

Mas há outra força contundente e fundamental para o
sucesso de Spotlight: seus
intérpretes, que mergulharam no caso e conviveram com a verdadeira equipe do
jornal The Boston Globe. São atuações econômicas, trabalhadas, sobretudo, com o
olhar, muito mais com o que ouvem do que aquil  
o que falam. Três deles, em especial, se destacam: Liev Schreiber como o
novo editor do jornal, a única figura a não ser católica e por isso sempre
sendo questionado; e Mark Ruffalo e Rachel McAdams. Ele é responsável por
correr em busca de diversos documentos; ela é quem escuta a maioria dos relatos
das vítimas. Ambos, que se consideram católicos não praticantes, tomam
consciência da gravidade da situação e se veem obrigados a por em xeque suas
próprias criações familiares e a sociedade em que vivem (a avó da personagem de
McAdams, por exemplo, frequenta a missa semanalmente, reflexo do catolicismo
existente na cidade desde muito cedo). 

A meia hora final é de partir o coração, mas mesmo
assim serve para lembrar que, enquanto existirem pessoas dispostas a enfrentar
o sistema, ainda pode haver alguma esperança. Narrando como funciona o processo
do jornalismo investigativo e mostrando uma redação de maneira verossímil e sem
heroísmos, Spotlight é desde já um
dos filmes mais importantes e relevantes a surgir nos últimos anos, e se a
Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood quiser fazer
justiça, não deixará que ele saia sem o prêmio principal no Oscar do próximo
domingo (28). O século XXI já pode dizer que tem o seu “Todos os Homens do
Presidente”. 
NOTA: 9,5
Direção: Tom McCarthy
Elenco: Michael Keaton, Mark Ruffalo, Rachel McAdams, Stanley Tucci, Liev Schreiber
Sinopse: Grupo de jornalistas em Boston reúne milhares de documentos capazes de comprovar série de abusos sexuais cometidos por padres e acobertados pela igreja Católica. Baseado em uma história real.





Trailer:


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