Demorou mas não tardou. Finalmente minha crítica de um dos filmes nacionais mais comentados do ano. A esta altura acredito que a maioria já está ciente do que se trata: o filme explora o início da carreira do lendário Renato Russo, vocalista e principal compositor da banda de rock ‘Legião Urbana’. Durou de 1982 até 1996, quando Renato faleceu vítima de AIDS. Mesmo hoje, depois de um bom tempo; continua sendo uma das bandas mais lucrativas da história do nosso país. De lá para cá praticamente todas gerações tem tido seus fãs de Legião. Sempre fui preconceituoso com o que é nosso: tanto no cinema como na música. Mas com o passar do tempo e as experiências que se ganha, fui adquirindo certo respeito por algumas produções chave do nosso país. Acho que foi por 2007 que comecei a gostar de algumas bandas nacionais, incluindo ‘Legião Urbana’, mas foi somente em 2011 que passei a reverenciar o trabalho de Renato Russo. Os motivos? Em 2011 me apaixonei pelo filme brasileiro ‘O Homem do Futuro’; um filme um pouco bobo é verdade. Mas devido à época que me encontrava, aos sentimentos envolvidos e à trilha sonora composta da música ‘Tempo Perdido’ do Legião; foram fatores decisivos para mim acabar me apaixonando por alguns trabalhos de Renato Russo. Agora que revelei que a letra da música ‘Tempo Perdido’ tem um imenso significado para mim, o que posso dizer do filme em questão,’Somos Tão jovens’?
Quer dizer que o filme é ruim? Lógico que não. O ruim é que ele acaba cedo demais. Acho que para quem se interessa pelo rock nacional que estourou em Brasília na época da ditadura e para principalmente os fãs de Legião Urbana; fica aquele gosto de “quero mais”. Mas aí começam os acertos. Por outro lado, o filme é juvenil e nada maçante. O fôlego jovem de Renato Russo é perfeitamente transparente na pele de Thiago Mendonça; que está brilhantemente parecido com o cantor em questão. De longe ele tem a grande atuação do filme, mostrando os lados de Renato Russo. Não o cantor idolatrado, mas o jovem confuso, boêmio e muitas vezes impulsivo. Um mero mortal como você ou como eu. E este tipo de evidência em um filme sobre alguém famoso é interessantíssimo. No fundo todos temos nossos problemas e nossos talentos. A questão é que alguns conseguem mostrar estes talentos de maneira inimaginável. E é isto que o filme retrata. Mas todo sucesso requer esforço, sacrifícios, perdas, tentativas e um pouco de excentricidade. E sobre ser excêntrico eu entendo! Todo este lado “humano”, este lado imperfeito de uma pessoa é algo sempre bem vindo para reflexões. E nisto o filme acerta em cheio.

Ponto forte do filme também é mostrar brevemente o início de outros artistas e bandas importantes, como Capital Inicial, Os Paralamas do Sucesso, etc. Todos estes começaram numa época conturbada, onde o regime militar afogava e acabava com todo feixe de luz e originalidade. Ousando e desafiando, artistas de todos os meios faziam sua parte contra a tirania. Amo esta parte da nossa história, onde músicos, como o próprio Renato, lutavam contra a violência através de suas palavras e expressões. Fica a lição de que as melhores coisas surgem através das tempestades da vida e da sociedade. O clima leve do filme em nada atrapalha ou ofusca seu lado social, onde percebe-se em certos momentos que o povo vivia em uma sombra obscura. Neste quesito, parabéns aos roteiristas.
Também devo salientar que o filme mostra de maneira brilhante como algumas das melhores músicas da banda surgiram. Algumas foram ao acaso, “meio que do nada” por assim dizer. Outras foram através de brigas, decepções ou trapaças (Renato gravava sem permissão algumas conversas, para depois em sua casa escutar e se inspirar). O filme começa bem com a música ‘Tempo Perdido’, que como já foi dito é minha favorita, e ela é a razão do título do filme. Mas há outra música que em certo momento fica em evidência: ‘Ainda é Cedo’. É dela estas palavras que iniciei minha crítica. No clímax do filme, lá pelo final; Renato Russo dedica esta canção à sua melhor amiga (e sua grande paixão hétero apesar dele ser homossexual?). Muito bem atuada por Laila Zaid, a personagem de Ana Cláudia (personagem fictícia baseada em diversos romances do cantor) seria grande parte do esforço e inspiração do artista central. Isso me remete a um fato muito discutido: por trás de todo grande homem (o que o torna grande seriam suas habilidades e feitos) há uma grande mulher (grande no sentido de causar de algum modo, seja positivo ou negativo, suas ações e obras)? Sim, isto dá o que pensar sobre tudo na vida, aqueles com quem temos contatos e as marcas que deixamos neles.

E torna-se inevitável eu pensar em certas coisas, o quanto o tempo passa rápido, estou ficando velho, algumas poucas coisas boas mudam, algumas boas pessoas se vão; mas o quanto o que é ruim continua aí. Não temos mais a ditadura, mas temos “liberdades” que nos aprisionam cada vez mais. E enquanto o mundo caminha nesta triste direção; de vez em quando encontramos alguém apaixonado pelo o que faz, alguém visionário, alguém com um dom, um poeta. Poeta não de textos, mas poeta da vida. Renato Russo (e alguns bons artistas de gerações diversas) são alguns exemplos. Meros mortais cheios de falhas (motivo de eu não idolatrar ninguém), mas que inegavelmente marcam a vida de alguém através de suas canções e palavras. Inevitavelmente eu loto a mente de pensamentos, alguns refletindo que um cara que um dia foi apenas um adolescente perdido e rebelde; hoje continua marcando gerações com um trabalho bem feito e dedicado. Fica aqui revelada a opinião deste humilde cinéfilo, jovem e sonhador: não há um dia sequer que eu não me esqueça de que meu tempo está passando. Espero que de algum modo esteja deixando minha marca. Afinal, como diz a canção: “nem foi tempo perdido – somos tão jovens!”

Temos nosso próprio tempo.
Direção: Antônio Carlos da Fontoura
Elenco: Thiago Mendonça, André de Carvalho, Antonio Bento, Bianca Comparato, Bruno Torres, Conrado Godoy, Daniel Passi, Edu Moraes, Henrique Pires, Ibsen Perucci, Kael Studart, Kotoe Karasawa, Laila Zaid, Leonardo Villas Braga, Maísa Lacerda, Marcos Breda, Natasha Stransky, Nathalia Lima Verde, Nicolau Villa-Lobos, Olívia Torres, Paulo Wenceslau, Rene Machado, Sandra Corveloni, Sergio Dalcin, Thiago Casado, Victor Carballar, Vitor Bonfá, Waldemiro.
Sinopse: Na trama, o jovem Renato Russo não tem tempo a perder: sonha ser um astro do rock. Mas ainda é cedo. Ele precisa estudar, dar aulas de inglês, tranquilizar os pais, curtir a turma, curar dores de amor e, principalmente, arrumar quem toque na sua banda. Do Aborto Elétrico à Legião Urbana, “Somos Tão Jovens” apresenta os primeiros acordes do mito Renato Russo e da turma do Rock Brasília, criadores de sucessos como “Que País é Este”, “Geração Coca-Cola”, “Eduardo e Mônica” e muitas outras músicas que marcam e transformam fãs geração após geração.
Será
A Cruz e a Espada
(lindo dueto entre Renato Russo e Paulo Ricardo)