Crítica: O Festival do Amor (2020, de Woody Allen)

Para um diretor com quase 60 anos de carreira e mais de 50 filmes lançados, é difícil imaginar que algum lançamento representará uma mudança radical em seu estilo. Tratando-se de um dos diretores com a assinatura mais clara de sua geração, essa possibilidade torna-se ainda mais remota.

Não que seja impossível, pois o próprio Woody Allen – dezessete anos atrás, já com o status lendário que tem hoje em dia – realizou o suspense Match Point, que, apesar de estrelar figuras comuns em sua filmografia, se distanciou completamente do estilo que o consagrou, e é justamente considerado um de seus melhores filmes.

Após isso, os filmes lançados pelo diretor acabaram seguindo uma linha muito parecida com aquela que o consagrou nos anos 70 e marcou o resto de sua carreira – o que, por si só, não é um problema, visto que alguns desses filmes são muito bons. O Festival do Amor, ainda em cartaz em cinemas ao redor do Brasil, está longe de figurar entre os melhores filmes do cineasta, mas, da era mais recente de sua carreira, parece ser o mais passional entre seus últimos trabalhos.

A história do filme parece ter sido repetida por Woody Allen em inúmeros outros filmes: Mort (Wallace Shawn) acompanha sua esposa, a assessora de imprensa Sue (Gina Gershon), ao festival de cinema de San Sebastián, no qual ela acompanhará seu cliente Phillpe (Louis Garrel), um jovem e bem sucedido diretor de cinema. Lá, ele se encontra desconfiado da relação de sua esposa com o cineasta, e se envolve com a médica local Jo (Elena Anaya).

A maneira com a qual o diretor desenvolve a história também soa familiar em vários pontos: os inúmeros triângulos amorosos, o uso de um alter ego seu como protagonista, o humor auto depreciativo e os personagens neuróticos.

No entanto, há um elemento que diferencia o filme dos outros trabalhos de Allen, que é a maneira com a qual o diretor insere cenas que emulam o estilo de cineastas que o influenciaram, e o faz em momentos que amarram o estilo destes com o ponto em que a trama se encontra.

Enquanto seu protagonista anda pela bela cidade de San Sebastián, Allen homenageia o cineasta italiano Federico Fellini ao inserir uma cena tirada de Oito e Meio. Em um momento de contemplação sobre a morte, ele paga tributo ao sueco Ingmar Bergman ao inserir uma cena tirada de O Sétimo Selo. Além disso, há cenas que homenageiam François Truffaut, Luis Buñuel, Jean Luc Godard, Orson Welles, entre outros, e elas conferem ao longa uma personalidade muito bem-vinda em uma filmografia que vinha sendo direcionada por filmes cada vez mais parecidos.

Além disso, o diretor também acerta na mão do humor, que, além de cumprir sua função de fazer rir, também discute o cinema como arte, principalmente nas cenas aonde Mort critica a aclamação da obra de Phillipe, e se questiona sobre a importância do cinema político comparado ao que trata sobre as “grande questões”, como o sentido da vida, quem somos e para onde iremos.

Todos os atores se mostram altamente confortáveis em seus papeis, começando por Wallace Shawn, antigo colaborador do diretor, que, pela primeira vez, assume o protagonismo em um de seus filmes. Além de ter o tipo físico perfeito dos alter egos presentes na filmografia de Allen e o jeito desajeitado e neurótico que esses papéis requerem, o ator tem um timing cômico perfeito e um carisma gigantesco, que elimina qualquer chance do público não simpatizar com o personagem.

Como a bela, inteligente e culta mulher – outra personagem presente em quase todas as obras do diretor – Elena Anaya é um dos destaques do filme, e consegue transmitir uma sensibilidade e energia fundamentais para o funcionamento da personagem. Além dela, Louis Garrel convence como o tipo pedante e deslumbrado pela aclamação que seu filme recebe, e Gina Gershon também tem uma boa participação.

Apesar de sua falta de originalidade e de um roteiro que passa longe de estar entre os mais inspirados da carreira de Woody Allen, o diretor toma decisões que conferem uma personalidade ao filme que o diferencia de seus trabalhos anteriores e o transforma em uma parada necessária para os fãs de sua filmografia.

Título Original: Rifkin’s Festival

Direção: Woody Allen

Duração: 92 min.

Elenco: Wallace Shawn, Gina Gershon, Elene Anaya, Louis Garrel, Christoph Waltz, Enrique Arce, Georgina Amorós, Andrea Trepat, Tammy Blanchard, Richard Kind, Damian Chapa, Luz Cipriota

Sinopse: A assessora de imprensa Sue convence seu marido Mort a acompanhá-la ao festival de cinema de San Sebastián, no qual ela representará Phillipe, um jovem e aclamado diretor de cinema. Lá, Mort desconfia da relação de sua esposa com o cineasta e se apaixona por uma jovem médica local.

Trailer:

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