Quando o diretor M. Night Shyamalan surpreendeu ao mundo com uma das maiores reviravoltas da história do cinema e conseguir indicar o astro Bruce Willis ao Oscar de Melhor Ator, com seu suspense ‘O Sexto Sentido’, público e crítica voltaram os olhos para o jovem cineasta indiano. Com este início promissor e estilo próprio, seu segundo filme Corpo Fechado, novamente com Bruce Willis, também foi muito elogiado, sendo um dos melhores e mais realistas filmes sobre superpoderes e heróis, narrado na forma de suspense. Já os bons Sinais e A Vila foram intrigantes, mas dividiram opiniões. Sua primeira grande derrota foi A Dama na Água, fábula romântica sombria que foi injustiçada e suas metáforas foram mau interpretadas. Já em Fim dos Tempos a autêntica ideia de fazer um filme sobre uma toxina que faz as pessoas se suicidarem em massa também foi rejeitada pela maioria. Mas o filme que praticamente enterrou o diretor por um tempo foi O Último Mestre do Ar, baseado no anime Avatar, que tem uma legião de fãs fervorosos. Estes fãs e a crítica não perdoaram as mudanças na história original que Shyamalan fez, mesmo que o filme tenha um excelente visual e interessantes metáforas filosóficas e espirituais. Depois da Terra afundou ainda mais este diretor, com seu filme mais fraco, um Jaden Smith (filho de Will Smith) pouco inspirado, onde nem a presença do pai fez com que houvesse química em cena. Seria este o fim de um dos cineastas mais promissores do cinema recente?
Eis que na temporada de filmes de terror para época de Halloween de 2015, o indiano volta aos holofotes, com um filme de baixo orçamento, com dinheiro tirado do próprio bolso do diretor. Este A Visita traz de volta a boa forma de Shyamalan, em um filme obscuro e irônico ao mesmo tempo. A ideia é simples, um casal de irmãos vai passar um tempo e conhecer seus avós, com quem nunca tiveram contato. Eles decidem documentar tudo, sendo assim um filme found footage, estilo por trás das câmeras como em Atividade Paranormal, R.E.C. ou A Bruxa de Blair. Porém o filme consegue bem mais do que apenas algumas cenas gravadas com uma câmera trêmula.
A começar que a direção é boa a ponto das imagens mais tensas serem apresentadas de maneira clara, mesmo que em algumas vezes não se veja bem o que acontece. Outro ponto muito importante foi a escolha do elenco. Os senhores que interpretam os assustadores avós se saem muito bem, passando realmente sensação de medo e de que algo está errado. Algo muito surpreendente é as crianças atuarem bem. Filme de terror com boa atuação é difícil, mas com crianças atuando bem é ainda mais. E aqui o casal de irmãos atuam extremamente bem, principalmente o menino, interpretado por Ed Oxenbould, que tem um carisma extremo com a câmera e o público (nós). O garoto é muito engraçado com seu jeito de atitude e esperteza, além de suas rimas de rap serem hilárias. E no final sua atuação surpreende, juntamente com o chocante desfecho.
O roteiro tem alguns pontos que beiram o brilhantismo, tecendo um paralelo entre o terror e a velhice. Fica a sensação de que envelhecer pode ser assustador, ao mesmo tempo em que o filme torna-se inacreditavelmente engraçado em alguns momentos. Um humor negro e sombrio, mas irônico e novamente fazendo referência à velhice. Como já mencionado o final é impactante, assustador e deve agradar amantes do terror. A Visita é um filme mais barato e simples, mas pode-se ver a mente de Shyamalan no filme o tempo todo. Aliado a uma bela fotografia cinzenta e azulada, é um ótimo entretenimento, que poderá te surpreender positivamente. Torcemos para que Shyamalan siga acertando. A Visita tem seus momentos engraçados, mas acima disso é um ótimo entretenimento para amantes de suspense e terror.
Direção: M. Night Shyamalan
Elenco: Ed Oxenbould, Olivia DeJonge, Kathryn Hahn, Benjamin Kanes