APENAS O VENTO (CSAK A SZÉL, HUNGRIA, 2012)

(Crítica publicada por “Anjo
Da Guarda”, com seu nome original, no caderno de Cinema da Rede Bom Dia de
jornalismo, edição de Itatiba, São Paulo)


“Com câmera “afiada
na navalha” diretor mostra realidade vivida por minorias excluídas e deixa o
espectador desconfortável diante da tela. 



Aqui está o chamado Cinema
social, o Cinema guerrilheiro ou humanista. Embora no início do filme, um
pequeno texto deixa claro que o mesmo não tem por objetivo tomar partidos,
mesmo sendo inspirado por acontecimentos reais, a crueza e a realidade são tão
gritantes que é quase impossível não pensar de forma. Antes de mais nada temos
que lembrar, “Apenas O Vento (Csak a
szel, Hungria, 2012)”
, em cartaz no país, é o reflexo da situação de uma
nação que fez parte da cortina de ferro e que ainda não alcançou uma
expectativa de vida digna. Por isso o que se mostra na tela é uma grande e
triste realidade. O diretor Bence Fliegauf acertou o ponto, com câmera documental
e com um roteiro muito bem distribuído, apresenta o horror vivido na Hungria,
já há alguns anos, com o assassinato de famílias ciganas. Famílias estas que,
assim como tantas minorias foram excluídas da sociedade, tornaram-se o alvo de
grupos da ultra-direita e foram mortos a sngue-frio. O filme narra a rotina de
uma família formada por Mari (Katalin Toldi), seus dois filhos Anna (Gyongy
Lendvai), Riò (Lajos Sárkány) e o sogro doente (György Toldi). Seu marido (o
ator Gergely Kaszás)radicado no Canadá espera a esposa e mantém contato com os
filhos através da “web Cam”. No andar dessa rotina enxergamos toda a
precariedade em que vivem, amontoados, em casas pobres, em lugares sujos e
vivem da maneira que podem.

Existe um esforço pelas coisas, a
mãe se sacrifica em seus trabalhos de faxina e os filhos para estudar, mas são
sempre vítimas. Para expor mais a situação, numa das melhores sequências, vemos
policiais, no local de um crime, tendo uma conversa cínica sobre as situações
das mortes. Dizem eles “estão matando as pessoas erradas” e parecem saber quem
deveriam matar, ou seja, não os ciganos que trabalham; na verdade eles não
sabem que o menino Riò está ouvindo tudo escondido, um contraponto de
significância para elucidar o que o filme quer dizer. O filme caminha para uma
catarse plena, nos incomoda o tempo todo, mas não somente pelo uso da câmera
documental. O diretor fez questão de manter uma trilha durante toda a exibição,
um som minimalista que não nos deixa em nenhum momento e que dá todo o sentido
a narrativa. No festival de Berlim em 2012 o diretor foi premiado com o grande
prêmio do júri, o urso de prata, talvez por, sem exageros, conseguir ser humano
sem ser piegas. Além disso, ele tem um estilo relevante, sua câmera e seu tom
escuro lembram o Cinema do turco Nuri Bilge Ceylan, um dos mais importantes da
atualidade. Sobre o teor, é impossível não pensar na situação desses países que
estão atrasados, que podem não viver mais em ditaduras, mas que permanecem
mergulhados no atraso e na omissão total. Nos últimos anos uma série de
atentados as famílias ciganas entristeceu o país. Durante a coletiva de
imprensa em 2012 o diretor disse: “Os ciganos na Hungria vivem em uma
situação desesperadora desde a queda do antigo regime. Antes conseguiam
trabalho na construção e tinham tendência à sedentarização. Após as mudanças e
a vontade do governo de entrar em uma economia de mercado livre, os que mais
sofreram foram eles. Foi o grupo mais atingido pela erosão moral que seguiu a
erosão política”. A pergunta que fica, como sempre, mexe com o espectador:
até quando?
NOTA: 8





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