Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (2021, de Jon Watts) Bem-vindos ao Multiverso

A espera foi grande, as expectativas foram maiores ainda. Foi o projeto mais sigiloso do ano, com uma campanha de marketing agressiva, mas que tentava a todo custo manter certos segredos. Mas eis que finalmente estreia Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, um dos filmes mais aguardados dos últimos anos, ao menos se tratando do subgênero que lota os cinemas: super-heróis.

Claro, estamos em um momento delicado. A pandemia desestabilizou a vida de todos, o que acarretou em grandes crises nos setores do entretenimento. Grandes filmes viram suas bilheterias derreterem em finais de semanas fracos e uma segunda ou terceira semana de exibição já sem público. Os maiores sucessos recentes não chegaram a 600 milhões de dólares arrecadados. Mas o cabeça de teia, o amigo da vizinhança não apenas salvou a sua franquia, como o ano cinematograficamente falando. O filme arrecadou somente nesse final de semana de estreia mais de 600 milhões de dólares, provavelmente nos próximos dias fará 1 bilhão, o primeiro a ter tal feito na era pandêmica. É o filme que trará o público de volta aos cinemas, claro, se o vírus e as crises mundiais se manterem contidas.

O novo longa começa exatamente de onde o anterior parou, com a identidade do herói descoberta, sendo perseguido por fãs e haters, atrapalhando sua vida privada e daqueles que fazem parte dela. Esse é o motivo inicial de Peter procurar o Dr. Estranho, com o intuito de invocar um feitiço que o ajude. Óbvio que tudo dá errado e é aí, meus caros amigos, que o tão comentado e aguardado Multiverso cinematográfico da Marvel começa a finalmente (e de fato após alarmes falsos) se apresentar. Automaticamente nosso herói deve combater vilões vindos de outras realidades/filmes do Homem-Aranha.

Porém, o roteiro traz um amadurecimento ao colocar Peter em diversas encruzilhadas morais. Ele deve aprender com o peso das consequências de suas atitudes, e é por isso que os vilões não são descartados de início, levando a algumas interessantes interações e diálogos entre os personagens. Mas nas reviravoltas da trama, mais decisões difíceis surgem, assim como suas consequências. Aqui, o roteiro que poderia focar apenas na diversão, piadas, ação e nostalgia por si só, surpreende por trazer seriedade, elementos sóbrios das personas envolvidas, assim como apostar em momentos de sutileza e simplicidade, especialmente na química entre Peter, suas namorada e seu melhor amigo. Momentos esses muito humanos. Eles ainda são jovens, com seus devidos temores da idade e do futuro.

Tom Holland finalmente entrega carga e porte para seu Homem-Aranha, possivelmente definitivo. Sua atuação está no ponto e no auge de sua carreira. A força da natureza Zendaya finalmente é bem utilizada aqui na saga em ótimos momentos de sobriedade, assim como o sempre competente Benedict Cumberbatch com seu Dr. Estranho ambíguo, muitas vezes lembrando um vilão. Marisa Tomei também brilha em um momento chave emotivo e Willem Dafoe é mais uma vez brilhante como o Duende Verde, mais de 20 anos depois de o ter interpretado. Que ator, que personagem complexo! Existem inúmeras participações especiais que estão geniais e colocadas de forma mais natural, não apenas por fan service, mas faz sentido na trama. Um dos grandes destaques do longa de fato é a química extraordinária do elenco.

Se eu posso apontar apenas dois defeitinhos minúsculos, é que esperava a participação de mais personagens desse universo, mas que certamente virão nos próximos, pois já tivemos referências à eles aqui. E os efeitos especiais e cenas de luta à noite na metade final do filme às vezes escondem um pouco o que de fato está acontecendo, atrapalhando a apreciação dessa montanha-russa. É uma pena, já que as cenas à luz do dia na metade inicial do filme são deslumbrantes e de encher os olhos, especialmente aquela no mundo espelhado.

Spider-Man from Columbia Pictures’ SPIDER-MAN: NO WAY HOME.

A trilha sonora do maestro Michael Giacchino é extraordinária e embala bem todos momentos empolgantes da obra. Aliás, empolgação é o que não falta, tornando o filme uma verdadeira experiência de cinema. Mas que mesmo nesse espectro épico e de diversos mundos, gasta tempo em apresentar personagens complexos, bem construídos e com aproveitamento de pequenos momentos, muito bonitos e eficientes.

Homem-Aranha: Sem Volta para Casa finaliza esse difícil ano como um verdadeiro presente, um filme empolgante, divertido e inesperadamente emocionante, com uma carga dramática surreal e alguns momentos que farão os olhos dos fãs brilhar e o coração vibrar. Certamente ficará na memória.

Trecho com spoilers, se não viu não leia:

Ver o Demolidor da série da Netflix confirmado no MCU me alegra e já espero ver os demais personagens de lá, como Jessica Jones, Luke Cage, Punho de Ferro, Elektra e Justiceiro. Ver Andrew Garfield e Tobey Maguire de volta à pele do Aranha é uma comoção gigante, daquelas de só quem viveu essas eras vai entender. E a química entre eles e Tom Holland é espetacular, é realmente algo fascinante. Nos momentos simples de piadas ou trocando informações de seus universos, os três entregam tudo. E Garfield tem uma cena de redenção extraordinária. Para quê brigar para ver qual é o melhor quando temos três Homem-Aranha incríveis?

Título Original: Spider-Man: No Way Home

Direção: Jon Watts

Duração: 148 minutos

Elenco: Tom Holland, Zendaya, Benedict Cumberbatch, Jacob Batalon, Jon Favreau, Jamie Foxx, Willem Dafoe, Alfred Molina, Benedict Wong, Tony Revolori, Marisa Tomei, Andrew Garfield e Tobey Maguire.

Sinopse: Após ter tido sua identidade secreta revelada ao mundo por culpa das ações de Mysterio, Peter Parker vê a sua vida e a sua reputação desmoronar. Ao procurar ajuda de Stephen Strange para tentar consertar tudo, a situação só fica ainda mais perigosa, e Parker precisa descobrir o que significa ser o Homem-Aranha.

Trailer:

E você, já assistiu ao filme? Também vibrou e se emocionou?

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